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'Gato' da Copa SP cita pais e se diz arrependido: 'Eu não sou bandido'

Braian, do Paulista de Jundiaí - Marcos Bezerra/Futura Press/Estadão Conteúdo - Marcos Bezerra/Futura Press/Estadão Conteúdo
Heltton foi cobrado por Braian (foto), mas compreendeu: 'Até eu extravasaria'
Imagem: Marcos Bezerra/Futura Press/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

27/01/2017 20h16

O zagueiro Heltton Matheus, que usou documentos de uma pessoa mais nova para fraudar a inscrição na Copa São Paulo de futebol júnior 2017 pelo Paulista de Jundiaí, se mostrou arrependido pela fraude que protagonizou. Nesta sexta-feira, em entrevista à ESPN Brasil, o jogador citou várias vezes os pais para demonstrar arrependimento.

“Optei por jogar bola porque sei que, através do futebol, conseguiria dar uma velhice mais digna aos meus pais e ajudar aqueles que gostam de mim. Não só eu, mas todos os outros garotos que já tiveram um sonho de jogar futebol”, afirmou o jogador, oriundo do Jardim Catarina, bairro da cidade de São Gonçalo (RJ).

“Eles (os pais) se entristeceram demais. Eles não esperavam isso de mim, como todo mundo que me conhece não esperava. Eu não queria falar, mas como repercutiu negativamente, se eu mostrasse meu lado contrário, vocês veriam que eu não sou essa pessoa que a mídia está mostrando. Eu não sou bandido, não sou criminoso”, completou.

A possibilidade de dar uma vida mais tranquila aos pais, Nílton e Vânia, é uma das motivações de Heltton para jogar futebol. Por isso mesmo, o zagueiro se mostrou triste pela reação da mãe.

“Minha mãe estava muito triste, não esperava que isso fosse acontecer. Mas eu explicava tudo a ela e ela consegui mais ou menos entender. Ela era uma dos motivos (para jogar futebol)”, contou.

O pai também é um dos pilares da carreira do jogador – mas, sem saber, acabou “ajudando” na fraude dos documentos. O motivo: foi com o pai que conseguiu os documentos do também jogador Matheus Brendon, que acabou preso. Foi de Brendon, dois anos mais jovem, que Heltton assumiu a identidade – sem que os pais soubessem.

“Eu não peguei o documento dele porque ele estava preso. Ele estava solto e eu optei por pegar o documento dele. Ninguém sabia. Ele optou, por um momento, por jogar também. Teve uma documentação dele que o pai dele deu para o meu pai para fazer a inscrição no São Gonçalo (clube do RJ). Não deu certo, mas eu continuei lá. Aí eu tomei essa atitude”, assumiu.

“Essa foi minha primeira transgressão. Todos aqueles que me conhecem do meu bairro sabem que, se for pesquisar um pouquinho quem eu sou, vão falar que eu não sou mau-caráter. Nunca usei de má-fé, nunca tomei uma atitude como essa. Mesmo tomando essa atitude, não foi pra afligir ninguém”, acrescentou o defensor.

Heltton, do Paulista de Jundiaí - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
'Nunca usei de má-fé, nunca tomei uma atitude como essa', disse zagueiro Heltton
Imagem: Reprodução/Facebook

Em sua entrevista, Heltton – agora no Grêmio Osasco Audax, clube da Série A1 do Campeonato Paulista - também pediu desculpas aos ex-companheiros de Paulista. O jogador reconheceu que precisou tirar a vaga de um jogador regularizado para atuar, mas disse que não previu as consequências da atitude.

“Eu acho que nada do que eu falar aqui vai amenizar a dor que um companheiro meu pode estar sentindo agora. Mas eu queria pedir perdão. Fiz isso em prol da minha família. No momento, eu não medi esforços, acabei atropelando a oportunidade de alguém. Na hora, eu não medi as consequências”, afirmou.

“Depois do ocorrido, falei com os meninos. Tive a oportunidade de falar com alguns deles individualmente. Um deles foi o Braian. Tratei de pedir desculpa. Ele extravasou comigo, chateado. Até eu extravasaria. No final, ele disse: 'Eu estou te xingando, mas não consigo sentir raiva de você. Você é um moleque de grupo'”, completou.

A ajuda de Vampeta

Diante da repercussão do caso, o presidente do Grêmio Osasco Audax, Vampeta, optou por abrir as portas do clube para Heltton. Segundo o zagueiro, o dirigente disponibilizou advogados para ajudá-lo.

“Não esperava que ele fosse abrir as portas para mim. Mas ele disse com essas palavras: 'Esse menino, ele não é criminoso'”, declarou Heltton sobre o ex-jogador.

Outra ajuda importante veio de Alberto Luiz de Souza, seu empresário. Ex-jogador do próprio Paulista em 1999, campeão brasileiro pelo Santos em 2002, Alberto o ajudou na condução da carreira após o caso se tornar público.

“A princípio falei com o Alberto, meu empresário. Depois com o Vampeta. Como um homem de hombridade, ele (Alberto) correu atrás e procurou estar comigo”, disse Heltton, que se descreveu como “assustado”. “O Vampeta disse que ia se propor a me ajudar. Daí então eu vi que já poderia me retratar. Fiquei em choque”, completou.