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Neymar, Globo e vitórias: como Tite transformou a seleção em 6 jogos

Daniel Alves foi o capitão da seleção brasileira no duelo contra a Colômbia, em Manaus, em 6 de setembro de 2016 - Pedro Martins/Mowa Press - Pedro Martins/Mowa Press
Imagem: Pedro Martins/Mowa Press

Danilo Lavieri, Dassler Marques e Pedro Ivo Almeida

Do UOL, em São Paulo e em Lima (Peru)

16/11/2016 06h00

Seis jogos, seis vitórias, 100% de aproveitamentos, liderança nas Eliminatórias e a vaga para a Copa do Mundo 2018 bem encaminhada. A era Tite mudou o cenário da seleção brasileira nesta segunda metade da temporada. Unanimidade desde o momento de sua escolha para substituir o questionado Dunga, o novo comandante da equipe mudou o rumo de um time desacreditado que acumulava eliminações e amargava um sexto lugar no torneio classificatório para o próximo Mundial.

Foram apenas seis jogos, menos de 20 treinos. “É muito pouco tempo para se avaliar algo”, frisa o sempre cauteloso Tite. No entanto, o fato é que o novo líder elevou a seleção a um patamar que parecia esquecido.

O UOL Esporte separou dez pontos que explicam a mudança no trabalho, passando pelos resultados em campo e também pelas decisões fora das quatro linhas – nos bastidores e vestiários.

1) Diálogo com jogadores... até no WhatsApp

Se antes os jogadores não conseguiam se aproximar de Dunga, Gilmar Rinaldi e comissão técnica, o cenário agora é outro. É comum ver Tite dialogando com seus jogadores no campo e até mesmo no saguão do hotel entre atividades e jogos. Seja sobre aspectos táticos ou vida pessoal, o treinador busca conhecer seus comandados cada vez mais. Os jogadores, ao mesmo tempo, viam no novo chefe uma figura respeitada. “Precisávamos de gente assim, competente e inteligente”, ressaltou Daniel Alves. E até as modernidades da comunicação facilitaram a integração. Mesmo sem muito tempo para treinamentos, a nova comissão disseminou os conceitos por meio de WhatsApp e conversas com os atletas, além de repetições sobre o papel de cada jogador dentro de sua função no time.

2) Entrosamento à la Corinthians

Tite se cercou de profissionais que já conhecia já algum tempo para solidificar o trabalho em seu início. Para isso, apostou em membros da comissão técnica e jogadores que faziam parte do Corinthians vencedor que teve o comando do técnico. Em campo, opções por Renato Augusto, Paulinho, Fágner, Gil e Fábio Santos. No banco, nomes como os auxiliares Cleber Xavier, Matheus Bachi, Silvynho, Mauricio Dulac, o fisioterapeuta Bruno Maziotti e o preparador físico Fábio Mahseredjian.

Ao seu estilo, Gabriel Jesus comemora gol do Brasil contra o Peru nas Eliminatórias da Copa - REUTERS/Guadalupe Pardo - REUTERS/Guadalupe Pardo
Imagem: REUTERS/Guadalupe Pardo

3) Obsessão pela defesa e um novo 9

Enquanto muito sinalizavam a necessidade de recuperar o trio ofensivo liderado por um irregular Neymar – que encarava um jejum na seleção –, Tite não escondia sua obsessão pela defesa. “Precisamos marcar primeiro, depois teremos a bola para jogar”, repetia. Nos treinos, era comum ver a insistência da comissão técnica nos treinos de marcação contra bola parada. E deu certo. A zaga formada por Miranda e Marquinhos ganhou confiança e sofreu apenas um gol nos seis jogos sob o comando do técnico. Por fim, Tite achou em Gabriel Jesus o seu camisa 9 para acabar com um problema recorrente com Dunga: o ex-técnico tentou convocar Ricardo Oliveira e Jonas e não teve bom resultado. 

