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A conversa que a Chapecoense usou para se reforçar com 23 jogadores

Daniel Fasolin

Do UOL, em Chapecó (SC)

07/02/2017 04h00

Nivaldo pode ser considerado o maior ídolo da Chapecoense em toda sua história, mais de dez anos vestindo a camisa do clube Catarinense o jogador conquistou títulos, acesso a todas as divisões de campeonato Brasileiro e é a síntese do famoso DNA da Chapecoense.

Após a tragédia em Medellín, Nivaldo decidiu se aposentar, mesmo restando dois jogos para completar a marca de 300 partidas pela Chapecoense. E, como gerente de futebol, passou a ser um dos alicerces para ajudar o time a montar o elenco quase que do zero. No total, chegaram 23 jogadores.

Nessa entrevista exclusiva, ele dá mais detalhes de como está sendo montar a equipe depois da tragédia com o avião da LaMia em novembro do ano passado, e os motivos apresentados para ouvir o “não” de atletas.

“Falamos com todos os atletas antes de contratar”, disse. “Passamos a eles que aqui é uma família mesmo e todos podem se dar bem aqui. Tivemos atletas que não quiseram vir para cá, por achar que a pressão seria grande demais ou por lembrar de tudo que aconteceu”, completou.

“Por enquanto as comparações com o outro grupo existem de forma discreta, pois estamos fazendo um bom trabalho. Mas nos momentos de turbulência as comparações irão existir, sabemos disso.”

Nivaldo, gerente de futebol da Chapecoense - Divulgação Chapecoense - Divulgação Chapecoense
Nivaldo, gerente de futebol da Chapecoense
Imagem: Divulgação Chapecoense

Leia a entrevista completa:

UOL Esportes: Como está sendo essa nova fase da Chapecoense?

Nivaldo: Estava conversando com um amigo, e falávamos como a Chapecoense se tornou grande, sabemos que foi após o acidente, mas antes de tudo já estávamos sendo reconhecidos no Brasil e na América do Sul. Todos nós ficamos sem pai e sem mãe, perdemos muita gente querida, da nossa família. O momento não está sendo fácil, quero dormir e acordar sabendo que foi um sonho. Agora temos desafios de manter a Chapecoense nesse patamar.

Existem comparações com o grupo que se foi?

Por enquanto as comparações com o outro grupo existem de forma discreta, pois estamos fazendo um bom trabalho. Mas nos momentos de turbulência as comparações irão existir, sabemos disso.

Como conseguir formar uma família novamente na Chapecoense?

Isso deve demorar algum tempo, o time que tínhamos já convivia havia três anos, você convive muito e cria laços, não havia nenhuma desavença, tudo estava muito bem encaixado. Coisa que a gente não espera que aconteça logo esse ano, difícil em um ano formar o que formamos aqui. Mas ao longo tempo, nesse ano, pretendemos fazer com que esses atletas que estão aqui entendam como aqui funciona, para daqui algum tempo a gente possa construir aquela família. Pelos jogadores que temos aqui, a chance de isso acontecer é muito grande.

Os novos atletas pedem conselhos a você?

Todos os atletas que chegam aqui me procuraram e isso é impressionante. Todos me perguntam como o clube era, ficam impressionados com o tempo que estou aqui e eu falo a eles que estou aqui para mostrar o que passamos e como construímos isso praticamente do nada. Hoje jogar na Chape é diferente do que jogar aqui há oito anos. Atletas me disseram que ouviram de colegas que a Chape não tinha estrutura e se impressionam quando chegam aqui. Hoje damos as melhores condições não só para o atleta, mas para o ser humano que vem para cá. Esse é o DNA da Chapecoense.

Como foi a conversa com os atletas antes da contratação de cada um?

Falamos com todos os atletas antes de contratar, não só por questões burocráticas. Mas o perfil que escolhemos, é o mais parecido com o trabalho que sempre foi feito e deu certo. Todos que estão aqui sabem do compromisso e a cobrança será grande. Passamos a eles que aqui é uma família mesmo e todos podem se dar bem aqui. Tivemos atletas que não quiseram vir para cá, por achar que a pressão seria grande demais ou por lembrar de tudo que aconteceu, agradecemos eles por terem ouvido nosso projeto e desejamos sucesso onde estiverem.

O sucesso do time do ano passado pode atrapalhar o elenco atual?

Isso só o tempo dirá, talvez atrapalhe um pouco no começo. Temos que saber levar isso, o jogador vai precisar entender e estamos preparando eles para suportar isso. A maneira  de fazer que isso não afete é fazendo um bom trabalho. Os que se foram serão sempre lembrados, mas queremos olhar para frente. O que conquistamos não foi fácil e isso está no sentimento do torcedor, talvez isso dificulte.

Como você está vendo o sentimento da torcida e da comunidade após tudo o que ocorreu?

Como nós estamos sentindo muito o torcedor está também. Aqui todo mundo conhecia um a um os jogadores. A identificação era muito forte, é uma cidade que gosta de futebol e acolhe o time de uma maneira que não se vê normalmente. Tudo está sendo complicado, mas temos que ter forças para superar.

Como está sendo sua nova fase em nova função?

Sempre me acostumei dentro do campo. Tinha um bom convício com todos, agora fora do campo eu tento ajudar. Vou passar todo meu sentimento e vivência aqui para todos. Esse é o meu objetivo fora de campo agora. Com o passar do tempo quero me especializar e olhar para o passado e ver que o que estou fiz conseguiu amenizar o que passamos. Claro que não é fácil, uma nova adaptação, tudo diferente, mas agora estou focado em fazer o melhor de onde estiver para a Chapecoense.