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Corintianos presos no RJ contam em carta medo de guerra entre facções

Corintianos presos no Rio de Janeiro enviam carta a colegas de torcida organizada relatando medo de guerra entre facções criminosas e pedindo transferência. - Repdrodução/WhatsApp
Corintianos presos no Rio de Janeiro enviam carta a colegas de torcida organizada relatando medo de guerra entre facções criminosas e pedindo transferência. Imagem: Repdrodução/WhatsApp

Aiuri Rebello*

Do UOL em São Paulo

13/01/2017 13h52Atualizada em 13/01/2017 18h30

Corintianos presos no Rio de Janeiro há mais de 80 dias sem julgamento enviaram uma carta a colegas da torcida organizada da qual fazem parte relatando medo da guerra entre facções criminosas que dominam o Complexo Penitenciário de Bangu, onde estão presos. Eles pedem ajuda para conseguir transferência de presídio.

A carta é escrita a mão e datada de 10 de janeiro de 2017, e foi entregue a familiares dos presos durante visita recente. "Estamos vivendo dentro desse inferno chamado Bangu 10", começa a mensagem, que depois fala da transferência de 600 detentos que seriam da facção criminosa ADA (Amigos dos Amigos) para a unidade onde estão os corintianos.

"Depois que os cara tomou a cadeia estamos vivendo no nosso limite, sem direito a água pão e rango. Parça, a cadeia tá tensa e mais dia menos dia a cadeia vai virar e nós estamos no meio do fogo cruzado, no meio de duas facções correndo risco de vida", afirmam os corintianos presos na carta.

Segundo o presidente da torcida organizada da qual os autores da carta fazem parte, e que pediu para não ser identificado até ter a autorização da família dos detentos, os advogados do grupo já foram informados da situação e pediriam providências ao governo do Rio de Janeiro.

A carta é assinada por quatro integrantes de uma torcida organizada corintiana e endereçada ao presidente da torcida. Junto com eles, outros corintianos de outras organizadas e independentes seguem presos indefinidamente.

Eles estão presos preventivamente desde uma briga nas arquibancadas do Maracanã em partida do time paulista contra o Flamengo, em 23 de outubro do ano passado. Na ocasião, a PM carioca mandou as mulheres e crianças saírem, após o jogo, e manteve detidos na arquibancada 3.000 corintianos para identificação. Ao todo, 31 deles foram presos. No grupo, estão alguns que comprovadamente não estavam na confusão. Câmeras de segurança mostram eles em outros pontos da arquibancada na hora da briga ou mesmo fora do estádio, mas seguem presos.

No dia seguinte, a Justiça transformou a prisão em flagrante dos torcedores em preventiva. Na decisão da juíza Marcela Caram, constavam imagens de TV de apenas quatro dos 31 presos. Os outros foram reconhecidos por quatro policiais. Desde então, dois deles haviam conseguido habeas corpus e um menor foi solto pela Vara da Infância e da Juventude, ao constatar que ele não participou da briga. Em meados de dezembro, mais um corintiano foi solto.

A denúncia do Ministério Público contra os torcedores é de tumulto em eventos esportivos, lesão corporal, dano ao patrimônio público, resistência, corrupção de menor e associação criminosa. Se condenados, as penas podem chegar a 21 anos de prisão.

A Secretaria de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro afirma que "que os 27 internos estão separados dos demais na Cadeia Pública José Frederico Marques, no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu". A nota enviada pela assessoria de imprensa ao UOL afirma ainda que "a rotina das unidades prisionais permanece normal", e que os corintianos estão isolados dos outros detentos desde a entrada na prisão. 

Veja a carta enviada pelos corintianos na íntegra:

Rio de Janeiro 10 de janeiro de 2017

Salve XXX venho por meio desta carta passar o que realmente estamos vivendo dentro desse inferno chamado Bangu 10. Irmão a fita é o seguinte, não sei se você ouviu falar sobre a transferência de 600 presos do A.D.A. pra cá o que acontece é o seguinte, depois que os caras tomou a cadeia estamos vivendo no nosso limite, sem direito a água, pão e rango. Parça a cadeia tá tensa mais dia menos dia a cadeia vai virar e nóis estamos aki no meio do fogo cruzado no meio de 2 facções correndo risco de vida. Por isso estamos te passando essa visão pra que você corra aí fora por nois como nois daria nossa vida pela torcida. Queremos que você faça essas ideia espandir caia no ouvido de quem for possível pra que tire ou transfira nois daki o mais rápido possível. Irmão comova todos, parceiro nosso e lute por nois! Esse é nosso pedido de coração. Forte abraço! Contamos com vocês! Como sempre lutamos pela torcida hoje estamos precisando que a torcida lutem por nois... Obrigado XXX fé em Deus...

* (Colaborou Ricardo Perrone, do UOL em São Paulo)