4) Implantação de modelo de jogo

Um dos grandes progressos da seleção de Tite diz respeito à definição não apenas de uma plataforma tática fixa, no 4-1-4-1, mas também da definição de um projeto de jogo baseado em triangulações, posse de bola e também o "perde-pressiona" para o momento da perda dessa mesma posse.

10.nov.2016 Tite comemora com os jogadores o terceiro gol do Brasil na vitória sobre a Argentina no Mineirão - Lucas Figueiredo/CBF - Lucas Figueiredo/CBF
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

5) Abertura fora de campo

A cara fechada da era Dunga deu lugar a sorrisos e um ambiente menos sisudo com Tite. O novo treinador tratou de mostrar logo nos primeiros dias que estava disposto a dialogar com todos – jogadores, funcionários, estafe e até imprensa. A convivência entre as partes passou a ser natural. As conversas informais, bem como os momentos de privacidade, apareceram com mais frequência. “Tem que haver respeito, independente do momento do time”, frisou o técnico.

6) Relação com Neymar

Não era novidade o atrito entre Neymar e Dunga. Ainda que muitos defendessem a manutenção da hierarquia na antiga gestão, outros tantos defendiam o diálogo entre líder e craque. O entendimento não ocorreu. Tão logo chegou, Tite procurou o camisa 10 para uma conversa. Primeiro, ressaltou a confiança no jogador e perguntou sobre a decisão de não usar a braçadeira. “É um outro tipo de liderança, uma coisa técnica. É o jogador que decide em campo”. Com carinhos, os dois começavam a se entender. Tite dava a liberdade na medida que achava correta, Neymar correspondia em campo. Era o que a seleção precisava.

7) Aposta nos esquecidos

Com Dunga, era comum que nomes exaltados na Europa fossem esquecidos na seleção brasileira. Era o caso de Philippe Coutinho. Jogadores marcados pelo 7 a 1 da Copa de 2014 – Fernandinho e Paulinho - também eram preteridos. Tite tratou de apostar no retorno dessas peças. Deu certo. O novo técnico ainda bancou o retorno de Thiago Silva, desafeto de Dunga.

8) Valorização dos reservas

A forma de Tite administrar o vestiário, três convocações depois, já parece realidade para os atletas da seleção. Lideranças do grupo como Neymar elogiam, por exemplo, a atenção aos reservas. O técnico chegou a se desculpar com o grupo porque não teria tempo suficiente para dar a mesma atenção dos titulares.
A valorização a todos é um conceito chave no sistema de trabalho e serve para fomentar a disputa por posições, o que Tite acredita eleva o nível técnico da equipe onde não existem intocáveis. Willian, um dos protagonistas, virou reserva e compõe um banco de luxo com Douglas Costa e Thiago Silva. Coutinho, o escolhido, não para de crescer. Reserva de Marcelo, Filipe Luis participou de três jogos e ostentou até a braçadeira de capitão.

9) Rodízio de capitães

Assim como fez no Corinthians, Tite apostou no sistema de revezamento de capitães para diluir a responsabilidade da braçadeira e ganhar o grupo. “Temos cinco ou seis líderes natos nesse grupo, dos mais diversos tipos”, frisou. Daniel Alves, Miranda, Renato Augusto, Filipe Luís e Fernandinho representaram o grupo nos seis primeiros jogos. E outros jogadores deverão entrar no circuito nas próximas partidas. Era mais um componente a aproximar comissão e atletas.

10) Lua de mel com a Globo

Ao mesmo tempo que liderou as críticas a Dunga, a TV Globo, especialmente por meio de Galvão Bueno, comanda o bom momento da crítica com a seleção de Tite. É notável o bom ambiente entre as partes. O narrador, aliás, procura assistir a boa parte dos treinos da equipe antes das partidas, sempre acompanhado pelo comentarista Casagrande. No ar, Galvão ainda reforça o novo e agradável momento no relacionamento com a seleção.