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Torcedores corintianos são presos em São Paulo acusados de ameaçar juíza

Juíza que decretou a prisão de 31 corintianos por briga no Maracanã recebeu ameaças - Armando Paiva/AGIF
Juíza que decretou a prisão de 31 corintianos por briga no Maracanã recebeu ameaças Imagem: Armando Paiva/AGIF

Bruno Thadeu e Fábio de Mello Castanho

Do UOL, em São Paulo

08/11/2016 07h28Atualizada em 08/11/2016 13h02

Sete torcedores corintianos foram detidos na manhã desta terça-feira (8) acusados de ameaçar a juíza Marcela Assad Caram, que decretou no dia 25 de outubro a prisão preventiva de 31 pessoas envolvidas na briga no Maracanã durante o jogo entre Corinthians e Flamengo. A operação realizada em conjunto pela Polícia Civil de São Paulo e do Rio de Janeiro está em andamento e os suspeitos estão sendo encaminhados para o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da capital paulista.

Ao todo, foram emitidos 21 mandados de busca e apreensão e dez de prisão temporária. Eles são acusados de associação criminosa e coação no curso do processo.

Segundo a Polícia Civil do Rio de Janeiro, um dos torcedores que tiveram a prisão decretada esteve entre os envolvidos no caso da morte do adolescente Kevin Espada, atingido por um sinalizador na cidade de Oruro, na Bolívia, em 2013. Outros três também têm passagens por crimes relacionados à intolerância desportiva. 

As ameaças feitas em mensagens no Facebook da juíza começaram no dia seguinte à decisão da magistrada em converter a prisão dos 31 corintianos de flagrante para preventiva, no dia 25 de outubro. Todos os envolvidos seguem presos no Rio de Janeiro enquadrados por crimes de lesão corporal, dano qualificado, provocar tumulto em locais de jogos, resistência qualificada e associação criminosa.

Titular da Drade (Delegacia de Repressão e Análise aos Delitos de Intolerância Esportiva), a delegada Margarete Barreto destacou ao UOL Esporte que o balanço e mais informações sobre o caso serão divulgados ao final da operação que começou por volta das 5h (de Brasília). 

"São torcedores de organizadas e também torcedores comuns. As diligências estão sendo feitas e mais pessoas poderão ser detidas. Esse procedimento foi possível graças à ação das polícias de São Paulo e Rio de Janeiro”, disse.

A operação desta terça-feira é coordenada pela delegada Daniela Terra e é resultado de uma investigação desenvolvida pela Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) da Polícia Civil do Rio de Janeiro.

De acordo com a investigação, Marcela Caram e seu marido receberam diversas mensagens de cunho ofensivo e ameaças, o que segundo a delegada se configura em uma conduta inadmissível em um Estado democrático de Direito.

“As ameaças proferidas contra a juíza e sua família com o objetivo de intimidá-la na prática de seu ofício são um afronta ao Poder Judiciário", disse Daniela Terra, em comunicado divulgado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro.

Mensagem de torcedor para juíza - Reprodução - Reprodução
Gaviões apresenta mensagem que supostamente foi enviada para juíza. Polícia não confirma
Imagem: Reprodução

O UOL Esporte teve acesso, com pessoas ligadas a dois presos nesta terça, a duas mensagens supostamente enviadas por torcedores para a juíza.

A polícia não informa se foram essas as mensagens que culminaram no pedido de prisão dos dois torcedores ou se houve outras.
 
Em uma delas, um torcedor escreveu em sua página no Facebook. 

O texto vem acompanhado de uma foto da juíza com a camisa do Flamengo:

Suposta mensagem enviada por torcedor - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

“Essa é a juíza Marcela Caram, a mesma que hoje decretou a prisão de 31 torcedores corintianos. Qualquer semelhança é mera coincidência! Torcedor organizado não é vagabundo”.
 
Na outra, o torcedor escreve para a juíza:
 
“Que moral que você tem para nos julgar com essa camisa”. “Por isso que o Rio de Janeiro é essa m..., a vergonha do Brasil”.

 

Gaviões vê exagero em prisão de torcedores

A Gaviões da Fiel, em nota oficial, informa que a polícia agiu com rigor ao prender torcedores após mensagens na web. Segundo comunicado da torcida organizada do Corinthians, as mensagens não teriam relação com ameaças de morte

“Não há nenhuma ameaça ou conteúdo que justifique a prisão. Apenas um relato de desabafo dos torcedores por conta da decisão”, diz comunicado.

 

Confira comunicado completo da Gaviões:

Os Gaviões da Fiel Torcida informam que não tiveram acesso ao processo das seis prisões realizadas na manhã desta terça-feira (8), mas contribuirão com as informações necessárias aos órgãos responsáveis. Desde o início a diretoria se colocou à disposição para maiores esclarecimentos.

A princípio, de acordo com o apurado até agora, essa ação apenas reforça a indignação da diretoria dos Gaviões da Fiel com a manutenção da prisão arbitrária dos 31 torcedores no Rio de Janeiro. Mais uma vez, decisões judiciais são utilizadas de forma política para criminalizar os torcedores organizados.

 

Tivemos acesso às mensagens que, segundo consta no pedido de prisão, apresentam "ameaças" à integridade da família da juíza Marcela Assad Caram, que decidiu pela a manutenção da prisão dos 31 inocentes. Conforme consta nas imagens, não há nenhuma ameaça ou conteúdo que justifique a prisão. Apenas um relato de desabafo dos torcedores por conta da decisão.

 

Não gostar dos questionamentos ou do conteúdo das mensagens recebidas é um direito de qualquer cidadão. Porém, é de se espantar que decisões judiciais que determinam a PRISÃO de uma pessoa possam ter sido baseadas no conteúdo expresso nas imagens abaixo. Tais atos mais se assemelham a um Estado de Exceção do que propriamente justiça. Mais uma vez, reiteramos que a diretoria dos Gaviões da Fiel está à disposição para qualquer esclarecimento que possa colocar em liberdade os 31 torcedores inocentes.

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