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Candidato à presidência do Flu, Abad quer Roger Machado como treinador

Pedro Abad é o candidato da situação nas eleições do Fluminense, dia 26, neste sábado - Divulgação
Pedro Abad é o candidato da situação nas eleições do Fluminense, dia 26, neste sábado Imagem: Divulgação

Bernardo Gentile

Do UOL, no Rio de Janeiro

23/11/2016 06h00

Candidato da situação à presidência do Fluminense pelo próximo triênio, Pedro Abad, da chapa Somos Fluminense, prega a continuidade do trabalho desenvolvido pelo atual presidente Peter Siemsen. A única divergência é a forma de fazer futebol: Abad quer entregar a pasta para a condução de profissionais. Sobre o mesmo assunto, ele já tem o nome do treinador ideal: Roger Machado.

Além disso, Abad tem uma ideia do que vai fazer com Laranjeiras. Com a saída do futebol profissional a sede viraria a casa dos jogos da base e contaria com o tour para a visita de torcedores. Ao contrário dos demais, o candidato não vê com bons olhos o Fluminense administrando o Maracanã, considerado muito caro. A ideia é ter um estádio alternativo para jogos menores.

Confira a entrevista na íntegra:

Atual momento do Fluminense

A política do clube está fervilhando. Traz uma militância aguerrida de todas as partes, com debates, ações de campanha. Ferve mesmo o clube. Considero bom que os jogadores estejam no centro de treinamento porque ajuda a não ter muita influência política, né? Dentro de campo vive um momento muito ruim por conta de uma forma de fazer futebol muito errada. Muitos erros de contratação, de montagem de elenco e vamos ter que trabalhar muito duro em 2017 para reequilibrar esse elenco. Para voltar a ter atletas motivados, com melhor rendimento. O momento do Fluminense é ao mesmo tempo conturbado e complicado dentro de campo. Uma mistura explosiva e precisa aguentar até sábado, quando acaba a eleição, a mais das rodadas do Brasileiro. Tempo de remodelar essa situação

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Imagem: Divulgação

Política complicada no clube?

Essas foram as primeiras eleições em que as redes sociais tiveram um papel preponderante. Uma militância ataca a outra e fica algo incontrolável. Whatsapp, Facebook, Twitter... Está um ambiente muito ruim na internet, embora no clube, em si, está em clima de paz. Mas é difícil conviver com uma série de ataques e ofensas. É muito mais desgastante do que deveria ser.

Poderia ter sido diferente?

Não tenho dúvidas que sim. De todas as partes. Não tem ninguém que se exima dessa responsabilidade. Muitas das vezes a gente se defende, mas também apontamos erros. Mas foi como foi, né, fazer o quê?

Quem mais decepcionou nesse período?

Não diria decepção, pois todos têm direito de escolher o lado que acha melhor para o Fluminense. O que importa é que temos pessoas muito importante do lado, como Pedro Antônio, o próprio presidente Peter Siemsen, o departamento de esportes olímpicos, meu grupo de origem, o Flusócio, o grupo 2050, que veio junto com o Cacá. Alguns membros do Flusócio que foram para o outro lado poderiam ter feito diferente. Não digo decepção, mas gostaria que estivessem ao nosso lado.

O que o Abad quer fazer pelo Fluminense?

Principalmente mudar o futebol. Prevíamos que isso poderia acontecer desde o ano passado. Quando a Unimed saiu, em 2015, num primeiro momento, as coisas pareciam andar bem, mas depois os defeitos começaram a aparecer. Elenco não estava bem montado. Mesma coisa em 2016. O sofrimento que estamos passando hoje são por erros repetidos. O futebol foi muito mal feito com erros de contratação, na forma de contratar. Seja quem for o eleito, eu especialmente, vejo o ano de 2017 de muito trabalho para reequilibrar financeiramente, tecnicamente e taticamente o nosso futebol.

O que quer dizer um futebol mal feito?

