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L. Lima exclusivo: medo de palmeirenses ignorantes na web e ajuda de Neymar

Lucas Lima diz que até imita Neymar e fala sobre rivalidade com palmeirenses - Ivan Storti/ Santos FC
Lucas Lima diz que até imita Neymar e fala sobre rivalidade com palmeirenses Imagem: Ivan Storti/ Santos FC

Samir Carvalho

Do UOL, em Santos (SP)

08/11/2016 09h31

O armador Lucas Lima, principal jogador do Santos e também meia da seleção brasileira, concedeu entrevista exclusiva ao UOL Esporte. O camisa 10 explicou o seu estreito relacionamento com o atacante Neymar. O santista alega que foi amparado pela família Neymar em um momento difícil. Ele citou os “neymares” como seus conselheiros e admitiu que imita o craque do Barcelona dentro de campo ao escapar das faltas.

Além disso, Lucas Lima revelou por que parou de provocar a torcida do Palmeiras. O camisa 10 alega que tentou interagir com a torcida rival, mas foi alvo de maldades nas redes sociais e ficou com receio. O meia fez questão de dizer que os palmeirenses maldosos se resumem a internet, pois na rua, no dia a dia, ele recebe brincadeiras e até elogios do torcedor alviverde, com quem, pessoalmente, tem encontros até divertidos.

Lucas Lima ainda citou sua relação e evolução com Tite na seleção, a saudade de jogar ao lado de Robinho e Gabigol. O meia pediu a volta do “Pedalada” e diz que teve que mudar seu estilo de jogo após a saída de Gabriel. A boa notícia para o torcedor santista é que o camisa 10 admitiu pela primeira vez que pensa em até encerrar a carreira no clube.

Confira a entrevista na íntegra com Lucas Lima: 
 
UOL Esporte: O pai de Neymar fala que as piruetas do filho era a maneira dele se defender. Recebeu algum conselho dele a respeito disso? 
Lucas Lima: Vejo nos lances dele que é muito por proteção mesmo. Como conduz muito a bola, às vezes adianta e chega mais rápido que o adversário ainda. É uma forma de se defender, creio que está certo. Vejo dessa forma, também. Adiantamos a bola e ainda chegamos antes do adversário. Ele te dá um carrinho, então o salto é para se proteger automaticamente. Não é conselho, não, vejo ele jogando desde a época do Santos. Sempre gostei de ver jogos, aprender um pouco, pegamos essa esperteza aí. Alguns vão falar que é malandragem, mas muitas vezes é uma proteção para evitar lesão.
 
UOL Esporte: Família Neymar que cuida de sua carreira?
Lucas Lima: Conversamos, mas não tem nada certo por outras coisas que preciso resolver, algumas pendências. Preciso resolvê-las para poder fechar.
 
UOL Esporte: Como a sua relação com o Neymar? 
Lucas Lima: Tenho um carinho muito grande por ele, pois ele sempre me acolheu e me tratou bem. O pai dele sempre me aconselhou, assim como aos meus pais da melhor forma possível. Tinha o meu respeito, mas depois que fez isso ganhou ainda mais. No futebol são tantas pessoas que não confiamos, que acabam perdendo a confiança e ele apareceu. Confiamos nele, mas não temos nada assinado. Sempre conversamos, meu pai sempre conversa com ele. Ele tem auxiliado a mim e meu pai um pouco na minha carreira, tem nos ajudado.
 
UOL Esporte: Eles ajudam em seu desejo de jogar na Europa?
Lucas Lima: Pode ser que futuramente ajudem, ou não. Mas quem ajuda sou eu mesmo, pelo que faço dentro de campo. Ele falou para mim que só poderá nos ajudar se eu ajudar com o que faço em campo. Então, é a verdade, jogador é cobrado pelo que faz em campo, esse é o meu futuro. Enquanto render, estiver na seleção, mostrar um nível bom de futebol vou ter o sonho de jogar na Europa. E também espero sempre corresponder. 
 
UOL Esporte: Seu futebol hoje é para seleção brasileira?
Lucas Lima: Acho que esse ano tive algumas lesões que me fizeram ser irregular, mas creio que vim de uma sequência muito boa. Quando aparecem algumas derrotas inesperadas, tem que culpar alguém. Vejo da melhor forma possível, sei da minha responsabilidade. É legal receber críticas construtivas de alguém importante, mas sou o primeiro a me criticar e me autoavaliar depois das partidas. Sei o que posso render, o que não posso. Seleção é conquista e eu conquistei este espaço. Para quem acompanha os meus treinos lá, tenho feito bons treinos. E fico feliz de ter a confiança do treinador, de estar nesse momento. As pessoas podem dizer que não é o meu melhor momento no clube, mas fico feliz por ter um treinador que me avalia de outra forma, que sabe do meu potencial, que avalia o que apresento nos treinos da seleção.
 
