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Para Trump ver: EUA contam até com filho de imigrante ilegal para ir à Copa

Carlo Allegri/ Reuters
Imagem: Carlo Allegri/ Reuters

Do UOL, em São Paulo

11/11/2016 06h00

Os EUA jogam contra o México pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo da Rússia nesta sexta-feira (23h de Brasília) em um confronto que remete às eleições americanas. Não bastasse a incerteza da relação internacional entre os dois países após a eleição de Donald Trump para a presidência, a própria seleção norte-americana que entrará em campo está bem longe do que propôs o novo presidente na campanha.

Um dos pontos mais polêmicos do plano de governo do empresário fala sobre imigrantes, com promessas de diminuir o fluxo de pessoas que chegam ao país, combater os imigrantes ilegais e “priorizar empregos, salários e a segurança do povo americano”. A seleção de futebol dos EUA vai contra a maioria desses pontos. A começar pelo treinador.

Quem comanda o time, desde 2011, não é um americano, mas o alemão Jurgen Klinsmann. Mais do que isso: dos 11 membros de sua comissão técnica, incluindo olheiros e equipe médica, apenas quatro nasceram nos EUA. Seu principal auxiliar é o austríaco Andreas Herzog, o alemão Berti Vogts é seu assessor técnico e até o auxiliar-técnico Tab Ramos, que jogou Copas do Mundo pelo país (foi ele que levou a cotovelada de Leonardo na Copa de 1994), não nasceu por lá: ele é do Uruguai e imigrou para os EUA aos dez anos.

14 convocados são imigrantes ou não nasceram nos EUA
Jozy Altidore, filho de imigrantes do Haiti - GEORGE FREY/AFP - GEORGE FREY/AFP
Jozy Altidore, filho de imigrantes do Haiti
Imagem: GEORGE FREY/AFP

Entre os jogadores, o número de atletas que não nasceu no país ou tem pais estrangeiros é alto: dos 26 convocados por Klinsmann, 14 tem raízes em imigração recente. É verdade que boa parte (cinco jogadores no total), tem ligação com a Alemanha, com pais norte-americanos, soldados que serviram na Europa à época, e mães alemãs. É o caso do meio-campista Jermaine Jones (que nasceu em Chicago, mas foi criado na Alemanha), do Colorado Rapids, da MLS, ou do zagueiro John Brooks (que nasceu em Berlim), do Hertha Berlin, da Alemanha.

O número de jogadores com origens em países da América também é grande. O centroavante Jozy Altidore (Toronto FC), por exemplo, é filho de imigrantes haitianos. O pai do meio-campista Alejandro Bedoya (Philadelphia Union) é um ex-jogador de futebol colombiano. Já os zagueiros Omar Gonzalez (Pachuca/MEX) e Michael Orozco (Tijuana/MEX) são filhos de mexicanos que imigraram para os EUA em busca de melhores condições de vida. Até mesmo o goleiro Tim Howard (Colorado Rapids), um dos mais famosos entre os convocados, é filho de imigrantes: sua mãe nasceu na Hungria e se casou com um motorista de caminhão norte-americano.

Pai de meia da seleção entrou ilegalmente nos EUA 
Seleção dos EUA multicultural: Fabian Johnson (esquerda) nasceu na Alemanha, os avós de Christian Pulisic (centro) são da Croácia e o pai de Sacha Kljestan é sérvio e entrou ilegalmente nos EUA - Sam Greenwood/Getty Images - Sam Greenwood/Getty Images
Seleção dos EUA multicultural: Fabian Johnson (esquerda) nasceu na Alemanha, os avós de Christian Pulisic (centro) são da Croácia e o pai de Sacha Kljestan é sérvio e entrou ilegalmente nos EUA
Imagem: Sam Greenwood/Getty Images

O caso mais emblemático é do meia Sacha Kljestan (NY Red Bulls). Seu pai, ex-jogador de futebol na Croácia, foi um imigrante ilegal nos EUA, que precisou trabalhar na construção civil para sobreviver. “Ele entrou nos EUA no porta-malas de um carro”, contou o jogador ao site da MLS (a liga de futebol dos EUA). “Ele encontrou um sérvio no sul da Califórnia que tinha uma empresa de trabalhos em madeira para reforma de casas. Foi um emprego temporário. A partir daí, meu pai juntou dinheiro, criou sua própria empresa e a mantém há 20 anos”.

Uma história como a de Kljestan não seria possível com as políticas prometidas por Trump, que prevê um controle muito maior dos imigrantes ilegais nos EUA. E também dificultaria outras convocações, como a do atacante Aron Johannsson, do Werder Bremen/ALE, ou do meia Lynden Gooch, do Sunderland/ING. O primeiro é filho de islandeses e nasceu quando os pais estavam fazendo faculdade nos EUA. Ele morou apenas dois anos no país antes de voltar para a Europa. O mesmo aconteceu com Gooch, filho de um inglês e de uma irlandesa.

Ironicamente, entre os convocados de Klinsmann, só um nasceu no México (que Trump quer dividir dos EUA pela construção de um grande muro), mas não é latino. William Yarbrough nasceu em Aguascalientes porque seus pais foram imigrantes americanos no México, contratados para trabalhar por empresas mexicanas.