Topo

Ex-Corinthians recorda treinador que o afastou por deficiência: "safadeza"

Djair (esq.), Sheidt e Rogerio participam de treino do Corinthians em 2000 - Jarbas Oliveira/Folha Imagem
Djair (esq.), Sheidt e Rogerio participam de treino do Corinthians em 2000 Imagem: Jarbas Oliveira/Folha Imagem

Marcello De Vico e Vanderlei Lima

Do UOL, em Santos e São Paulo

01/02/2017 04h00

Após ser revelado pelo Botafogo em 1989 e passar por uma série de clubes nos anos seguintes, incluindo Internacional, Flamengo, Fluminense, São Paulo e Cruzeiro, o meio-campista Djair foi parar no Corinthians em 2000. A passagem pelo clube de Parque São Jorge, porém, não durou muito, tudo, segundo Djair, por causa do técnico uruguaio Dario Pereyra, que havia assumido a equipe após a saída de Candinho. De acordo com o ex-volante, o treinador quis afastá-lo alegando 'deficiência técnica', atitude esta encarada como uma 'safadeza' por Djair.

Em entrevista ao UOL Esporte, o ex-jogador de 45 anos, hoje dono de uma loja de sapatos femininos e que encerrou a carreira aos 39, no Ituano-SP, dá detalhes de como ocorreu sua saída do Corinthians. Além disso, conta como foi sua rápida passagem pela Itália, fala sobre a importância de Joel Santana e Vanderlei Luxemburgo em sua carreira e revela onde viveu a sua melhor fase no futebol.

A 'safadeza' de Dario Pereyra no Corinthians

Ex-zagueiro Dario Pereyra marcou presença no enterro do compatriota - Joel Silva/ Folhapress - Joel Silva/ Folhapress
Imagem: Joel Silva/ Folhapress
No Corinthians eu tinha contrato de dois anos, mas eu tive um problema com o treinador Dario Pereira por safadeza dele, vamos dizer assim. Na época que eu estava lá tinham chegado eu, o Muller e o zagueiro Scheidt, e quando o Dario Pereira chegou ele trouxe o Otacílio, o Galo, hoje treinador, e o Gleguer, goleiro, isso em 2000. E como foi ele que trouxe esses jogadores, eles tinham que jogar, porque eram dele, vamos dizer assim. Aí ele foi e falou que não contava comigo por deficiência técnica, e aí eu falei: 'Pô, meu irmão, deficiência técnica? Você poderia inventar uma outra história, menos essa, pô, essa aí não cola, essa aí é para rir na sua cara'. Aí acabou que eu tive uma discussão feia com ele, brigamos dentro da sala e eu saí de lá, 'com ele eu não jogo mais', e ele também, 'não quer que eu jogue com ele', 'então vocês veem o que vão fazer aí', 'só que eu não vou pedir rescisão de contrato, não sou eu que estou querendo sair, é o treinador que não me quer, então vocês têm que resolver com ele, só quero que vocês me deem uma carta de que eu estou sendo afastado pelo treinador para eu ver onde eu vou ficar treinando, para não dar justa causa, né'? Aí o Corinthians pegou, me deu uma carta e eu falei: 'O que é que vocês querem que eu faça? Para mim sem problema, eu recebendo no final do mês tá bom, o prejuízo é do Corinthians que vai pagar o jogador que não está usando', aí eu fiquei treinando em Itaquera, tinha um grupo que treinava lá, eu treinava lá de segunda a sexta de manhã, sexta-feira eu pegava o avião e vinha para casa e ficava o final de semana fazendo churrasco [risos], segunda-feira eu voltava lá e pronto, até que depois que acertamos com o Atlético MG, com o Dario Pereira eu nunca mais tive, com esta figura, não, para mim já passou, está tudo certo, se eu vir essa pessoa para mim vai ser indiferente, para mim é um 'João ninguém'.

O UOL entrou em contato com Darío Pereyra para responder as declarações de Djair. "Olha eu não me lembro realmente desta situação. Tem 30 jogadores e aí o clube chega com uma lista. O diretor fala: 'não vamos contar com este aqui, você vai ter que afastar', então às vezes foi isso a gente acaba afastando pelo que ele fez para trás porque a diretoria não quer mais e a gente (treinador) leva a culpa a culpa fica sendo que a gente que afastou, então é isso que deve ter acontecido de repente foi uma coisa dessa. Não foi da minha parte, agora se ele falou pra você, eu não lembro disso aí e eu com ele nunca tive nada".

Onde viveu a melhor fase da carreira?

No Botafogo logicamente fomos campeões [Djair tem a impressionante marca de cinco títulos cariocas, sendo três pelo Botafogo, um pelo Flamengo e um pelo Fluminense], mas a minha melhor fase foi no Fluminense, em 95, e no Cruzeiro em 98. Em 95, no Fluminense, ficou até marcado, todo mundo disse que taticamente eu conduzi o time e eu também achei que eu estava numa fase muito boa, tanto que naquela época eu fui até convocado para a seleção brasileira pelo Parreira e pelo Zagalo. Em 98, com o Cruzeiro, nós fomos vice-campeões brasileiro, vice da Mercosul e conquistamos a Recopa Sul-Americana, Campeonato Mineiro, Copa Centro Oeste... No Cruzeiro foi com o técnico Levir Culpi, o Cruzeiro era conduzido por mim e pelo Valdo e nós dois estávamos numa fase, assim, legal, tanto que eu fui para a seleção brasileira. O Vanderlei Luxemburgo me convocou e eu estava muito cotado para ir para a Copa América, eu fiz os dois jogos contra a Holanda, só que depois eu me machuquei e já não fui mais convocado, mas na época do Cruzeiro eu e o Valdo éramos chamados de maestros do time.

