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Com jogos adiados no ES, ex-santista relata temor vivido: "cidade fantasma"

Ludson Cavati
Imagem: Ludson Cavati

Fábio Aleixo, Leandro Carneiro e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

07/02/2017 14h37

A onda de violência que tomou conta das ruas do Espírito Santo com pelo menos 63 mortes nos últimos dias por causa da falta de homens da Polícia Militar nas ruas tem impactado também o futebol capixaba. Duas partidas do campeonato local que estavam marcadas para o último domingo foram adiadas e a Federação Capixaba não deu expediente na segunda e nesta terça-feira.

O zagueiro Luiz Alberto, de 39 anos, que teve passagens de destaque por Flamengo, Santos, Fluminense e diversos outros clubes do Brasil e exterior relatou o sentimento de tensão no estado. O veterano defende o Tupy, de Vila Velha.

"Está feia a situação aqui, está feio o negócio. Nem de casa eu saio. Só saio para ir para o treino. Hoje não teve nem treino, pois o pessoal ficou todo em casa. Está muito difícil. Temendo eu não estou temendo, porque estou em casa tranquilo. Mas a gente torce para que se resolva o quanto antes.  Está uma cidade fantasma", disse o jogador em entrevista ao UOL Esporte.

"Eu tenho 3 filhos e ontem eles foram para o Rio de Janeiro. Foi um aperto para levá-los ao aeroporto. Deixei eles e vim para casa correndo", disse o atleta que não pensa em rescindir contrato com o clube capixaba.

"Eu estou torcendo para que as coisas se resolvam logo. A única vez que eu passei por isso foi rápido, foi um dia só no Recife no ano passado, quando eu jogava no Náutico. O Exército foi para rua, mas igual aqui eu nunca vi isso", disse assustado o zagueiro.

Na Desportiva Ferroviária, um dos clubes mais tradicionais do estado, a situação também de tensão. E o clube foi afetado diretamente pelo adiamento das partidas de domingo, uma vez que  o time deveria ter enfrentado o Espírito Santo FC.

“Este (problema) está interferindo muito, porque ficamos sem rodada e ontem não conseguimos treinar. O problema é que agora será difícil achar uma data para esta rodada adiada", disse o técnico Fabiano Rossato.

No fim de semana está marcado o clássico contra o Rio Branco e até o momento a Federação não se pronunciou se haverá garantia de seguranças para a realização do duelo marcado para o estádio Kleber Andrade, em Cariacica.

Na semana que vem, no dia 15, a Desportiva recebe o Avaí em sua estreia na Copa do Brasil.

"Eu creio que estará tudo normalizado até lá né? Mas eu temo por este jogo de domingo contra o Rio Branco porque é um clássico", disse.

Entenda a crise no Espírito Santo

No sábado (4), parentes de policiais militares do Espírito Santo montaram acampamento em frente a batalhões da corporação em todo o Estado. Eles reivindicam melhores salários e condições de trabalho para os profissionais.

Desde então, sem patrulhamento nas ruas, uma onda de violência tomou diversas cidades.

A Justiça do Espírito Santo declarou ilegal o movimento dos familiares dos PMs. Segundo o desembargador Robson Luiz Albanez, a proibição de saída dos policiais caracteriza uma tentativa de greve por parte deles.

A Constituição não permite que militares façam greve. As associações que representam os policiais deverão pagar multa de R$ 100 mil caso a decisão seja descumprida.

A ACS-ES (Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Espírito Santo) afirma não ter relação com o movimento. De acordo com o cabo Thiago Bicalho, do 7º Batalhão da Polícia Militar do Estado e diretor Social e de Relações Públicas da associação, os policiais capixabas estão há sete anos sem aumento, e há três anos não se repõe no salário a perda pela inflação.

Segundo o secretário estadual de Segurança Pública, André Garcia, as negociações sobre salários e condições de trabalho de policiais serão feitas apenas quando o patrulhamento na rua for retomado e a situação estiver controlada.

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse nesta segunda (6) em Vitória que militares das Forças Armadas ficarão no Espírito Santo durante o "tempo necessário" para que a ordem no Estado seja restabelecida.