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Dez histórias desconhecidas sobre o último título brasileiro do Palmeiras

Palmeiras pode acabar com jejum de 22 anos neste domingo - Folha Imagem
Palmeiras pode acabar com jejum de 22 anos neste domingo Imagem: Folha Imagem

Fernão Ketelhuth

Colaboração para o UOL, em São Paulo

27/11/2016 06h00

O Palmeiras tem neste domingo, às 17h, a oportunidade de voltar a conquistar o Campeonato Brasileiro. Basta um empate com a Chapecoense, no Allianz Parque, para o time alviverde acabar com o jejum de quase 22 anos sem erguer o troféu mais importante do futebol nacional.

O Verdão ganhou o título brasileiro pela última vez em 18 de dezembro de 1994, ao empatar por 1 a 1 com o Corinthians no segundo jogo da final - havia vencido o primeiro por 3 a 1. Durante a campanha, a equipe então treinada por Vanderlei Luxemburgo disputou 31 partidas, com 20 vitórias, seis empates e cinco derrotas.

O UOL Esporte ouviu personagens importantes daquela conquista e colheu dez histórias curiosas (algumas delas inéditas) sobre o último Brasileirão vencido pelo Palmeiras. Confira a lista:

Parmalat tentou comprar Fenômeno

Ronaldo e Rivaldo formaram a dupla de ataque da Seleção Brasileira na conquista do pentacampeonato mundial, em 2002. Poderiam ter formado, também, o ataque do Palmeiras campeão brasileiro de 1994. Semanas após a Copa dos EUA, a Parmalat, que administrava o futebol palmeirense em regime de co-gestão com o clube, tentou comprar o Fenômeno, ainda um adolescente de 17 anos.

“Conversei com os procuradores do jogador a pedido do Parma. A ideia da matriz era contratá-lo do Cruzeiro, deixá-lo no Palmeiras durante um ou dois anos e só então repassá-lo ao time italiano”, conta José Carlos Brunoro, à época diretor de Esportes da Parmalat. A negociação não vingou porque Ronaldo já havia se acertado com o PSV, da Holanda.

Sport quase eliminou o clube no Tapetão

Antes de se sagrar campeão brasileiro em 1994, o Palmeiras precisou virar um jogo quase perdido no Tribunal. O clube paulista esteve a um voto de ser eliminado na segunda fase do campeonato, por causa de uma ação movida pelo Sport no STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva). Disposto a herdar uma das vagas no mata-mata, o clube pernambucano defendia que o Alviverde perdesse pontos por causa da briga envolvendo Edmundo e jogadores do São Paulo no clássico realizado em 31 de outubro daquele ano, no Morumbi.

Seis auditores, além do presidente do órgão, apreciaram o recurso. Quando a audiência foi interrompida, o placar era favorável à petição do Sport por três votos a um. Preocupados com o risco de punição, dirigentes do Palmeiras fizeram plantão na sede da CBF durante dois dias. O presidente do clube, Mustafá Contursi, havia sido o chefe da delegação brasileira na Copa dos EUA. “Tínhamos excelente relacionamento com a confederação”, relembra Seraphim Del Grande, à época vice de futebol do clube. Por quatro votos a três, o STJD arquivou o caso.

Fiel “desistiu” após 1º jogo da decisão

A derrota por 3 a 1 no primeiro jogo da final do Brasileirão desanimou a torcida do Corinthians. Conhecida por apoiar a equipe em momentos de dificuldade, a Fiel compareceu em número reduzido à partida de volta, no Pacaembu. Dos 18 mil ingressos colocados à venda para os alvinegros, oito mil encalharam na bilheteria. Minutos antes do duelo, a Polícia Militar aumentou o espaço reservado aos palmeirenses na arquibancada do estádio.

A desesperança corintiana era justificável. Por ter feito campanha superior à do rival na fase anterior, o Alviverde ficaria com o título mesmo se perdesse por dois gols de diferença. “Eu me lembro de subir ao campo na hora do aquecimento e olhar para aquele mar verde e branco. Os corintianos ficaram em um cantinho, espremidos”, relata o ex-atacante Evair.

Para ter Rivaldo, Palmeiras cobriu oferta alemã

Rivaldo foi o principal nome do Palmeiras no Brasileiro de 1994. Fez três dos quatro gols da equipe alviverde nas duas partidas da decisão contra o Corinthians, time que havia defendido no estadual daquele ano. Para contratá-lo, a Parmalat teve de competir com o mercado europeu. O Mogi Mirim, dono do passe do meia-atacante, estava disposto a vendê-lo para uma equipe da Alemanha por US$ 2,4 milhões.

“Tivemos de igualar o valor para não perder o atleta. Era muito dinheiro”, recorda-se José Carlos Brunoro, então diretor de esportes da multinacional. Com a quantia gasta na contratação de Rivaldo, seria possível comprar, na época, 12 Ferraris modelo 348. “O Corinthians tinha a preferência para adquirir o passe do jogador, mas, felizmente para o Palmeiras, optou por não exercê-la”, conta Brunoro.

Cuca foi rebaixado para a Série B

Enquanto o Palmeiras caminhava rumo ao título nacional, o atual técnico do time sofria na região Norte do país. Cuca disputou o Brasileirão de 1994 pelo Remo, um dos dois clubes rebaixados naquela temporada para a Série B. O clube paraense terminou o campeonato em penúltimo lugar, com 17 pontos, 29 a menos do que o campeão - na época, cada vitória valia dois pontos.

