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Corpos de vítimas de acidente da Chape chegam à Arena Condá para homenagens

Danilo Lavieri, Felipe Vita e Luiza Oliveira

Do UOL, em Chapecó

03/12/2016 12h25Atualizada em 03/12/2016 15h15

Quase três horas depois de os dois aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) com os corpos das vítimas do acidente aéreo com o elenco da Chapecoense chegar ao aeroporto de Chapecó, receber honras militares e deixar o local em cortejo fúnebre, as vítimas chegaram à Arena Conda, onde foram recebidos pelos milhares de torcedores dentro e fora do estádio. Ao som de "o campeão voltou" e outras músicas. 

A torcida, mesmo de longe, mostrou muita emoção na chegada dos 50 caixões ao estádio. Assim que que os caixões foram sendo posicionados, as famílias já se aproximavam de seus entes queridos. 

Além das faixas de "heróis" e "#forçaChape", uma grande faixa agradecendo ao Atlético Nacional, que seria o adversário da Chape na final da Copa Sul-Americana, foi estendida: "Obrigado, Atlético Nacional". 

A solenidade foi marcada pela emoção dos discursos, nas arquibancadas e no gramado, onde se encontravam os parentes e amigos mais próximos das 50 vítimas veladas na Arena Condá. Autoridades da política e do mundo do futebol estiveram presentes. 

O presidente Michel Temer, o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, o embaixador da Colômbia, o presidente da Fifa Gianni Infantino, o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, além de ex-jogadores de fora do país como Puyol e Seedorf marcaram presença no estádio para homenagear as vítimas. 

A cerimônia foi iniciada com discurso em homenagem ao clube e às vítimas. “Não era assim que esperávamos trazer os nossos guerreiros para casa. Não era assim que esperávamos que acontecesse. Chegou a hora de vivenciarmos o momento mais difícil do clube e da cidade Chapecó. A hora do Adeus. A hora de respeito, de amizade, de humanidade e tristeza. Se pudéssemos descrever o que vivemos esses dias, faltará paginas. O sentimento é transformador. Os corações pararam por milésimos de segundos e voltaram a bater carregados de emoção. Assim é a Chapecoense. Um time com um turbilhão de emoções”.

“Apesar da pouca idade, apenas 43 anos, a Chapecoense é a caçula do Campeonato Brasileiro, cinco título do catarinense e uma ascensão meteórica. Em 2009 subiu da série D para a C, mas foi em 2012 que foi o grande salto, ao conquistar o direito de disputar a Série B de 2013. Naquele ano, conquistou o seu maior feito que foi subir para a Série A, onde está até hoje”.

"A Chapecoense vai continuar", diz vice-presidente Ivan Tozzo

O vice-presidente da Chapecoense, Ivan Tozzo, fez um longo pronunciamento emocionado e com agradecimentos. “Tentar traduzir em palavras uma homenagem a pessoas tão especiais que nos encheram de alegrias e partiram de forma tão inesperada. Desejo do fundo do meu coração que as palavras expressem todo o sentimento que carregamos no peito. Milhões de pessoas de todas as partes do mundo unem-se em orações nesse momento. Acalenta os nossos corações em um só ritmo. Queridos torcedores, famílias. Nossos pequeninos, não percam esperança. Aos nossos irmãos da Colômbia que nos ampararam em momento delicado, cuidando como seus e nos fazendo sentir a mais profunda gratidão. Nesse momento de triste ressalta o papel de união entre todos os povos. Nosso agradecimento à Fifa, Conmebol, e à CBF, aos nossos apoiadores, voluntários e que ajudaram a Chapecoense. Nossos mais sinceros agradecimentos. A Chapecoense nos ensinou muito. A pequena tribo de Condá se agigantou e fez o Brasil e o mundo cantarem em uma só voz. O sonho não acabou. Ele renascerá em cada um de nós que vê na Chape a luz de um caminho que vale a pena seguir. A Chapecoense vai continuar. O time que nos ensinou que tudo é possível, que mostrou o que há de mais valoroso no ser humano através dos princípios da ética e da determinação. Provou que para ações não há tamanho. Que o criador da sabedoria nos ilumine. Somos todos Chapecoense. Meu muito obrigado”. 

"Obrigado, Atlético Nacional"

O prefeito de Chapecó, Luciano Buligon subiu ao palco com a camisa do Atlético Nacional e discursou agradecendo ao clube e à Colômbia por todo apoio que têm dado com relação aos mortos e aos sobreviventes, que ainda estão internados no país. 

"Deus também tem o direito de chorar por isso chove tanto na Arena de Condá. Presidente Michel Temer, presidente da Fifa, Infantino, governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, embaixador da Colômbia no Brasil. Tenho a honra nesse momento de falar em nome de todos esses que se tem e também em nome dos 210 mil habitantes de Chapecó. Preciso reconhecer que a Colômbia, através de sua prefeitura, através do prefeito, autoridades da Antiópia, da ministra das relações exteriores, seu povo, sua gente, fez com que nós nos aproximássemos de forma a nunca mais esquecer o que Chapecó fez. Muito obrigado, Colômbia!

Todos os médicos estão aqui, menos um que ficou lá. Não é à toa que visto a camisa do atlético Nacional de Medellín. O seu clube fez uma homenagem belíssima a todos nós. O mais brilhante de todos foi a frase que colocaram em sua página na internet: a Chapecoense veio para Medellín com um sonho e voltou como uma lenda. Lendas não morrem, lendas deixam para nós heranças. Heranças de uma administração transparente, de um futebol com jeito antigo, de que uma cidade pequena pode ser gigante com boa diretoria e um povo com gana de vencer e conquistar".

Infantino lamenta forma trágica e ressalta: eternos campeões

"Não há palavras para quem perdeu alguém desta maneira trágica. Estamos aqui do lado para homenagear os que perderam a vida de uma maneira trágica. Queremos mandar uma mensagem do mundo do futebol. Estamos todos do seu lado e a Fifa esta também. Não só hoje, mas sempre. Forca Chape. Eternos Campeões. Somos todos brasileiros. Somos todos Chapecoense". 

Do lado de fora da Arena, a torcida assiste à cerimônia por meio de um telão.

Nem mesmo a chuva afastou os diversos torcedores que foram ao estádio para a despedida dos jogadores e outros integrantes do clube que morreram no acidente.

Parentes e amigos próximos das vítimas se despedem de seus entes queridos no gramado, em uma área coberta próxima dos caixões. Na arquibancada, os torcedores se dividem entre o silêncio, cantos e aplausos. “Vamos, vamos, Chape” e “Ole, ole, ole, ole, Chape” são algumas das palavras ditas pela torcida.

A mãe do goleiro Danilo, Ilaídes Padilha, foi muito aplaudida ao dar uma volta no gramado antes da chegada dos caixões.