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Comissão que reestrutura Chape sofre com excesso de trabalho. E de tristeza

Ivan Tozzo (de óculos) é o presidente em exercício da Chapecoense - Danilo Lavieri/UOL
Ivan Tozzo (de óculos) é o presidente em exercício da Chapecoense Imagem: Danilo Lavieri/UOL

Bruno Freitas, Danilo Lavieri e Luiza Oliveira

Do UOL, em Chapecó (SC)

03/12/2016 06h00

“Já pensou que desespero, eu entrar na sala de reunião e bater de cara só com cadeira? Pensar que todos meus colegas se foram?”. A frase é do presidente da Chapecoense, Ivan Tozzo. Ele assumiu o lugar do agora ex-presidente Sandro Pallaoro, morto na tragédia que vitimou 71 pessoas na última terça-feira (29).

Como não poderia ser diferente, o acidente pegou a todos de surpresa. Com a morte de jogadores, membros da comissão técnica e vários diretores, quem ficou precisou organizar tudo de última hora. Foram dias de trabalhos intensos, quase que ininterruptos, sem nem mesmo parar para dormir e comer. Tudo isso sob o terrível efeito da perda de amigos, companheiros de trabalho e familiares.

A mistura das emoções com o não cumprimento das necessidades físicas de um ser humano causou efeitos direto na saúde de quem correu contra o tempo para fazer o triste megaevento dar certo.

Andrei Copetti, por exemplo, assumiu a comunicação. Resolvia todos os problemas com a imprensa e ajudava na organização do evento de uma forma geral. O excesso de trabalho o fez ter problemas de pressão alta. Em meio ao trabalho, ele se sentiu mal e precisou ir para casa descansar. Era comum ver seus olhos marejados.

O que mais impressiona, no entanto, é que, mesmo contra tudo isso, ele não parou. Respondia a todos, dava entrevista para cada repórter que pedia uma palavra e sempre deixava suas vontades para depois.

Ivan Tozzo deixou os negócios particulares na mão da família por um tempo para tentar, como ele mesmo diz, reerguer a Chapecoense. Quando colocava a cabeça no travesseiro, no entanto, não conseguia fechar os olhos. Precisou apelar para remédios para conseguir descansar e ter forças para seguir a cada dia. Ele é outro que costumeiramente andava de olhos marejados pela Arena Condá.

Houve discussão entre pai e filho na hora de negociar espaço no caminhão que acompanhará o cortejo do aeroporto para o estádio. Houve briga de câmeras por um espaço para fazer as gravações. Houve repórter chorando ao vivo. O nível do estresse no estádio estava no máximo possível. Assim como a solidariedade.

Clube, autoridades e a população local não pouparam esforços para fazer tudo dar certo. Quem sabia falar outra língua para ajudar a imprensa estrangeira desfilava com uma placa presa ao pescoço para avisar que estava ali para resolver problemas com tradução.

Padarias ajudavam com alimentos para quem trabalhava, para os familiares e para todos que praticamente não sentavam de tantos afazeres sob o escaldante sol da Arena Condá. Quem conhecia a cidade orientava aqueles que não sabiam nem como ir até um restaurante. Quem podia dava carona para os que não encontravam táxis.

São 900 jornalistas, milhares de torcedores, dezenas de mortos e um time que jamais será esquecido. #ForçaChape é a hashtag que dominou o mundo na última semana e que dificilmente será esquecida.