O futebol precisa ser feito de maneira profissional, não cabe amadores decidindo contratação. Em 2015 foi assim, com um vice presidente de futebol [Mário Bittencourt], que tinha uma função muito mais de executivo do que de dirigente estatutário, embora existisse um executivo. Depois que ele saiu veio um profissional [Jorge Macedo] para tentar reequilibrar esse elenco e também não conseguiu. Minha proposta é justamente conseguir 2017 com um grupo de profissionais, não uma pessoa só. Eles vão analisar todos os aspectos das contratações: condição financeira, tempo de contrato, histórico do atleta, se tem os valores necessários para jogar no Fluminense. Uma série de fatores que o futebol de 2016 pecou demais.

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Imagem: Divulgação

O futebol pode decidir a eleição?

Pode sim, mas eu acredito também que as pessoas, com as redes sociais, conseguem ter acesso a informações que fogem ao que acontece somente no campo. Tivemos várias conquistas fora de campo, que serão para sempre. Campeonato vai e vem. Claro que é muito importante e vamos trabalhar para isso. Mas tem muita coisa que ajuda o resultado de campo a sair. O centro de treinamento, início do projeto de um estádio próprio, equalização financeira das dívidas. Isso tudo ajudar a ter um futebol mais calmo, mais interessante para o jogador que quer vir para o Fluminense.

Clube organizado ou futebol vencedor?

Acho que não precisa escolher. É possível fazer as duas coisas simultaneamente e uma empurra a outra. Fizemos o centro de treinamento com bastante trabalho e sacrifício. Hoje os jogadores não querem nem voltar para as Laranjeiras, estão adorando lá. Isso vai até mesmo facilitar a contratação de um atleta para o clube. Todos querem trabalhar em uma estrutura boa. Pode até baratear uma negociação, o que abriria espaço para novas contratações. Uma coisa não exclui a outra. Precisa continuar a crescer estruturalmente e fazer um time forte e vencedor, não como está agora, um time que claudica e muito mal nos últimos oito jogos.

Flu é um clube melhor do que há seis anos, quando Peter assumiu?

Sem dúvida. Xerém era chamado de “Carandiru” porque não havia estrutura com os atletas em acomodações lamentáveis. Hoje o alojamento tem televisão, armário, computador. Campos reformados... Xerém gera muito jogador e agora integrado com o Flu-Europa. Muita coisa estrutural foi feita e o próximo presidente pegará um clube com uma base muito mais sólida para avançar no que precisa, que é o futebol.

Qual o perfil de contratação?

Todo o time do Fluminense deve ter jogador acostumado a ganhar, de peso. Não tem como fazer um time com atletas da base somente. Usamos a base na montagem do elenco o máximo que puder e vamos buscar esses atletas que vão dar corpo ao time. Aqueles que são o top, que segura o time na hora da insegurança, que dá tranquilidade, que fala de igual para igual com a arbitragem. Mas é claro que uma mescla, pois não dá para ter um time com onze medalhões, a situação financeira não permite. Nenhum time no Brasil tem isso. Importante é montar o elenco de maneira equilibrada, sem errar nas contratações. Jogadores jovens que precisam mostrar serviço, enfim. Tudo precisa ser muito bem analisado antes de realizar a contratação.

Então o Fluminense errou ao abrir mão de Fred e Diego Souza?

Não diria erro, pois são situações distintas. Em relação ao Fred, pelo o que soube, haviam vários fatores envolvidos, não apenas o interesse do Fluminense. Tinha vontade do atleta, da família, do estafe. Até onde sei o clube tentou ficar com ele. Sobre o Diego Souza realmente eu sei pouco sobre os motivos que o levaram a voltar. Fica difícil julgar se foi erro ou acerto.