A importância de Luxemburgo, Joel e Levir

O que o Vanderlei Luxemburgo começou a fazer, o Joel já fazia, ou seja, é a mesma coisa que você sai de uma empresa e vai para outra e você tem a possibilidade de levar alguns funcionários da outra empresa que você estava, que são capacitados, e que você sabe que, com aqueles funcionários, a possibilidade de você ter sucesso é muito grande. Então isso aí o Joel fazia, e quem acompanhava ele era eu, o Pingo, o Ailton, o Lira lateral esquerdo, o Jorge Luiz, zagueiro, aonde o Joel Santana ia ele levava a gente, e onde ele me levava a gente batia campeão. Por exemplo, nós estávamos no Botafogo e fomos campeões, depois no Fluminense fomos campeões, saímos do Fluminense e fomos para o Flamengo, e fomos campeões, retornamos ao Botafogo e fomos campeões novamente, em 97, então é assim, o Joel já fazia isso, coisa que o Vanderlei depois passou a fazer. Então, com isso aí, o Joel foi de grande importância. E outro que foi assim foi o Levir Culpi, nós estávamos no Cruzeiro, e depois ele me levou para o Atlético MG, então esses treinadores para mim foram muito importantes.

Faltou uma Copa do Mundo...

Quando eu teria essa oportunidade eu tive a infelicidade de me machucar, que foram os dois jogos contra a Holanda [em 1999], onde nós jogamos em Goiânia e em Salvador, e ali eu ia começar a me firmar, o Vanderlei [Luxemburgo] na época era o treinador, e ainda no hotel, depois do jogo, ele até falou que era para eu começar a me cuidar porque eu já ia começar a fazer parte da lista dele de jogadores certos para serem convocados, para eu começar a me preparar para as competições... E teve um jogo contra o Palmeiras, no Mineirão, que com cinco minutos de jogo eu tive um estiramento no adutor da coxa, e fiquei três meses parado. Nas seleções de base eu passei por todas as seleções, e quando eu ia começar a me firmar na principal eu tive esta infelicidade.

... e faltou jogar no Vasco

Faltou eu jogar lá. Até teve a possibilidade, mas acabou não dando certo. Era uma vontade que eu tinha, até porque aqui no Rio de Janeiro eu era muito parado por muitos torcedores do Vasco, que se identificavam muito comigo, de pedir para eu ir para o Vasco, para jogar no Vasco... Cheguei a ter uma reunião no Vasco, mas por causa de uma pessoa não se concretizou, por causa do vice-presidente na época, José Luiz, ele estava bancando o Vasco e eu fiquei sabendo que ele não quis fechar, daí acabou que nós não fechamos.

As rápidas passagens pela Suíça e pela Itália

Na realidade, quando eu fui comprado pela Lazio, a janela já estava fechada lá, então como eu era muito novo para começar a me adaptar eu fui para o St. Gallen, da Suíça, aí eu fui para lá para começar uma adaptação na Europa, essas coisas todas, e foi difícil, era para eu ter ficado seis meses na Suíça, e tinha um jogo que precisava fazer entre St. Gallen e Lazio para poder cumprir o contrato, e nesse jogo nós ganhamos de 2 a 0, eu tinha jogado pra caramba, e o treinador da Lazio, que naquela época era o Dino Zoff, aquele que foi goleiro da seleção italiana, disse: 'eu quero levar ele hoje, ele vai embora amanhã com a gente, eu já quero ele amanhã', aí eu peguei as minhas coisas e fui embora com eles, e a Lazio ia fazer a pré-temporada... Nós fomos para o Canadá, depois nós fomos para o Brasil e fizemos jogos contra o Palmeiras, e depois acabamos e terminamos a pré-temporada na Austrália, só que naquela época tinha um problema, que só podiam jogar três estrangeiros, e naquela época tinha jogador, né meu irmão... Tinha jogador de bola mesmo, só jogava casca grossa. Para se ter uma ideia, o Milan era Van Basten, Gullit, Papan e Franco Baresi, já na Lazio tinha o alemão Thomas Doll, Karl Heinz, alemão também, o inglês Paul Gascoigne e eu, no caso, então era cachorro grande comendo cachorro grande, e na realidade, como eu era o mais novo, eu falei: 'como eu vou ficar aqui, vou ficar aqui sem jogar'? Não tem como. Aí eu conversei com o pessoal lá, porque eu queria jogar, ia ficar lá fazendo o quê? Só treinando, treinando, e aí eu tinha contrato senão me engano de três, quatro anos, aí a gente estava acertando com o Bayern de Munique, mas teve problema de diretoria que eles não se acertaram e aí eu acertei o empréstimo para o Internacional, em 93, nessa época era o Falcão o treinador.

Djair ainda pensa em voltar ao futebol

"Depois que eu parei de jogar eu abri lojas de sapatos femininos, chamadas Sonhos dos Pés. As minhas lojas são todas no Recife, mas a rede é espalhada no Brasil todo, são franquias, eu já tenho há oito, nove anos, e eu não posso reclamar de nada, não. E agora tem a possibilidade de eu começar [a trabalhar com futebol]. Eu nunca me interessei muito em querer voltar no futebol pela safadeza que é o futebol, mas eu venho recebendo alguns convites de alguns amigos que têm clubes para que eu venha trabalhar como gerente de futebol. Como treinador nem pensar, mas como gerente de futebol ou como supervisor eu estou pensando, vamos ver. Até o próprio Madureira-RJ, eu sou muito amigo do presidente Elias Duba, e eu vou ter uma conversa com ele, de repente pode surgir algo, eu já passei lá. A gente tem uma grande amizade e ele confia muito em mim.