UOL Esporte: Ficou chateado com alguma crítica? Alguma que você sentiu um pouco mais?
Lucas Lima: Estou falando de um modo geral. Estamos fazendo um grande ano. Claro que sempre queremos mais, gostaríamos de estar na final da Copa do Brasil. Quando fomos eliminados bateram muito na gente, como se não tivéssemos fazendo nada pelo Santos. Não é bem assim, está sendo um ano em que estamos honrando a camisa do Santos, brigando pelo título brasileiro. Nosso grupo se fortaleceu com essas críticas, está dando a volta por cima e se superando a cada jogo.
 
UOL Esporte: Você se considera mais cobrado que os demais?
Lucas Lima: Não ligo que me cobrem, de verdade. Prefiro que me critiquem, do que cobrem os meus companheiros. Creio que se for uma crítica justa, não vejo problema algum. É a nossa profissão, o que escolhemos. No jogo em que jogar bem, sou o melhor, mas no que for mal, o pior. É jogo a jogo, nem sempre quando ganhamos sou o melhor, nem sempre quando perdemos o pior. É continuar trabalhando e dar a resposta dentro de campo.
 
UOL Esporte: Tite e Dorival, tem semelhança do trabalho dos dois?
Lucas Lima: São muito bons, treinadores atualizados. Aprendi muito taticamente e tecnicamente com o Dorival, ele fez o nosso time jogar de uma forma diferente. Tem um pensamento europeu e moderno, consegue implantar posse de bola, saída. Nosso time tem muito o dedo dele, mesmo com todas as dificuldades que temos tem que dar valor. E o Tite todos já falavam bem dele, é um vencedor pelos clubes por onde passou. Comentei com o pessoal tenho voltado a seleção com outra cabeça mais evoluída, tecnicamente e taticamente. Em uma conversa com ele agradeci por voltar com a minha parte tática melhorou. Tento de uma forma ou outra mostrar para o pessoal o trabalho, eles sempre perguntando. É um prazer trabalhar com os dois treinadores.
 
UOL Esporte: Como foi o papo com o Tite? Vocês tiveram jogos polêmicos entre Santos x Corinthians. 
Lucas Lima: Ele é muito amigo. Têm muitos do Corinthians, eles falavam que na Vila tínhamos um motor a mais porque corríamos muito. Mas lembrávamos dos jogos em São Paulo, também, que o bicho pegava. Com o Tite primeiro contato foi de treinador, deu para ver que foi emotivo e muito inteligente. É só ver os resultados em um curto prazo. Tem muito o que passou para nós fazermos. Ele e a comissão deixam as coisas mastigadas para nós, fáceis de entender. Mesmo com pouco tempo de treinamento há resultado, sabemos que há comandante na seleção e vamos seguir o que colocar para nós.
 
UOL Esporte: Seleção muito com relação ao Dunga?
Lucas Lima: Mudou o estilo de trabalho, a filosofia são diferentes. O ambiente não, era bom. Claro que com a derrota fica ruim e com a vitória melhor, mas o ambiente nunca deixou de ser alegre, verdadeiro e leal. Aprendi muito com o Dunga, sempre serei grato por ter me dado a primeira chance na seleção. Aprendi com o Tite, também. Não estava dando certo com o Dunga, então sabemos como é o futebol. Não era totalmente culpa dele, futebol tem essas mudanças. Fico feliz de continuar com o Tite. 
 
UOL Esporte: E o encontro com os palmeirenses, que você provocou?
Lucas Lima: Mais o Gabriel Jesus, mas é brincadeira. Brincamos um com o outro, é um ambiente muito bom. Ele sabe que dentro de campo seremos rivais sempre, cada um defenderá a sua equipe, mas estamos na seleção e independentemente do clube em que cada um joga, somos seres humanos, temos um coração bom, não tem essa maldade. Esse foi o meu medo, por isso parei com as redes sociais, não queria criar essa maldade. O meu intuito era brincar para ter um ambiente bom, poder interagir os jogadores santistas e os torcedores do Palmeiras. Estava fazendo uma brincadeira com eles e eles comigo, nada contra o Palmeiras e a torcida do Palmeiras.
 
UOL Esporte: Não dá para levar isso de uma maneira light?
Lucas Lima: Acho que não, as pessoas veem isso de outra forma. Muita gente é ignorante para isso e acabam levando para um lado maldoso. Quando as pessoas começam a te desejar mal, falar da sua família, não preciso disso, de ter várias pessoas me desejando mal. Até porque não desejo isso para elas.
 