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Imagem: Divulgação

Apoio de Pedro Antônio e Peter

As pessoas escolherem seu candidato envolve entender quem pode fazer mais pelo Fluminense a partir de 2017. Eu já trabalhava com o presidente em vários assuntos que ele pedia colaboração e eu ganhei a confiança dele para dar prosseguimento nisso. O Pedro Antônio diante das pessoas que estão ali achou que eu era o melhor porque já tinha visitado o centro de treinamento diversas vezes, já havíamos conversado sobre assunto de como finalizar a obra. E sobre assunto de futebol também, ele achou que eu era o mais adequado para dar continuidade e apoiou. Tem outros também. É um grupo de pessoas que fez o Fluminense forte e resolveu continuar mantendo um trabalho forte e avançando onde foi mal, que é o futebol.

Departamento de futebol definido? Pedro Antônio terá cargo no futebol?

Olha, já temos alguns nomes que estamos buscando, mas tem gente que ainda está em seu emprego e por isso não tocamos nos nomes. Mas o técnico, por exemplo, vejo com muito bons olhos o Roger. O Pedro Antônio é alguém que já vive o meio do futebol hoje. É sempre bom ter uma ligação entre o que passou e o que vem. O Pedro é alguém que realmente conto no futebol. Não sei se com cargo ou sem, mas ele será importante nisso também. De qualquer maneira vamos buscar profissionais que tenham identificação com o clube. Esperar essa semana para cair dentro.

Será mais ativo que Peter no comando do futebol?

Sem dúvida a responsabilidade pelo futebol será minha. Sempre que alguém tiver que receber responsabilidade, será minha. Eu sou o presidente e sou o responsável. E estarei presente, sim. O grupo que decide o futebol conta com o presidente e o vice-presidente de futebol. Eles participam da decisão, mas a análise técnica de contratações é feita por um grupo de profissionais. A gente entra para validar e se responsabilizar por ela. A análise desses profissionais virá no final do trabalho. Se for bem feito, ótimo. A partir do momento que eles não derem resultados, aí temos a participação na escolha desses profissionais. Que aí podem ser trocados ou não. Mas é assim: os profissionais escolhem, o presidente e o vice-presidente estão juntos e validam e assumem a responsabilidade. Mas estarei presente o tempo todo. Não vou largar para cobrar no fim do ano. Estarei diariamente com o futebol.

Conta com Jorge Macedo?

É bastante difícil falar porque o trabalho dele não foi bom. A situação dele é bastante indefinida. Não é uma situação fácil.

O que acha de Orejuela e Sornoza, reforços certos para 2017?

O Orejuela foi uma contratação excelente até porque ele nunca tinha jogado pela seleção do Equador e depois fez três jogos seguidos como titular. Jogador que certamente está muito valorizado e chega com status bom. Mesma coisa o Sornoza, que segue se destacando por lá. Foi o camisa 10 do time dele na Libertadores. Contratações que julgo boas.

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Imagem: Divulgação

Seu cargo na Receita Federal atrapalha o trabalho como presidente?

Tem várias vertentes. Sim, tem um componente eleitoral muito forte. Mal ou bem sou o candidato da situação de uma gestão que foi bem em muita coisa. Isso acaba dando um peso muito grande. E aí tentem desconstruir esse candidato. Por outro lado, percebo que tem gente que tem dúvida real com a situação e, quando confrontado, com minha explicação, entende como a situação é pintada pelos adversários. Temos diversos pareceres que não tem qualquer tipo de problema, mas orientações para determinados momentos ser representado por outras pessoas que não eu. Isso é mais um sinal de que não existe poder absoluto na minha mão. Depois da eleição, essa questão passa, acaba.

Prova que essa situação é eleitoreira é o apoio do Cacá, que criticava e agora te apoia?

O Cacá, inclusive, será uma das pessoas que irá suprir essa recomendação. Ele vai representar o Fluminense. Buscou aconselhamentos jurídicos e chegou à conclusão que dessa forma poderia ser feito. Volto a ressaltar que é uma garantia de que haverá uma gestão com outras pessoas participando e decidindo em conjunto. Mas repito, depois de sábado tudo isso passa.

O que fazer com Laranjeiras?

