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Gremista fanático, Teori Zavascki era confidente de presidente do clube

Teori Zavascki (foto) era amigo de Paulo Odone e participou da vida do clube - Pedro Ladeira/Folhapress
Teori Zavascki (foto) era amigo de Paulo Odone e participou da vida do clube Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Jeremias Wernek

Do UOL, em Porto Alegre

20/01/2017 04h00

Teori Zavascki, 68 anos, era torcedor ativo do Grêmio e chegou a ser conselheiro do clube. Vítima de acidente aéreo em Paraty, litoral do Rio de Janeiro, o Ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) ainda atuou como confidente de dirigentes do clube e lamentou até os últimos dias um golpe do destino: perder o jogo contra o Náutico, na Série B de 2005, in loco.

“Ele foi um grande gremista. A nossa amizade tinha mais de 40 anos, ele me ajudou bastante e inclusive quando estávamos na Segunda Divisão”, conta Paulo Odone, ex-presidente do Grêmio e antigo colega de Zavascki. "Ele me aconselhou muito juridicamente e também pessoalmente", acrescenta.

Odone é a chave para o início da vida de Teori Zavascki no Direito e no Grêmio. Natural de Faxinal dos Guedes, no oeste catarinense, ele se formou na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) em 1972. Poucos anos antes, fez estágio em um escritório de advocacia em Porto Alegre e lá conheceu Paulo Odone e Luiz Carlos Madeira.

“Ele foi trabalhar no nosso escritório, todos nós éramos gremistas. O Madeira era conselheiro, eu virei conselheiro depois. Ele chegou já assistindo Grêmio, íamos a diversos jogos naquela época. Por fim, a gente via tudo pela TV, não tinha mais como ir sempre aos jogos”, relembra Odone.

Nos anos 1980, Teori Zavascki foi inscrito em uma chapa e se elegeu conselheiro do Grêmio. Se manteve no quadro de torcedores com participação nas políticas do clube até 2013. E a saída rendeu uma brincadeira junto ao amigo.

“Ele brincava comigo que eu tinha tirado ele do conselho do Grêmio. Ele ficou fora da lista de conselheiros da chapa, ou então mais para baixo na inscrição, e falava isso. Ele brincou muito com isso”, revela Paulo Odone.

Apesar de estar na relação, o ministro pouco participava das reuniões. A ausência nunca rendeu reprimenda e as contribuições dadas fora do salão do conselho deliberativo eram maiores. E todas em forma de aconselhamento. Consultas.

“Ele ajudou o Grêmio, ele aconselhava quando a gente pedia uma ajuda. Dizia como proceder, como defender. Óbvio que ele não atuou, ele não poderia pelo exercício do cargo dele. Mas ajudou o Grêmio”, garante César Pacheco, ex-dirigente do clube gaúcho.

Um dos casos ocorreu durante a gestão Paulo Odone, que presidiu o Grêmio em três oportunidades.

“Como ele tinha sido diretor do Banco Central, tinha sabedoria. Houve autuação pesada ao Grêmio por uma transferência internacional. O dólar era distante no paralelo e no câmbio. Eu não tinha feito nenhuma operação, mas tinha autuação contra o Grêmio de anos anteriores. Fui surpreendido e procurei ele para me aconselhar da legislação, saber como deveria agir. Ele me ajudou muito. O Grêmio foi absolvido da demanda e ela era pesada”, recorda.

No começo e quase no fim

O ano de 2005 foi duro para qualquer gremista. De novo na Série B, o Grêmio começou perdendo para o Gama por 2 a 0. A partida, em Brasília, marcou a estreia de Mano Menezes – contratado horas antes. E teve um espectador especial: Teori Zavascki.

“Ele assistiu Grêmio e Gama, em Brasília, na estreia da Série B. Ele estava do meu lado. E lembro que ele quase esteve no último jogo também, contra o Náutico. “O Teori sempre recordava que eu convidei ele para ir com o time na Batalha dos Aflitos e ele ia, mas na última hora não pôde. ‘Perdi de ver tudo aquilo in loco’, dizia ele”, comenta Odone.

Atento aos jogos e as notícias do clube, Teori era conhecido pela discrição. O Grêmio era o fio condutor das conversas com amigos de Porto Alegre na maioria dos encontros, casuais ou agendados.

“Eu e o Duda (Kroeff, presidente do Grêmio entre 2009 e 2010) fizemos uma visita a ele, em 2010, no STJ. Elenos atendeu muito bem. Era um gremista ativo”, aponta César Pacheco. “O ‘baixinho’ sempre foi muito discreto. Gostava de fumar um charuto, mas era sempre na dele”, completa depois.

Em seu site oficial, o Grêmio emitiu nota de pesar após a confirmação de morte de Teori Zavascki. O texto destaca a atuação no Conselho Deliberativo até 2013 e o status de 'notório gremista'.