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Rádios de Chapecó vivem clima de devastação após mortes de jornalistas

Na Rádio Super Condá, mesa-redonda debateu dor da perda de colegas - Felipe Vita/UOL - Felipe Vita/UOL
Na Rádio Super Condá, mesa-redonda debateu dor da perda de colegas
Imagem: Felipe Vita/UOL

Bruno Freitas, Danilo Lavieri, Felipe Vita e Luiza Oliveira

Do UOL, em Chapecó (SC)

01/12/2016 01h00

"Se a Chapecoense vai ter que se reconstruir, a crônica esportiva de Chapecó também vai ter que se reconstruir", disse Ivan Carlos, radialista da Super Condá, num intervalo entre programas na quarta-feira. Em meio ao luto, ao desgaste emocional de encarar a burocracia para trazer corpos de colegas de empresa ao Brasil, ainda existe a missão de seguir preenchendo programações. As rádios esportivas da cidade não pararam de trabalhar, mas nestes dias operam em clima de devastação.

Seis profissionais de quatro rádios da cidade morreram no acidente aéreo que vitimou a delegação da Chapecoense na Colômbia, na segunda: Gelson Galiotto e Edson Luiz Ebeliny (Rádio Super Condá), Fernando Schardong e Douglas Dorneles (Rádio Chapecó), Jacir Biavatti (Rádio Vang FM) e Renan Agnolin (Rádio Oeste Capital). Apenas o narrador Rafael Henzel (Oeste Capital) sobreviveu.

Eram todos eles figuras populares do microfone local, identificadas com o público como as vozes que repercutiam a atualidade do time da cidade – e sua grande fase esportiva. A partir de agora, no entanto, as emissoras vão enfrentar uma reposição forçada.

"A gente sabe que, de certa forma, a sociedade de Chapecó fundou o time, e hoje o time se tornou maior do que a cidade. Os jogadores vão, os jogadores vêm, a associação fica aí. Mas os cronistas eram pessoas que a gente tinha contato direto, diário", comentou Fernando Bonner Neto, diretor da Rádio Chapecó.

Jantar reuniu a crônica esportiva de Chapecó na última sexta

Dias antes da histórica cobertura na Colômbia, para o primeiro jogo da final da Sul-Americana contra o Atlético Nacional, a imprensa esportiva de Chapecó se reuniu em um jantar de fim de ano. Praticamente todos os radialistas que viajaram estavam presentes.

"Foi a última vez que nos vimos. Estava todo esse pessoal", contou Fernando Bonner Neto, da Rádio Chapecó. “E isso nos deixa um pouco amargurados. Era tão comum eles saírem para uma transmissão esportiva que poucas vezes desejávamos um 'boa viagem', um abraço", acrescentou.

Tragédia vitima narrador premiado e popular

A voz de Fernando Schardong era presença constante no quadro Redação AM, dentro do programa Redação SporTV, da emissora de TV por assinatura. Vencedor do prêmio de melhor narrador de Santa Catarina em 2010, o profissional da Rádio Chapecó era uma personalidade local, um "vendedor de emoções".

Com 11 anos na empresa, Schardong fazia sucesso também à frente do programa "Sertão em Festa", que unia notícias e música. Seu irmão, Flávio, também atua na rádio, como coordenador de jornalismo. Era conhecido por encarar o microfone sem roteiros, com desenvoltura.

Acidente de 1976 matou dois radialistas antes de jogo da Chape

Esta não é a primeira vez que a Rádio Chapecó lamenta a perda de profissionais que viajavam na cobertura da Chapecoense. Há 40 anos, a emissora chorou a morte de dois funcionários que viajavam de carro para transmitir uma partida do Campeonato catarinense.

"Quando a Chapecoense estava iniciando no Campeonato Catarinense, em 1976, nós tivemos um acidente automobilístico em que dois colaboradores faleceram. E agora 40 anos depois a gente se depara com essa situação que é muitíssimo mais trágica, mas que também leva dois colaboradores da emissora", relatou o diretor Fernando Bonner.

Rádio Chapecó - Felipe Vita/UOL - Felipe Vita/UOL
Rádio Chapecó perdeu profissionais mais uma vez; em 1976, dois morreram em acidente
Imagem: Felipe Vita/UOL

Pai em estado de choque na Arena Condá

Sozinho no campo, Luis Carlos Agnolin tem sido uma presença constante no gramado da Arena Condá desde a última terça-feira. Pai do jornalista Renan Agnolin, o gaúcho de Erechim lida com a dor diante de todas as referências presentes na precoce morte do filho, repórter da Rádio Oeste Capital.

"Estou aqui mais para receber as coordenadas, saber como será o traslado do corpo. Quero só pegar meu guri e levar embora", declarou, em tom de consternação e com olhos marejados. "Ele trabalhava em rádio, TV e jornal. Tinha um vínculo muito grande com a cidade", completou Luis Carlos Agnolin, que veio de Erechim acompanhado da esposa e da noiva do filho.

No ar: o trabalho não pode parar

Uma mesa-redonda na tarde de quarta-feira na Super Condá debatia a dor pela perda dos amigos no acidente da Colômbia. O programa contou com diversas manifestações de ouvintes e contato de uma emissora do Amazonas, que prestou homenagem aos profissionais de Chapecó. Nos bastidores, no entanto, o luto pela perda do narrador Gelson Galiotto e do repórter Edson Luiz Ebeliny estava presente em cada gesto ou palavra.

"Eles eram dois lutadores. Dois que superaram falta de estudo, com vontade, com empenho, com dedicação. O Gelson se transformou num narrador fazendo. O Edson se transformou em um repórter também fazendo, na prática. Dois guerreiros", comentou Ivan Carlos, coordenador Super Condá.

"Nós vamos ter que reconstruir a equipe. Não sei como a gente vai fazer, mas temos que repor os profissionais. Não parei para pensar nisso ainda, mas a gente sabe que vai ter que acontecer", concluiu o jornalista.