UOL Esporte: Já teve na rua torcedores que te apoiaram? 
Lucas Lima: Os dois (provocaram e apoiaram), tem torcedor que fala que sou folgado, mas que jogo muito. Pelo menos a maioria vem com carinho. São os que ficam mais escondidos (os maldosos), nunca peguei um na rua. Alguns já falaram que sou bom, mas que não deu na Copa do Brasil. Levo na esportiva, sempre com respeito.
 
UOL Esporte: Por que você provocou tanto o Palmeiras? Um dia jogaria lá?
Lucas Lima: Não tenho essa rivalidade de falar que eu nunca vou jogar em tal clube, nunca sabemos o dia de amanhã. Amo jogar pelo Santos e estar fazendo a minha história aqui, mas sei que enquanto eu render serei bem visto. A partir do momento que não render, algo pode acontecer tanto pelo lado bom, como pelo lado ruim.
 
UOL Esporte: O Palmeiras tentou te contratar um período. Como foi?
Lucas Lima: Fiquei feliz por ser um time grande me procurando, mas foi mais uma tentativa. O presidente do Santos não me liberaria para um rival, não faria isso. Na época do Sport, também, teve um interesse de eu ir para lá emprestado, mas o Santos me comprou.
 
UOL Esporte: Corinthians também tem interesse. Chegou algo?
Lucas Lima: Chegaram algumas coisinhas, sim, mas nunca tão claro, que tal clube me quer. Nunca levei tão a sério, pois não oficializaram ao Santos.  Não [é recente?].
 
UOL Esporte: Sua ideia é só jogar no Santos e ir para a Europa?
Lucas Lima: Meu desejo é sair do Santos para a Europa, se possível. Mas no futebol nunca podemos falar não.
 
UOL Esporte: E a renovação com o Santos? Como está?  
Lucas Lima: Tiveram duas conversas, tem tudo para acontecer. Claro que não deram tanto andamento, mas a primeira conversa já teve, vamos ver até o final do ano o que vai acontecer. Se puder renovar até o resto da minha vida, renovo, sou muito feliz aqui. As pessoas acham que quando falam que você quer jogar na Europa é ingratidão, mas muito pelo contrário, sempre serei grato ao Santos. As coisas começaram a dar certo no Inter e no Sport, mas aqui apareci para a seleção e o futebol.
 
UOL Esporte: Gabriel foi embora, hoje ficou sem o jogador para lançar bola. Sente falta?
Lucas Lima: Falei sobre isso esses dias. Na época que tinha o Gabriel e o Geuvânio, eram jogadores agudos, que sempre estavam fazendo a movimentação para mim, então facilitava muito a minha vida. Dou o drible e procuro o passe, dá mais dificuldades. Os jogadores do nosso elenco facilitam pela técnica, mas preciso me adaptar pelo meu estilo de jogo. Dificultou um pouco, preciso procurar o Ricardo (Oliveira). Tive que mudar mesmo, reconheço. Não é verdade que não dou assistência ou não rendo por isso, mas o nosso estilo é diferente. É uma questão de adaptação.
 
UOL Esporte: Santos e Robinho voltaram a namorar. Seria interessante essa volta?
Lucas Lima: O Pedalada está fazendo falta para nós. Tenho falado pouco com ele, na verdade. Falei esses dias pelo Instagram, mas fico feliz pelo momento dele. Queria que estivesse aqui, iria ajudar com a sua experiência, é um craque de bola. Nosso time precisa de um jogador do nível dele para dar uma encorpada, uma experiência. Claro que ele joga em uma posição que quem joga está dando conta do recado. Um jogador assim, dessa grandeza, com o poder de decisão, está fazendo falta.
 
UOL Esporte: Se arrependeu de recusar uma proposta mais do que milionária da China?
Lucas Lima: Não me arrependo, não. Estava em um momento muito feliz no Santos, tinha chegado a seleção. Claro que se você parar para pensar: em 12 meses lá na China, eu já teria recebido dez vezes mais do que aqui, penso nisso. Não me arrependo, não, orei bastante a Deus para me dar direção, conversei com a minha família. E pesei tudo: o clube em que estava, a história que estava vivendo, o que estava conquistando. Fiz essa escolha, não me arrependo
 
UOL Esporte: A seleção pesou?
Lucas Lima: Pesou muito pois na época tinha ido para alguns amistosos para a seleção, mas não tinha conquistado o meu espaço. Então, queria essa continuidade, conquistar o meu espaço dentro da seleção. Tinha muito medo de ir para lá e perder espaço, não ser convocado novamente. Estava vivendo um grande momento no Santos e aqui tinha tudo para continuar nas próximas convocações. Então, se parar para pensar, a seleção sempre foi o meu sonho, chegar a um clube grande, ter a família ao meu lado, essas coisas prevaleceram e não trazem arrependimento, independentemente do que vai pesar amanhã. Meu pai sempre me falou que o dinheiro não era tudo na vida, estou muito feliz no Santos, minha família gosta muito daqui. Foi a escolha certa.
 
