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Jogador de 16 anos é morto em Belém; testemunhas acusam grupo de extermínio

Kayo Nixon, atleta da base do Remo, foi assassinado quando voltava de uma pelada - Acervo pessoal
Kayo Nixon, atleta da base do Remo, foi assassinado quando voltava de uma pelada Imagem: Acervo pessoal

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

15/11/2016 11h50

Um jogador de 16 anos foi assassinado a tiros na frente da casa dos tios quando voltava de uma partida de futebol na última sexta-feira, em Belém. A família e testemunhas dizem que o meia-atacante Kayo Nixon Gomes Vilas foi morto por homens armados e encapuzados que perseguiam um suposto criminoso, bastante conhecido no bairro da Pedreira, periferia da capital paraense.

O rapaz perseguido conseguiu escapar, mas os homens atiraram em Kayo, sem chance de defesa, dizem seus amigos. “Não foi ‘por engano’, como estão dizendo aí”, afirmou o promotor de eventos Pedro Castro, 21 anos, que tinha jogado bola com Kayo e voltava com ele para casa. “Os mascarados atiraram nele por crueldade, porque ele repetia que era inocente, que não tinha feito nada.”

De acordo com uma testemunha, logo depois dos disparos os atiradores admitiram que haviam se enganado e matado uma pessoa diferente do homem que estavam perseguindo.

Kayo, descrito pelos que o conheceram com um garoto gentil, inteligente, “sem nenhum problema com a polícia” e “sem nunca ter nem repetido de ano”, estava havia cinco meses na categoria sub-17 do Remo. Dos 13 anos aos 15, ele atuou pela base do Paysandu.

“Eu estava a 150 metros do local [onde tudo aconteceu]”, contou Nixon Vilas, pai do jogador. “Meu filho sempre fugia de tudo, mas nesse dia se escondeu atrás de um monte de areia e os caras pegaram ele lá.”

André Cavalcante, o presidente do Remo, acompanhou o velório do jogador e se colocou à disposição da família. “Eles estão com muito medo porque quem fez isso foi uma milícia que tem ali na região, um grupo de extermínio conhecido por tentar fazer justiça com as próprias mãos”, disse o cartola.

Testemunhas disseram, sem se identificar por medo de represálias, que esses grupos são formados por “uma mistura de tudo”, por “vagabundo, polícia e traficante”.

Apesar da suspeita dos familiares e de seus vizinhos, os delegados que investigam o caso dizem ser prematuro apontar suspeitos ainda nos primeiros dias do inquérito. “Uma das linhas de investigação”, afirmou o delegado Fabio Veloso, “é que ele pode ter sido vítima de milicianos, mas pode ser que essa seja uma desculpa usada por alguém que queria realmente ceifar a vida do adolescente.”

Veloso, porém, destacou que o jovem aparentemente não tinha nenhum problema com a lei nem envolvimento com grupos criminosos. O delegado também disse que nada foi levado, o que seria um indício de um “crime de execução”.

Kayo não tinha sido convocado para o jogo do Remo no sábado, contra a Tuna Luso. Seus colegas, concentrados desde sexta à noite, só souberam da morte após a partida, vencida pelo Remo por 5 a 1. Após uma oração, em vez de gritarem “1, 2, 3 Leão!”, gritaram “1, 2, 3 Kayo!”

Grupos de extermínio vieram à tona após chacina por vingança

A atuação sistemática de grupos de extermínio na cidade veio à tona há exatamente dois anos, quando um grupo formado por policiais e ex-policiais militares causou a morte de ao menos dez pessoas na periferia de Belém. A chacina, comprovou-se depois, foi uma vingança pela morte de um popular cabo da PM, assassinado horas antes.

Uma comissão parlamentar de inquérito atuando na assembleia estadual descobriu que havia ao menos três grupos de extermínio atuando na cidade. As páginas policiais de jornais de Belém eventualmente mostram assassinatos de supostos criminosos, cometidos por homens encapuzados pilotando um “carro preto ou prata” com vidros com película escura.