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Fernandinho na zaga? Brasileiro pode ser solução dos problemas de Guardiola

Reuters
Imagem: Reuters

Do UOL, em São Paulo

10/12/2016 06h00

Qual a posição do argentino Javier Mascherano? No Barcelona, a resposta é simples: zagueiro. Eleito um dos melhores meio-campistas da Copa do Mundo de 2014, o jogador atua na última linha de defesa desde a passagem de Pep Guardiola pelo clube espanhol. Hoje, um brasileiro pode passar pela mesma transição.

Parte dos planos do técnico da seleção brasileira, Tite, como volante, Fernandinho está se tornando o maior curinga do elenco do Manchester City. Desde que Guardiola chegou à Inglaterra, se rendeu à polivalência do ex-jogador do Atlético-PR. “Fernandinho tem uma leitura de jogo muito grande. Ele pode jogar em dez posições em campo”, afirmou o treinador após seus primeiros treinos.

Problemas em estreia na função
Fernandinho lamenta expulsão na partida Borussia Monchengladbach x Manchester City pela Liga dos Campeões da Europa - Patrik Stollarz/AFP Photo - Patrik Stollarz/AFP Photo
Fernandinho lamenta expulsão na partida contra o Borussia Monchengladbach
Imagem: Patrik Stollarz/AFP Photo

O efeito disso é seu uso cada vez mais recuado. Na quinta rodada da fase de grupos da Liga dos Campeões, empate em 1 a 1 com o Borussia Monchengladbach, por exemplo, ele apareceu na escalação na linha de zaga. Ao explicar a função, Guardiola disse que Fernandinho “iria flutuar entre o meio-campo e a defesa, atuando no centro da linha de zaga quando necessário”. Não foi a melhor das partidas do brasileiro. O City empatou em 1 a 1 e Fernandinho acabou expulso.

Sua atuação, porém, chamou atenção. Com ele, a saída de bola do time evoluiu. A ligação defesa-meio foi mais fluída. Não que tenha sido tudo perfeito: a marcação, tanto no meio-campo quanto na defesa, sofreu. A nova função do brasileiro é fruto direto das dificuldades com zagueiros do City na temporada.

Kolarov também é improvisado
Fernandinho tenta segurar Iniesta na derrota do Manchester City em Barcelona - Alex Caparros/Getty Images - Alex Caparros/Getty Images
Fernandinho tenta segurar Iniesta na derrota do Manchester City em Barcelona
Imagem: Alex Caparros/Getty Images

Quando chegou, Guardiola pediu a contratação de dois zagueiros. Só um chegou, o jovem Stones, vindo do Everton. Os outros zagueiros de ofício do elenco eram Otamendi, que vem tendo uma temporada desastrosa, e Kompany, que passa mais tempo no departamento médico do que em campo.

Com isso, o lateral-direito Clichy, o esquerdo Kolarov e Fernandinho já foram usados na função. Os dois últimos foram os que melhor desempenharam a função. Não à toa, são os jogadores que mais atuaram pelo time na temporada. Fernandinho é o recordista, com 19 partidas (todas como titulares) e 1653 minutos. O sérvio tem os mesmos 19 jogos, com 1561 minutos.

Até Yaya Touré já foi para a zaga

Os dois são apenas os mais novos de uma longa lista de improvisações de Guardiola em suas equipes. No Barcelona, ele transformou Mascherano em um dos melhores zagueiros do mundo, mas também chegou a deslocar Yaya Toure para a defesa: na final da Liga dos Campeões da temporada 2008/09, o marfinense fez a dupla de zaga ao lado de Puyol contra o Manchester United (e levantou o troféu). Toure, após uma briga entre seu empresário e o técnico, voltou a ser usado no City e já se prontificou a voltar a atuar na defesa.

No Bayern de Munique, os alvos foram Javi Martinez, David Alaba e Xabi Alonso. Os dois espanhóis, como Fernandinho, são volantes de origem. O austríaco é lateral-esquerdo, como Kolarov. Alaba e Alonso, porém, só foram usados na função em momentos específicos, quando Guardiola usou linhas de três defensores – algo que ele tem adotado com frequência no City.

Ingleses querem mais zagueiros-zagueiros

Todas essas experimentações, porém, não estão fazendo sucesso na Inglaterra. Em uma coluna no Guardian, o jornalista britânico Jonathan Wilson ligou a alta dos gols marcados no país não à qualidade dos sistemas ofensivos ou dos atacantes, mas justamente a sistemas de jogos que privilegiam toque de bola ao custo de marcação eficiente.

“Zagueiros e goleiros não são mais escalados por sua capacidade de parar o ataque adversário, mas também por sua habilidade de passar a bola. Nesse sentido, é notável a queda de qualidade nos jogadores de habilidades básicas de defesa”, apontou Wilson.

Nesse contexto, o City é o grande exemplo: ao chegar, Guardiola definiu que não trabalharia com Joe Hart, considerado o melhor dos goleiros ingleses por sua habilidade embaixo das traves, mas que não tinha qualidade com os pés. Ele trouxe Claudio Bravo, do Barcelona, que está sofrendo até aqui na Inglaterra. Tanto que a defesa da equipe está longe da eficiência sonhada. O time só deixou de sofrer gols em duas rodadas do Campeonato Inglês até agora e, em 14 partidas, levou 15 gols.