3º maior artilheiro da Ponte teve 4 AVCs e quase morreu. Hoje busca emprego
Terceiro maior artilheiro da história da Ponte Preta, com 105 gols, Chicão pode ser encaixado no grupo de jogadores que, apesar do relativo sucesso na carreira, não conseguiu fazer o chamado ‘pé de meia’ e hoje passa dificuldades financeiras. Mas não é só esse problema que o ex-atacante precisou enfrentar depois de pendurar as chuteiras. Chicão sofreu um infarto, quatro AVC’s, por pouco não ficou cego e viu a morte bem de perto. Hoje, está bem de saúde, apesar de algumas sequelas na fala, mas ainda luta contra a falta de dinheiro.
Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Chicão, hoje com 54 anos, conta detalhes não apenas do atual desemprego e dos problemas que quase o levaram à morte e à cegueira, mas também dos bons momentos que viveu na carreira, especialmente na Ponte Preta, onde começou logo aos 15 anos. Nascido em Rio Brilhante (MS), o ex-atacante de Santos, Coritiba, Botafogo, Bragantino, Santa Cruz e Atlético-PR hoje reside em Campinas com a família.
Onde tudo começou... e muito bem

Copa São Paulo
Eu disputei duas Copas São Paulo e fui campeão nas duas, em 1981 e 1982, e as duas foram especiais pra mim: na primeira eu fui campeão e artilheiro junto com o Casagrande, com cinco gols, e em 82 eu fui artilheiro sozinho com oito gols e o melhor jogador da Taça São Paulo.
Prata em Los Angeles 1984: “estávamos largados”
Eu fui com o Jair Picerni, ele era o treinador. Não ganhamos porque nós estávamos muito largados, não teve aquele: ‘ah, nós vamos jogar, então vamos nos concentrar porque é um jogo decisivo contra a França na final’. Não teve nada disso. Aí a França fez 2 a 0. Faltou foco. ‘Vamos ganhar’, mas faltou foco, faltou concentração, seriedade, pegada, não teve nada disso.
AVC e infarto quase tiram vida de Chicão

A minha esposa largou do emprego, ficou comigo, com frequência ia comigo para o hospital, eu ficava internado, mas aí eu melhorei e fiquei com dificuldade para falar. Fui na fonoaudióloga... a dificuldade é na doença, não tem jeito. Se eu falo baixo ou moderado eu não erro nada... Agora, se eu quiser falar rápido, aí eu erro. Eu tive ainda quatro AVC’s. No início eu tive um, depois de um tempo eu tive dois, e no outro eu quase fiquei cego. Eu bati num carro, e eu falei: eu estou enxergando reto, não consigo enxergar dos lados... Aí eu fui para o hospital e fui informado que se não voltasse em duas horas a minha visão dos lados eu ia ficar cego... Depois de duas horas eu olhei e vi que estava enxergando dos lados também. Eu fiz uma curva e bati o carro de raspão no outro carro, aí eu parei, falei com o cara do outro carro e disse que não estava enxergando nada e fui direto para o hospital; a minha esposa foi dirigindo e se em duas horas eu não voltasse a enxergar eu ia ficar cego. Isso depois de cinco anos do infarto.
Desemprego e dificuldades financeiras

Eu não tenho aposentadoria ainda, a minha esposa trabalha e eu vivo capengando. Eu preciso voltar a trabalhar porque senão vou passar dificuldade. Os meus filhos [casal] ajudam, a minha mãe me ajuda, mas é difícil. A minha esposa trabalhava no condomínio, aí a minha filha ganhou um bebê e vai pagar para minha esposa ajudar ela. A minha filha volta a trabalhar depois da licença maternidade e a minha esposa vai cuidar do neto.
Oportunidade na Ponte Preta?
Eu tento, tento, tenho amigos que foram falar com o presidente, mas não dá em nada. Eu joguei nove anos na Ponte Preta, então eu tinha que ser bem aceito. Eu fui homenageado pela Ponte Preta, mas eu não sei o que se passa lá. Eu sou conhecido pelos torcedores, joguei no amistoso Turma do Dicá x Turma do Marco Aurélio, eu fiz dois gols e os torcedores disseram que eu tinha que voltar... Não sei o que dizer, acho que não sou bem visto. O meu filho falou que eu estava desempregado e a TV Bandeirantes veio aqui fez uma entrevista comigo, mas não surtiu efeito.
Pé de meia? Não deu...
Eu não ganhava nada naquela época. Eu joguei nove anos na Ponte Preta, aí fui para o Santos... As luvas que eu recebi eu dei tudo para o meu pai, para comprar uma fazenda, aí ficou com ele e ele foi me dando aos poucos. Depois fui para o Coritiba e Botafogo e foi com o que eu ganhei no Botafogo que eu consegui fazer a minha casa, mas andando a pé. Eu ia a pé para o treino no Botafogo, ia para o supermercado a pé, voltava com um monte de sacolas nas mãos, aí entrava no ônibus e todo mundo me conhecia, e o pessoal do Rio de Janeiro é muito bacana, então eu consegui construir esta casa aqui em Campinas com o dinheiro que eu recebi no Botafogo.
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