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Funerária que preparou as vítimas cresceu nos tempos de Pablo Escobar

Caixões com as vítimas dos acidentes da Chapecoense são preparados para viagem ao Brasil - AFP PHOTO / Raul ARBOLEDA
Caixões com as vítimas dos acidentes da Chapecoense são preparados para viagem ao Brasil Imagem: AFP PHOTO / Raul ARBOLEDA

Felipe Pereira

Do UOL, em Medellín (Colômbia)

04/12/2016 06h24

A tragédia com o avião que transportava a Chapecoense exigiu grande infraestrutura da Colômbia com 800 pessoas trabalhando. A força tarefa contou quatro funerárias e elas foram coordenadas pela San Vicente, que fez quase todo o serviço.

Fundada em 1971, ela teve uma explosão no crescimento nos tempos de Pablo Escobar. Como muitos moradores de Medellín o dono, Luis Fernando Arango, fala contrariado sobre o cartel. Ainda assim relata que havia muito trabalho em seu estabelecimento na década de 1980 e começo de 1990.

“Foi uma época de muita morte e fomos muito protagonistas. Não tenho saudade porque todo dia convivia com a dor e angústia de pessoas que perderam um ente querido por morte violenta”.

Ele lembra que além da disputa do narcotráfico, havia uma promessa de Pablo Escobar em pagar por policial assassinado. Não faltavam vítimas da violência. Muito corpos chegavam em estado bastante degradados porque na lei do crime barbáries assustam os inimigos e dão status.

Luis Fernando conta que a experiência adquirida nesta época aumentou a qualidade dos funcionários e hoje este aprendizado na guerra urbana serviu para acelerar a liberação dos corpos ao Brasil.

A morte era algo tão comum que na década de 1980 a funerária começou a oferecer uma espécie de consórcio do enterro. O cliente pagava uma pequena quantia durante vários meses e depois de um período tinha um enterro garantido.

Um call center foi montado naquele período e com o tempo até as empresas passaram a oferecer o serviço com um benefício aos empregados. Ou seja, a carteira assinada rendia plano de saúde e plano de enterro. Este quartel general de venda de planos funerários existe até hoje e emprega 35 pessoas na San Vicente.

A demanda de trabalho por causa do narcotráfico era tamanha que a funerária se tornou a maior da Colômbia, diz Luis Fernando. Os funcionários mais antigos da San Vicente ressaltam que a morte sempre foi uma certeza, mas naquele tempo havia impressão que ela podia ser a qualquer momento.