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Comerciante diz ser filho de Del Nero e processa presidente da CBF

Presidente da CBF, Marco Polo Del Nero encara mais um processo na Justiça - Xinhua/Rahel Patrasso
Presidente da CBF, Marco Polo Del Nero encara mais um processo na Justiça Imagem: Xinhua/Rahel Patrasso

Guilherme Costa e Pedro Ivo Almeida

Do UOL, em São Paulo e em Belo Horizonte

08/11/2016 06h00

O presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Marco Polo del Nero, tem mais um motivo para frequentar os tribunais. Acusado de corrupção pelo FBI (polícia federal dos Estados Unidos), investigado por Fifa e Congresso Nacional por improbidade administrativa e violações de código de ética, o dirigente de 75 anos virou alvo também de uma ação de paternidade. Baseado no resultado de um exame de DNA realizado em 2010, o comerciante paulista Eduardo Henrique, 48, pleiteia inclusão do nome do cartola em seus documentos.

O exame, ao qual o UOL Esporte teve acesso, aponta 99,999997% de possibilidade de Del Nero ser pai de Eduardo. Amostras genéticas dos dois foram colhidas em laboratório de São Paulo, e o resultado foi registrado no dia 26 de maio de 2010. “Encontrei com ele duas vezes depois disso, mas a relação deu uma esfriada. Perguntei sobre o negócio da paternidade, mas ele só disse que mandaria ver. Ficou por isso mesmo”, relatou o comerciante. Procurado pela reportagem através de mensagens de texto, o dirigente não respondeu os questionamentos sobre o caso.

Apesar do silêncio de Del Nero, pessoas próximas ao cartola contaram ao UOL Esporte que ele se preocupa com o fato. Além de se tratar de mais uma polêmica com a Justiça, Marco Polo se incomoda com a repercussão interna e com uma possível disputa na família. 


Exame feito em 2010 mostra 99,999997% de probabilidade de Del Nero ser pai de Eduardo

Eduardo foi registrado por outro homem aos seis anos de idade. Soube apenas em 2010 a identidade do pai biológico: “Uma vez eu precisei de um documento da minha mãe. Mandei uma pessoa buscar, e ela disse que dentro havia uma surpresa. Até brinquei que uma surpresa dentro de um documento de carro só podia ser dinheiro. Quando chegou, era uma foto de três pessoas. Eu perguntei quem era, e ela me disse que um deles era meu pai. Eu não conhecia, e ela me disse que era o Marco Polo del Nero. Eu nem sabia quem era”.

“Sou corintiano, mas isso é mais porque meu pai de criação é corintiano”, prosseguiu o comerciante, que diz não ser muito ligado ao futebol: “Às vezes eu vejo uma partida do Corinthians, mas se você me perguntar nomes de jogadores eu talvez saiba só de um”.

Eduardo só soube em 2010 a identidade do pai

Segundo Eduardo, a mãe dele, que hoje vive em Mairinque (interior de São Paulo), conheceu Del Nero quando ambos estavam na faculdade – ela cursava odontologia na USP (Universidade de São Paulo), e ele estudava direito no Mackenzie. Ainda de acordo com o filho, o dirigente foi avisado sobre o fruto do relacionamento logo depois do nascimento, mas não demonstrou qualquer interesse.

A mãe de Eduardo casou-se depois disso, e ele foi registrado pelo padrasto. “Foi a pessoa que me criou e que eu considero meu pai de verdade. Ele me deu tudo que eu precisava. Nunca tivemos problemas, mas eu sabia que não era meu pai”, disse.

Em 1997, a mãe e o padrasto de Eduardo se separaram. Ainda assim, ela preservou até 2010 o sigilo sobre a identidade do pai biológico: “Ela tentou me contar, me chamou para almoçar, mas nunca coincidida de ficarmos sozinhos”.

Eduardo Henrique, comerciante que vive em Diadema, alega ser filho de Marco Polo del Nero - Guilherme Costa / UOL - Guilherme Costa / UOL
Eduardo Henrique, 48, diz ter descoberto aos 42 anos a identidade do pai biológico
Imagem: Guilherme Costa / UOL

Quando descobriu a identidade de Del Nero, Eduardo resolveu procurá-lo. Segundo o comerciante, foi necessário insistir muito até ser atendido. Quando conseguiu conversar com o dirigente e relatou sua versão da história, disse que o dirigente quis saber se a mãe ainda era viva e pediu para conversar com ela.

Depois, Eduardo e Del Nero tiveram pelo menos mais três encontros – a pedido do dirigente, todos aconteceram em território neutro. O contato mais frequente do comerciante, na verdade, foi com um assessor jurídico do cartola.

“Acho que aproximação não tem jeito. Já tentei, já liguei no Dia dos Pais, mas não tive sucesso. Ele nunca falou sobre a família. Nunca falou sobre nada”, disse Eduardo. “Ele me perguntou se eu queria saber a opinião dele e disse que o pai é quem cria. Eu respondi: ‘Se o senhor quer saber a minha, eu não tenho culpa nessa história’”, adicionou.

Por que Eduardo esperou seis anos para ir à Justiça

Há um hiato de seis anos entre o resultado do exame de DNA e a ação movida por Eduardo. O processo corre em segredo de Justiça, mas o comerciante pleiteia reconhecimento de paternidade. Usa como base, além dos 99,999997% de probabilidade, todo o histórico de contato com o dirigente em 2010.

O tempo que Eduardo levou para buscar a Justiça tem a ver com uma decisão recente do STF (Superior Tribunal Federal). No dia 22 de setembro deste ano, o tribunal admitiu que uma pessoa pode ter registro de dois pais – o biológico e o socioafetivo.

A decisão foi baseada num julgamento em que os ministros negaram recurso do pai biológico de uma mulher – ele alegava que ela havia sido registrada por outro homem e contestava direitos e herança e pensão.

“A consequência jurídica disso é ter a declaração de paternidade e constar o nome dele. Futuramente ele pode fazer parte de um inventário ou espólio. A ação busca isso”, disse Lúcio de Lyra Silva, advogado de Eduardo.