O campo em si é fazer a casa dos jogos da base. Além disso, quero integrar a sala de troféus com um tour passando por vestiários e terminando em uma loja do Fluminense. Mas com a saída do futebol, não é só o campo. Todo o espaço ocupado pelo departamento de futebol vai sair. Terá muito espaço no clube como um todo e precisamos repensar o clube como um todo.

Promessa de estádio foi eleitoreira?

Não é porque esse assunto já vinha sendo tratado há mais de quatro meses. Uma negociação complicada. Aconteceu justamente naquele dia a assinatura com detentora do terreno. Se perceber as fotos estava com a mesma foto na assinatura e mais tarde. Peter me chamou e eu não sabia o que era. Quando cheguei tomei conhecimento. Mais tarde ele chegou e decidiu falar [durante o lançamento da candidatura de Abad]. Talvez tenha passado essa impressão, mas isso não foi combinado. Tanto é que não mandei e-mail para sócios enquanto outros candidatos o fizeram. Isso é a coisa mais fácil de fazer se você está usando a máquina de verdade. Usei o Bar de Guerreiros, na sede, uma vez e paguei do meu bolso. Não entendo essa acusação de uso de máquina ou fim eleitoreiro. Pode se confundir pelo apoio do presidente Peter.

Então o estádio é um sonho possível?

Certamente. Considero estratégico ter o estádio próprio, até porque o Maracanã não tem efeito com público pequeno. Precisa de um estádio com cara de estádio, que seja projetado para pressionar o adversário, para ganhar, pontos, jogos. O Maracanã não serve dessa forma. Não conseguimos controlar os dias lá. Até operamos em dois jogos, mas nem com públicos altos tivemos lucros. Precisa de um estádio pensado de acordo com o que o Fluminense precisa. Baixo custo de construção, de operação e, aí assim, teremos nossa casa própria. Maracanã ficaria para jogos grandes apenas.

Maracanã é caro para jogar. Se o Fluminense administrar melhora?

O Maracanã tem muitas despesas acima do que deveria. Algumas porque é administrado por empresas que não o Fluminense e outras porque é realmente um estádio demanda dinheiro. Eu não acredito num projeto para jogar lá com público inferior a 30, 35 mil pessoas. Tanto que nosso contrato é benéfico para isso. A maioria dos jogos são deficitários. Jogos do Carioca e contra equipes menores, por exemplo. Operar a risco do Fluminense é muito complicado. Se continuar no Maracanã, vamos ter sempre o foco de um dia ir para o nosso estádio.

Existe alguma alternativa para o Maracanã?

Temos uma parceria com o América até o meio do ano de 2017. Edson Passos não comporta um público de 15 mil pessoas, uma exigência da CBF e que foi liberada para 2016 por conta das Olimpíadas. Para continuar lá, precisaria fazer adaptações. Temos até o meio do ano para pensar. O Fluminense tem até o meio do ano para jogar. O risco não é nosso. A próxima empresa que assumir terá que cumprir o nosso contrato e teríamos a possibilidade de jogar também no Maracanã sem o risco da operação. Essa alternativa é positiva até mesmo para compensar o administrador do Maracanã. Jogos pequenos daria muito prejuízo e não precisam ser disputados no Maracanã. Edson Passos criou uma atmosfera muito legal. Acho que podemos pensar em alternância mesmo. Não vejo isso com maus olhos.

Votos de sócios-torcedores

Acho ótimo. Desde 2008, quando deixei de ficar só na arquibancada e entrei na vida do clube, defendia isso. Sempre quis o sócio-torcedor participando do futuro do clube. Em 2009 fizemos serviço de apoio ao torcedor. Íamos na casa deles para ele assinar a ficha de inscrição e depois receber a caretinha sem precisar ir ao clube. Trouxemos muitos sócios e ganhamos uma eleição. Criamos a categoria com sócio futebol votando. Pouquíssimos clubes do Brasil fazem isso. Gostaria muito que todos viessem e exercessem o voto. Espero que seja uma festa bonita no sábado. De alegria, sem confusão. Seria legal para o Fluminense.

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Imagem: Divulgação/Face