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Especialistas em marketing se dividem sobre Ronaldinho no Coritiba

Filippo Monteforte/AFP
Imagem: Filippo Monteforte/AFP

Napoleão de Almeida

Colaboração para o UOL, em Curitiba

16/01/2017 16h09

Jogada de mestre ou fiasco à vista? Enquanto estuda as maneiras de convencer Ronaldinho a se juntar o clube – e internamente discute o valor dessa possibilidade – a diretoria do Coritiba assiste ao mercado e aos torcedores entrarem na onda do R10, fenômeno de carisma e esperança. Se a possibilidade é animadora para uns, outros temem a repetição do que se viu com Ronaldinho em Flamengo e Fluminense – agora, num clube financeiramente menos forte.

“Eu acho uma piada. Um jogador que não entra em campo... a não ser que o Coritiba queira algum tipo de embaixador. Não é por que vai contratar ele que vai expandir a marca. É o padrão de sempre, como agora o Drogba no Corinthians”, disse Amir Somoggi, consultor em marketing que prestou serviços ao próprio Coxa em 2015. A opinião dele não é compartilhada por Rodrigo Barp, gerente do projeto Gols Pela Vida, apadrinhado por Pelé, e ex-consultor de marketing da Federação Paranaense: “O Coritiba traria um grande ídolo do futebol mundial, para mobilizar sua torcida, criar uma estratégia aumentasse número de sócios, toda a cadeia de merchandising que o clube tem", disse.

O projeto coxa-branca para Ronaldinho é uma ideia de Juliano Belletti, diretor de relações internacionais do clube, encampada pelo vice-presidente Alceni Guerra. Também na diretoria, o consultor e braço direito da presidência Ernesto Pedroso – um dos padrinhos do técnico Paulo César Carpegiani no clube – já se mostrou contrário a iniciativa. Ronaldinho, 36 anos, e seu irmão e empresário Assis estarão diante desse cenário e de uma proposta que envolve um salário fixo num teto de R$ 300 mil por mês e mais comissões em tudo aquilo que ultrapassar as médias atuais do clube em número de sócios, bilheteria, venda de camisas e publicidade.

Somoggi é taxativo quanto ao conceito. “Na minha opinião é um erro brutal. Ronaldinho tem que se aposentar e curtir a vida. O Flamengo pagou muito caro com Ronaldinho, o Botafogo pagou caro com Seedorf e não deu retorno nenhum”, argumentou, numa linha diferente de Barp. “Tudo isso têm que ter uma racionalidade financeira. O Coritiba não deve se lançar numa aventura financeira, que não extrapole limites orçamentários. Mas é uma oportunidade de utilizar o jogador no relacionamento com patrocinadores, criar mecanismos que isso possa favorecer os que já são parceiros e trazer novos”, idealizou.

A repercussão da negociação deu uma mostra da atenção que o Coxa pode obter com Ronaldinho. A notícia estampou vários jornais Brasil afora. Ainda assim, Somoggi contesta o real valor disso: “Ele não atrai patrocínio com capa de jornal. O que atrai é um projeto de marketing, que o Ronaldinho já mostrou que não é envolvido.” O envolvimento real do R10 com o clube é uma ressalva também feita por Barp. “Acredito no comprometimento dele com o clube especialmente pela figura do Belletti. Imagino que nas conversas entre eles essas bases sejam tomadas como uma ótima chance dele trilhar mais alguns anos de carreira.”

A principal dúvida de todos é quanto ao jogador que o Coritiba terá, se vencer a disputa com o Nacional uruguaio pelo ingresso de “Dinho”. Ronaldinho não atua desde setembro de 2015, quando enfrentou o Goiás pelo Fluminense. Seu último gol foi em maio do mesmo ano, pelo Querétaro conrra o Veracruz no Campeonato Mexicano. “Não é assim que se paga a conta. Você usa dentro de um contexto em que ele jogue futebol, senão não adianta”, expôs Somoggi. Barp concorda, mas com mais otimismo. “Tecnicamente existe uma certa dúvida, pelo fato dele ter ficado afastado do futebol, mas obviamente se ele tiver condições físicas, seria uma liderança dentro de campo.”

Inevitável lembrar da chegada de Alex ao Coxa, já no final de 2012. O meia recusou propostas de Palmeiras e Cruzeiro e voltou para o clube que o revelou, também aos 36 anos. Ganhou um título estadual e ajudou o clube a se manter na Série A, mas o clube acabou não tendo a resposta que esperava no mercado. “Foi péssimo”, cravou Somoggi, que passou pelo clube logo após Alex se aposentar, “A exploração foi pífia, muito complicado. O principal motivo é saber como explorar isso.” Barp observou ainda que o Coxa – e os clubes brasileiros, no geral – não exploram os ídolos como deveriam, citando o desligamento total de Alex com o Coxa como exemplo. “O ídolo é importante, como embaixador, como a figura que tem a relação com a comunidade. Ele atua um tempo fora de campo e as relações não permanecem, independente de quanto tempo ele ficou no clube. Os clubes deveriam estar mais atentos a isso.”