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Familiares e amigos se despedem de Danilo: "coragem e determinação"

Weslle Montanher e Napoleão de Almeida

Colaboração para o UOL, em Cianorte (PR)

04/12/2016 20h06

“Foram inúmeras as vezes que ele me ligou chorando. Era apaixonado pelo futebol, e precisou superar o preconceito com a altura (1,85 m) e uma lesão no pé. Começou como uma dúvida e morreu como um herói. Ele tinha coragem e determinação.” Assim o melhor amigo de infância do goleiro Danilo, Rodrigo Andreassi, definiu o atleta da Chapecoense, morto no acidente aéreo da última terça.

A história do “Mãos de Parede”, como ficou conhecido entre os torcedores da Chapecoense, começou no interior do Paraná, em Cianorte, cidade a 600 quilômetros de Curitiba e com pouco mais de 78 mil habitantes. 

Ainda pequeno brincava de futebol com o pai, Eunício Padilha no campinho em frente à casa dele. “Amava tanto o futebol que quando era criança, uma vez eu encontrei ele dormindo dentro do gol à noite”, recorda ainda inconsolável com a tragédia que colocou fim aos sonhos do filho. “Hoje enterrei o Danilo, mas com a certeza de que ele se foi fazendo o que amava, jogar bola”, afirma Eunício.

Já rodado, aos 28 anos ele chegou à Chapecoense, tido como uma incógnita pela diretoria do clube catarinense. Acabou se tornando uma lenda. Foi fundamental para fazer a Chape subir à Série A. “De baixo o Danilo só tinha a idade, porque a especialidade dele era fazer o time subir e nunca cair”, relembra outro amigo, Adir Kist.

Danilo e Kist jogaram juntos no histórico jogo do Cianorte FC contra o Corinthians em 2005, comandados por Caio Junior, outra vítima do acidente. Na época Danilo era reserva, mas no mesmo ano assumiu a titularidade, com a aposentadoria do colega. “O Danilo foi muito mais que um colega de time, era um irmão. Não existem palavras para descrever a grandeza dele com ser humano” recorda o ex-goleiro e atual gerente do Cianorte.

“Superar obstáculos era a principal marca do Danilo” lembra o amigo Elias Nascimento Felício, o Bidia, volante do Londrina, clube por qual o goleiro jogou entre 2012 e 2013. “Quando a gente falava no Danilo, a gente falava de um cara que entrava em campo com garra. Um cara que sabia da missão dele e que tinha por característica buscar vitória para o torcedor.”

Trajetória vitoriosa no Paraná

Danilo esteve no ACP, de Paranavaí, em 2008. Dali, foi ao Londrina, ajudando o Tubarão no início da caminhada que levou o clube à Série B nacional. Atuou ainda no Operário de Ponta Grossa e no Arapongas, todos do Paraná. Em 2013, por indicação de Kist, entrou na Chapecoense, repetiu a categoria e levou a Chape à Série A do Brasileiro.

Fora de campo, Danilo era exemplo para muita gente. “Nunca o vi desrespeitar ninguém. Sabia o quanto custava para ganhar cada centavo e jamais esbanjou. Aliás, o filho e a família sempre em primeiro lugar”, comenta uma das tias do goleiro, dona Leonice Celini.

Na despedida, a mãe Alaíde vestiu as luvas que o consagraram

O carinho e gratidão que tinha pelo torcedor eram a marca dele. Característica que em momento algum a mãe, Alaíde Padilha, deixou em vão. “Eu enterrei meu filho sem dar um último adeus, sem olhar ele. Mas, eu senti acolhida por todos, sem exceção. As pessoas me perguntam porque a Chapecoense não me ligava. Me ligar como se eles perderam todos? Em memória de meu filho eu me senti no dever de abraçar a todos vocês, torcedores, imprensa e clube. Não tenho nada a dizer do clube, porque a dor é igual, tenho apenas que agradecer este imenso carinho. Tenho certeza, que se estivesse vivo ele iria estar muito feliz com todo este amor”.

Na cidade natal, mais de 10 mil pessoas se reuniram no Centro Eventos Carlos Yoshito Mori para se despedir do goleiro. No velório em Cianorte, as luvas do craque ficaram postas sobre o caixão e durante o enterro. Dona Alaíde fez questão de usá-las. Pelo percurso do cortejo que passou em frente ao campinho onde tudo começou, ela acenava para o público que se despedia pela última vez do grande herói de Chapecó, de Cianorte, do futebol, do Brasil.