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Facção criminosa cria código para jogador entrar em segurança no CT do Flu

Pichação em pedra ao lado do CT do Flu leva iniciais de facção que controla região - UOL
Pichação em pedra ao lado do CT do Flu leva iniciais de facção que controla região Imagem: UOL

Pedro Ivo Almeida

Do UOL, no Rio de Janeiro

02/02/2017 04h00

Inaugurado no meio de 2016 e funcionando como casa do time profissional do Fluminense desde outubro, o Centro de Treinamento Pedro Antônio Ribeiro da Silva se tornou motivo de orgulho para os tricolores no final da gestão do ex-presidente Peter Siemsen. A atual realidade do local, no entanto, preocupa bastante. E não pela estrutura elogiada por atletas e comissão técnica, mas pela segurança – ou falta dela – nos arredores da instalação.

Erguido em Jacarepaguá, zona oeste da cidade, o CT fica colado a uma das áreas mais perigosas do Rio de Janeiro, a Cidade de Deus. E a facção criminosa que controla o comércio de drogas e armas na região tem ameaçado a segurança de quem chega para trabalhar no local.

Em dezembro, bandidos invadiram o centro de treinamento com a intenção de roubar materiais e acabaram trocando tiros com policiais. Dois seguranças do clube ficaram feridos. No início de janeiro, enquanto o Fluminense disputava um jogo-treino contra a equipe do Serra Macaense, tiros foram disparados nas proximidades. Jornalistas e funcionários chegaram a se esconder com medo dos projéteis.

Nas últimas semanas, mais um sinal da insegurança e da atuação da facção criminosa que domina a região. Em contato informal com seguranças do clube, os chefes do bando criaram uma espécie de código para que jogadores e funcionários "não enfrentem problemas" na chegada – e saída – do CT.

As ordens são claras: jogadores, integrantes da comissão técnica e funcionários do Fluminense devem ligar o pisca-alerta de seu automóvel (ou taxi), acender a lanterna e andar em baixa velocidade nas ruas próximas ao local de treino. A ideia é identificar os profissionais e evitar maiores problemas da facção com o clube.

Três jogadores, um funcionário do departamento de futebol e um segurança que atua no CT confirmaram o caso à reportagem. Outros jogadores ouvidos, no entanto, ainda não tinham sido informados do "procedimento".

Na tarde da última quarta-feira (01), sem atividades no local, a reportagem esteve nos arredores do centro de treinamento e conferiu o clima de insegurança da região. Dois moradores também confirmaram as orientações da facção - consideradas "normais" e disseram que a ideia do bando é não criar indisposição com o clube.

Nas três ruas de acesso ao CT ainda era possível conferir barricadas e pichações com as iniciais do grupo criminoso que controla a área.

Segundo especialistas de segurança pública ouvidos pelo UOL, o local é considerado de alto risco, visto que se apresenta como a principal rota de fuga dos bandidos da Cidade de Deus em situações de confrontos com milicianos, membros de outras facções e policiais.

A região esteve no foco do noticiário recentemente quando um helicóptero da Polícia Militar caiu e matou os quatro policiais que o tripulavam. O episódio gerou uma onda de confrontos na região – dita pacificada pelo Governo do Rio de Janeiro. “A área aqui está um inferno desde aquele caso”, contou um comerciante que trabalha a poucos metros do CT do Fluminense.

Barricada em rua de acesso ao CT do Fluminense - UOL - UOL
Rua de acesso ao CT tem barricadas e pichações com iniciais de facção
Imagem: UOL

Globo tem escolta e carro blindado

A preocupação na chegada ao local atinge ainda profissionais de imprensa que realizam a cobertura jornalística diária do Fluminense. Muitos grupos de comunicação, inclusive, reforçaram a segurança de carros e equipes que vão ao CT diariamente.

Na TV Globo, a equipe escalada para ir ao treino é sempre acompanhada de um reforço na segurança – escolta com carro. Além disso, repórteres e cinegrafistas foram algumas vezes ao centro de treinamento em carros blindados da emissora.

Procurado pela reportagem, o clube não confirmou oficialmente as orientações de bandidos da região. No entanto, reconheceu os problemas recentes, salientando ainda que vem trabalhando para superar a insegurança do local.

“O Fluminense vem tomando as medidas necessárias para garantir toda a segurança e melhores condições de trabalho no Centro de Treinamento Pedro Antônio Ribeiro da Silva. O clube reforçou a segurança no local e conta com a ajuda do poder público. A obra de uma rua pra facilitar o acesso também está nos planos, mas não é algo tão simples porque envolve outros terrenos. Mas estamos trabalhando em cima disso. Estamos também estudando a melhor possibilidade de construir um muro, analisando algumas alternativas. Além disso, o Fluminense fará ações sociais na comunidade que fica localizada próxima ao CT”, disse o presidente do clube, Pedro Abad.

Após a publicação da matéria, o Fluminense divulgou uma nota oficial a respeito do assunto. Confira o conteúdo abaixo:

O Fluminense Football Club informa que vem fazendo um trabalho de relacionamento com as comunidades que ficam localizadas próximas ao CT. No entanto, em momento algum houve qualquer tipo de diálogo no sentido de serem colocadas sinalizações, por parte dos moradores, para aumentar a segurança dos profissionais do clube que trabalham no Centro de Treinamento Pedro Antônio Ribeiro da Silva.
 
Atualmente, o Fluminense faz estudos de viabilidade para a construção de um muro no CT. A obra de uma rua para facilitar o acesso também está nos planos e a diretoria analisa a melhor forma de iniciar esse processo. Além disso, a direção do clube segue em contato frequente com as autoridades no sentido de garantir total segurança aos seus profissionais e aos profissionais de imprensa que trabalham diariamente no Centro de Treinamentos.