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Doze anos antes de contratar Ronaldo, Corinthians sonhou com craque no auge

Corinthians Excel - Leonardo Colosso/Folhapress - Leonardo Colosso/Folhapress
Marcelinho e Túlio no começo de 1997, época da parceria entre Corinthians e Excel
Imagem: Leonardo Colosso/Folhapress

Diego Salgado

Do UOL, em São Paulo

07/02/2017 04h00

Ronaldo Fenômeno enlouqueceu os torcedores do Corinthians na temporada 2009, com gols decisivos, títulos e jogadas memoráveis. A empolgação dos corintianos com o craque não era nova. Doze anos antes, entre abril e junho de 1997, o clube paulista sonhou com o atacante.

É isso mesmo. A contratação de Ronaldo, que à época era Ronaldinho, foi cogitada pelo Banco Excel Econômico. A instituição financeira era parceira do clube na ocasião e estava disposta a pagar a multa rescisória do contrato do atacante com o Barcelona - o valor era de 30 milhões de dólares (R$ 31,8 milhões na cotação de abril de 1997).

Corrigida pela inflação dos últimos 20 anos, a multa seria hoje de R$ 109 milhões, segundo o índice IPCA do Banco Central. A ideia do Excel era desembolsar o valor e oferecer a Ronaldo um contrato longo, superior a cinco anos - o jogador defendia o Barcelona há um ano e havia sido eleito o melhor jogador de mundo em 1996.

Em contato com a reportagem do UOL Esporte, o então diretor de futebol do clube, José Mansur, confirmou o interesse do Banco Excel na contratação. O atual conselheiro do Corinthians disse ainda que a instituição tinha condições de pagar a multa.

Corinthians - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

"O Excel queria contratar o Ronaldo para expandir a marca do banco. Você vê como são as coisas, não é? O que tem de ser será. Doze anos depois ele acertou", ressaltou Mansur, que não participou das reuniões entre as partes.

Segundo ele, Mário Sérgio, diretor de esportes do Excel, foi o responsável por comandar as negociações. Era o ex-técnico, morto no acidente aéreo da Chapecoense, quem fazia a ponte entre o clube e o banco. 

Vinte anos depois, Reinaldo Pitta, por sua vez, tratou o interesse com ceticismo. O empresário cuidar da carreira de Ronaldo até 2004, em parceria com Alexandre Martins.

"Vários clubes queriam ele, mas aqui no Brasil era impossível na época. Em 1997, véspera da Copa do Mundo de 1998, não tinha nenhuma chance. Poderia querer, mas era impossível. A possibilidade era zero. O único clube que nós sentamos foi a Inter, o resto foi especulação. Era inviável, não tinha como, não tinha matemática ali", frisou Pitta em contato com a reportagem.
 

O sonho acabou

Ronaldo - Felice Calabro/AP Photo - Felice Calabro/AP Photo
Ronaldo acertou com a Inter em julho de 1997
Imagem: Felice Calabro/AP Photo
 
A edição do dia 7 de maio de 1997 trouxe a manchete "Ronaldinho está próximo do Corinthians". De acordo com o texto, uma reunião na noite anterior havia deixado o acordo próximo. "Posso garantir que não é sonho de uma noite de verão", disse Mauro Lopes, assessor do Banco Excel.
 
Duas semanas depois, entretanto, a Inter de Milão virou concorrente após o presidente Massimo Moratti admitir o interesse dos italianos. A Lazio também teria aberto conversa com os empresários de Ronaldo.
 
O acerto com a Inter era questão de tempo. O clube da Itália aceitou pagar a multa e ainda ofereceu um salário de 4,7 milhões de dólares por ano (R$ 5 milhões - ou R$ 17,1 milhões, com correção). O Barcelona tentou renovar o contrato com o craque, mas esbarrou no alto desconto do imposto de renda na Espanha.
 
No dia 27 de maio, em Oslo, na Noruega, onde a seleção brasileira jogava um amistoso, Ronaldo se manifestou sobre o assunto. E confirmou o interesse do Corinthians. "Eles mostraram interesse, mas não deixei que se falasse em números", disse à Folha.
 
O atacante, que tinha 21 anos, também afirmou que não gostaria de voltar o Brasil tão cedo. "Não quero voltar agora, nem nos próximos anos. Tenho muito a conquistar aqui na Europa", ressaltou.
 

O futuro

Ronaldo foi anunciado pela Inter de Milão ao fim da Copa América, já em julho de 1997. O Banco Excel, por sua vez, deixou o Corinthians no fim de 1998, depois que foi comprado pelo Banco Bilbao Vizcaya, que decidiu não investir mais no futebol - o Excel, no começo da parceria, acertou as vindas de Túlio, Donizete, Sangaletti, Fábio Augusto, Antônio Carlos, Romeu e André Luiz.
 
Ronaldo deixou a Inter após a Copa de 2002 para acertar com o Real Madrid. Depois, teve uma passagem apagada pelo Milan. Em dezembro de 2008, o Fenômeno, enfim, acertou com o Corinthians.
 
No clube paulista, Ronaldo disputou 69 partidas, entre março de 2008 e fevereiro de 2010. O atacante marcou seus últimos 35 gols na carreira e decidiu se aposentar depois da eliminação corintiana para o Tolima-COL na pré-Libertadores.