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Ganso na Espanha repete o Brasil: críticas na marcação e elogio no ataque

Mariano e Ganso posam para foto em deslocamento de ônibus do Sevilla - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

João Henrique Marques

Do UOL, em Barcelona

10/11/2016 06h00

Paciência. É a palavra-chave para Paulo Henrique Ganso no Sevilla. Uma assistência de calcanhar, a visão de jogo, a técnica apurada. Nada disso ainda é capaz de o transformar em titular do time espanhol. A debilidade física apresentada, o sucesso inesperado do francês Nasri e, principalmente, a dificuldade em acompanhar a linha de defesa, o deixam distante da esperada vaga. Por lá, ainda não há quem defenda a posição.

Comissão técnica e dirigentes convivem com anseio por parte da torcida para que o meia brasileiro tenha mais tempo em campo. A pressão, no entanto, não interfere na postura do treinador argentino, Jorge Sampaoli. Jogo grande, decidido em detalhes, Ganso será reserva até que demonstre maior capacidade defensiva.

Para ter Ganso em campo em 25 minutos contra o Barcelona, no último domingo, a tática usada por Sampaoli foi a de deixar o brasileiro como o primeiro homem da linha de frente da marcação. A função era quase que uma nulidade defensiva, somente fazendo sombra em zagueiros. Foi assim que o defensor francês do Barça, Umititi, passou pelo meia com pouco esforço e ainda foi até a entrada da área arriscar uma finalização. 

"Nos minutos de Ganso em campo todos ficaram boquiabertos. É craque, mas joga em um ritmo particular. Não defende como os outros e não pode ser titular. O Sampaoli valoriza a qualidade do Ganso próximo à área, só que isso não basta", disse o comentarista espanhol da TV "Bein Sports", Toni Padilla.

Ganso deixou fãs do Sevilla eufóricos quando, vindo do banco de reservas, deu uma assistência de calcanhar para um dos gols da vitória diante do Alavés por 2 a 1, pelo Campeonato Espanhol, no dia 1 de outubro. O fato não o aproximou da titularidade do time. Algo que só aconteceu na semana passada, em jogo contra o Dínamo de Kiev, pela Liga dos Campeões, por conta de uma lesão muscular francês Nasri.

"O Nasri se converteu em novo Banega (meio-campista ídolo da torcida e que se transferiu para a Inter de Milao nesta temporada)  rapidamente pela raça demonstrada. Encaixou. É um cara que saiu do Manchester City e tem claro: vim para estar em grandes jogos. Por isso contra o Barcelona disse que já estava 100% e entrou em campo, não deu espaço para outro. O Ganso mesmo quando foi titular, pediu para sair com 70 minutos. Não tinha a força física necessária. Vai precisar de mais paciencia. Caso não fique nervoso, cansado, ansioso, e trabalhe para entrar no sistema, pode se converter em grande ídolo de uma torcida que adora brasileiros. Foi assim com (Daniel) Alves, Renato e Luis Fabiano ",  destacou o jornalista Jesus Márquez, do "Canal Sur" de televisão e rádio.

Ganso disputou oito jogos com a camisa do Sevilla, dois deles como titular. Foram 346 minutos em campo, 22,7% dos 1.530 minutos desde que foi relacionado pela primeira vez por Sampaoli.

"Ele estava à altura do time. Foi justamente pelo futebol que ele apresentou que foi contratado. A formação deste plantel está sendo construída em cada jogo. Vimos um Ganso muito bem, assim como Kranevitter e Kiyotake. Por isso, espero que a concorrência interna nos permita escolher sempre entre esses bons jogadores", disse Sampaoli após a partida de Ganso como titular diante do Dínamo. 

Para conviver com o banco de reservas, Ganso demonstra sinais de amadurecimento. O meia, que já se recusou a ser substituído por Dorival Júnior em uma final de Campeonato Paulista pelo Santos em 2010 - treinador teve que trocar a alteração -, perdeu a posição de titular do São Paulo em dois jogos da Libertadores neste ano, e soube aceitar a decisão do então técnico, Edgardo Bauza, sem reclamar. O mesmo faz atualmente com Sampaolli. Ninguém tem relatos de queixa do brasileiro.

A vida em Sevilla: já até deu entrevista em espanhol

Um pagamento parcelado de 2 milhões de euros (cerca de R$ 7 milhões) foi efetuado pelo Sevilla para Ganso buscar casa na cidade e ter outros custos cobertos. A escolha da moradia foi rápida. O meia optou por uma casa destinada ao atacante francês Kevin Gameiro - transferido do Sevilla para o Atlético de Madri nesta temporada -). O local é em bairro distante do centro.

A opção de maior isolamento faz parte de um desejo de Ganso. A escolha foi a de curtir a cidade morando com a mulher Giovanna Costi e o filho Henrico, de 2 anos. Giovanna está grávida.

Ganso teve adaptação rápida em Sevilla  O maior amigo é o lateral direito brasileiro Mariano. O meia ainda ganhou credibilidade no clube por conta da capacidade demonstrada com o rápido aprendizado do idioma espanhol, sem fazer aulas. Tudo por não deixar de arriscar palavras. 

A primeira entrevista toda em espanhol ele já superou ao falar com a imprensa local depois da atuação contra o Dínamo de Kiev por alguns minutos.

Só que o trabalho de divulgação de imagem não anima Ganso. O jogador que havia optado por levar um assessor de imprensa para Sevilla, acabou o dispensando pouco após a chegada. De momento, a escolha é a de estar calado, desfrutar a cidade e família, e lutar pela titularidade.

"É pouco a pouco. A torcida está conhecendo o meu futebol e estou calmo para seguir em busca de mais oportunidades. O objetivo é me unir a um grupo que é forte e lutar por títulos", disse Ganso na entrevista aos espanhóis.