O meia entrou em campo 13 vezes e fez dois gols, um deles na goleada sobre o Cruzeiro por 5 a 1. A passagem pelo Remo terminou com oito derrotas, dois empates e três vitórias. A equipe de Belém não enfrentou o Palmeiras.

Pesadelo de Cléber assustou Sampaio

Os jogadores do Alviverde estavam no vestiário do Pacaembu, já se trocando para a final do campeonato, quando o zagueiro Cléber chamou o capitão César Sampaio para uma conversa reservada. O defensor confidenciou ao volante estar preocupado com um pesadelo que tivera na noite anterior. “O Cléber havia sonhado que o Corinthians ganharia da gente de 4 a 0 e seria campeão. Eu falei para ele se tranquilizar, lembrei que a nossa vantagem era muito boa”, conta Sampaio.

Logo aos três minutos, porém, o Timão abriu o placar com Marques, que aproveitou o rebote de uma falta cobrada por Marcelinho. “Quando a bola entrou, o Cléber me olhou com cara de medo. Fiquei assustado também. Conversava comigo mesmo: ‘Será que o pesadelo dele era uma profecia, um aviso’. Ainda bem que colocamos a bola no chão e controlamos o jogo”, relembra o ex-volante, aos risos. A partida terminou 1 a 1.

“Maratona” provocou altos e baixos

Apesar de contar com grandes jogadores em todas as posições, o time treinado por Vanderlei Luxemburgo oscilou durante a competição. Ganhou 11 dos 12 primeiros jogos, mas caiu de produção às portas do mata-mata. Após ter a invencibilidade quebrada pelo Flamengo, foi goleado pelo Fluminense (4 a 1). Como consequência dos altos e baixos, a equipe avançou às quartas de final com a sexta melhor campanha da segunda fase, atrás de Guarani, São Paulo, Botafogo, Bahia e Santos.

“Eram muitos jogos. As pernas não respondiam e começamos a perder. Felizmente, reencontramos o caminho na hora certa”, recorda-se o ex-atacante Evair. Em um intervalo inferior a quatro meses, o Palmeiras disputou 31 jogos, além de um amistoso contra o Real Madrid, no Estádio Santiago Bernabéu.

Rival “ajudou” Palmeiras a ter Edmundo na final

Punido com suspensão de 40 dias e cinco jogos por brigar com jogadores do São Paulo no Morumbi, Edmundo era carta fora do baralho nas finais do Brasileiro. Livrar o atacante do gancho parecia impossível diante da enorme repercussão provocada pelo soco que o camisa 7 acertara no lateral-esquerdo André Luiz.

Por ironia do destino, o Corinthians, que se tornaria vítima do Animal na decisão, ajudou indiretamente o Palmeiras a conseguir a liberação do atacante, por meio de um efeito suspensivo. Dez dias antes de o clube alviverde pedir o adiamento da pena de Edmundo, o Timão havia utilizado o mesmo recurso para poder escalar o lateral-esquerdo Branco e o volante Zé Elias na semifinal contra o Atlético-MG.

O STJD se viu forçado a aceitar a petição palmeirense. Temia ser acusado de parcialidade. Até o zagueiro Antônio Carlos, expulso no segundo jogo da semi diante do Guarani, ganhou autorização para participar da final. “Sem querer, o Corinthians acabou nos ajudando”, lembra-se o conselheiro Gilberto Cipullo, na época diretor de futebol do Palmeiras.

Dirigente usou brinco para cumprir promessa

Os titulares do Alviverde já estavam enfileirados para entrar no gramado da Fonte Nova, onde disputariam o jogo de ida das quartas de final contra o Bahia, quando o então vice-presidente do clube paulista, Seraphim Del Grande, notou algo estranho com Roberto Carlos. O lateral, habitualmente brincalhão, estava cabisbaixo, triste.

“Eu cheguei perto do Roberto e falei para ele se alegrar logo, pois seria campeão brasileiro”, rememora Del Grande. O lateral respondeu com um desafio: caso a previsão de título se confirmasse, o dirigente deveria usar um brinco igual ao dele. “O Roberto estava tão chateado que caí na besteira de topar a brincadeira. Queria motivá-lo de algum jeito”, conta. Durante a festa de comemoração pela conquista, em uma casa noturna do Jardim Europa, Roberto Carlos desembestou a rir quando viu o dirigente chegar com uma joia presa na orelha esquerda.

Trio foi vendido na véspera da decisão

César Sampaio, Evair e Zinho saíram da concentração do Palmeiras, na véspera do segundo jogo da final contra o Corinthians, para acertar os últimos detalhes da negociação com o Yokohama Flugels, do Japão. Durante o encontro, realizado com o consentimento da diretoria alviverde, os contratos foram assinados. “Nós jogamos a decisão já vendidos”, reconhece Evair. “Eu me lembro de que fomos a um hotel próximo de onde estávamos hospedados para uma reunião com os japoneses. Estávamos com medo de que alguém descobrisse. Parecíamos criminosos”, brinca o ex-atacante.

A transferência preocupou Gilberto Cipullo, então diretor de futebol do clube. Havia receio de que a venda tirasse a concentração do trio. “Antes do jogo, o Sampaio me disse para eu ficar tranquilo porque ninguém ia tirar o pé”, relembra o conselheiro.