UOL Esporte: O Renato Augusto na seleção fez você mudar o seu conceito da China? 
Lucas Lima: Se receber uma proposta? Sem dúvida. Você muda porque tem experiência, vê jogadores indo para a seleção. O pessoal fala as dificuldades de lá, quais são as coisas boas. Todos vão falar sobre o salário, mas não é só isso, falam da estrutura. A primeira vez que recebi a proposta o meu conhecimento da China era muito distante do conhecimento que tenho hoje. Hoje eu conheço mais e sei as cidades ruins, as cidades boas, então sem dúvida acaba me aproximando, sim.
 
UOL Esporte: Seu sonho na Europa é só Real e Barcelona?
Lucas Lima: Eu sonho, se falar que não sonho é mentira. Sonho jogar nesses times. Vou tentar ao máximo conquistar esse sonho e objetivo. Se não der, parto para outra coisa, mas, por enquanto, penso em estar em um grande da Europa. Hoje pode pesar outras coisas, também, mas estou tranquilo, tenho contrato com o Santos. Vamos ver o que o futuro nos reserva.
 
UOL Esporte: Você está na turma do pastor (Ricardo Oliveira) ou do pagode?
Lucas Lima: Já fui da época de estar saindo, mas hoje estou bem tranquilo, sou muito caseiro. Nosso grupo é muito tranquilo, fora de campo cada um faz o que quer. Hoje estou tranquilo, tentando buscar a Deus de alguma forma. Precisamos buscar sempre, independentemente da religião.
 
UOL Esporte: Qual foi o melhor com quem já jogou?
Lucas Lima: O Neymar.
 
UOL Esporte: E o marcador mais chato?
Lucas Lima: O marcador que, sempre, não gosto de jogar é o Willians, hoje do Corinthians, era sempre chato na marcação. Outro também na seleção é o Luiz Gustavo, um cara sempre na cola. O Willians marca muito bem, era difícil passar dele, incomodava.
 
UOL Esporte: Você provoca mais ou é mais provocado dentro de campo?
Lucas Lima: Provoco bastante, também. Tem jogo que sou eu um pouco mais. Tem jogo que somos provocados, aí provocamos ainda mais.
 
UOL Esporte: Tem alguma coisa no futebol que te desanima? 
Lucas Lima: O jogo do Inter foi uma coisa muito estranha, sem sentido ser expulso por aquilo. Fui o primeiro jogador a ser expulso por fazer cera no primeiro tempo. O jogo estava empatado. Nosso time estava no G4, lutando pelo título, por que ia fazer cera? Fiquei sem entender, depois você fica triste. Melhor que não fiz nada em campo, não falei nada para ele.
 
UOL Esporte: Quais as principais dificuldades no início de carreira?
Lucas Lima: Sem dúvida. o primeiro clube é muito difícil. Por não ter muitos contatos jogava sempre por escolinhas em Marília, mas no interior é difícil ter contatos para fazer o teste em algum lugar. Tentei no Marília, nunca dava certo. Sabia que a escolinha me ajudava na minha técnica, mas que teria que sair para conseguir realizar o sonho de me tornar um jogador de verdade. Logo, conheci um amigo, que me levou para Chapecoense. Sempre foi muito por amizade, por gostarem do meu futebol. Sem conhecer e sem nada meti a cara e fui embora em busca do meu sonho. Fico feliz porque não foi fácil. Saí de Marília e fui para Chapecó, ainda novo, sozinho, de ônibus, um dia todo viajando. Lá fiquei um ano, me serviu de experiência. Não foi como eu queria que fosse, mas foi um ano muito legal. Fiz amigos que me ajudaram a fazer testes, ir para outros clubes. Um amigo de lá, o pai era treinador do Rio Preto, acabou arrumando para mim esse teste. Depois saí do Rio Preto, que não tinha minha categoria, e fui para o Bonifácio. Foi difícil lá porque não tinha estrutura, o meu pai me ajudou muito. Falou para eu ficar, que iria me ajudar. Depois fui para o América-SP, joguei a Copa São Paulo, fiz mais alguns testes, mas por minha idade ter estourado ficou difícil. Fui para a Inter de Limeira, fiquei 4 anos, depois cheguei ao Inter, Sport e Santos.