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Técnico que Ronaldo tentou derrubar reforça fama de "pé-frio" com novo vice

Hector Cuper no Egito - Amr Abdallah Dalsh/Reuters - Amr Abdallah Dalsh/Reuters
Com a seleção do Egito, Cúper viveu novamente o trauma do vice
Imagem: Amr Abdallah Dalsh/Reuters

Fabio Piperno

Colaboração para o UOL, em São Paulo

08/02/2017 04h00

Um dos poucos adversários que Ronaldo Fenômeno não conseguiu driblar ao longo de uma carreira recheada de gols e conquistas foi o técnico argentino Héctor Cúper, com quem trabalhou na Inter de Milão. A relação entre os dois era tão ruim que o craque chegou até mesmo a reivindicar a demissão do treinador para o presidente do clube, Massimo Moratti.

Sem sucesso na ofensiva para vencer o argentino, o atacante trocou o time italiano pelo Real Madrid dos galácticos e continuou colecionando títulos. Do lado do desafeto, a vitória na queda de braço contra o brasileiro foi o último êxito de uma carreira marcada por derrotas dramáticas nos momentos decisivos, que valeram a Cúper o estigma de eterno e incorrigível "pé-frio". Fama que, aliás, foi renovada neste domingo com a derrota que sofreu na final da Copa Africana de Nações, comandando a seleção do Egito.

A lista de vices de Cúper impressiona. Credenciado pela conquista do título da Conmebol em 1996 no comando do argentino Lanús, desembarcou na Espanha para dirigir o modesto Mallorca na temporada 1997/98. E começou bem. O time fez boa campanha na Liga e avançou até a decisão da Copa do Rei. O rival foi o todo-poderoso Barcelona de Rivaldo, Figo, Sonny Anderson e Giovanni, entre outros. Após o 1 a 1 no tempo normal, a disputa foi para os pênaltis. Foram necessárias 8 cobranças de cada lado para que o esquadrão catalão confirmasse o favoritismo.

Não demorou para que o Mallorca oferecesse nova chance de título a Cúper. Em 1999, o clube chegou à final daquela que foi a última edição da Recopa, torneio que desde 1960 reunia os ganhadores das copas nacionais disputadas na Europa. Contra a forte Lazio de Pavel Nedved, novo revés do time espanhol, que tombou por 2 a 1.

Apesar das derrotas, as duas finais valorizaram a cotação do argentino, que então trocou o pequeno Mallorca pelo ambicioso Valencia de Cañizares, Mendieta, Anglôma e Cláudio Lopez, todos jogadores de seleção em seus países. No primeiro ano, a missão impossível de conduzir o clube à conquista do continente esteve perto de ser concretizada. O time alcançou pela primeira vez na história a final da Liga dos Campeões da Europa, mas sucumbiu por 3 a 0 diante do Real Madrid. A miragem do título esteve ainda mais próxima de se tornar realidade na temporada seguinte. O Valencia de novo chegou à decisão, mas perdeu nos pênaltis para o Bayern de Munique.

Briga com Ronaldo na Itália

Com quatro vices consecutivos, Cúper foi a aposta da Inter de Milão para encerrar 13 anos de seca na Itália. No meio do campeonato, Ronaldo voltou a ter condições de jogo após 16 meses distante dos gramados por conta da segunda, e mais grave, lesão no joelho direito. O craque queria jogar o quanto antes. No entanto, a pressa do técnico não era a mesma. Para aumentar a angústia do artilheiro, a Copa do Mundo se aproximava e Felipão dizia que para ser convocado o Fenômeno deveria participar dos jogos para ganhar ritmo. Cúper agia como se o mundial não fosse problema dele, o que irritou o jogador.

Hector Cuper e Ronaldo - Brambatti/AFP Photo - Brambatti/AFP Photo
Héctor Cúper não teve bom relacionamento com Ronaldo antes da Copa
Imagem: Brambatti/AFP Photo

Mas na reta final, quando a disputa pelo scudetto era travada ponto a ponto entre Juventus, Roma e Inter, o técnico cedeu ao desejo da maioria e voltou a escalar Ronaldo. Em um confronto decisivo contra a Lazio, o time neroazurri perdeu por 4 a 2. Para Cúper, o brasileiro foi um dos vilões da derrota. O tropeço foi fatal para a Inter, que finalizou o campeonato dois pontos atrás da campeã Juventus. Em seguida, o astro foi para Copa e Cúper ficou em Milão se recuperando da dor de cotovelo por mais um título que lhe havia escapado.

Campeão e artilheiro do mundial do Japão e Coreia do Sul, Ronaldo não perdeu tempo na volta a Milão. No programa Donos da Bola, da TV Band, o ex-jogador revelou que exigiu a cabeça do desafeto. “Cheguei para o presidente e (disse) presidente, não dá para continuar com ele. Aí, valeu (respondeu Moratti). Vai lá então. Então, fui para o Real Madrid”, lembrou Ronaldo.

Fracassos após deixar a Itália

Pouco depois, foi a vez do argentino deixar Milão. Com o time em queda livre, acabou demitido após a oitava rodada e iniciou longo período de ostracismo. Retornou a Mallorca, mas não repetiu o sucesso da primeira passagem. Na sequência, fez trabalhos meteóricos e sem brilho no Betis, Parma e seleção da Geórgia. ]

No grego Aris Salônica começou bem, mas para variar acumulou mais um vice, desta vez na Copa da Grécia. Foi de novo para a Espanha, então para dirigir o Racing Santander. Acabou expelido após uma solitária vitória em 13 jogos. Com prestígio cada vez menor, treinou em seguida o turco Orduspor e o Al Wasl, dos Emirados Árabes, antes de ser convidado para comandar o Egito.

A boa campanha que os Faraós cumprem nas eliminatórias para o mundial da Rússia, em que lideram o grupo E, inflou o otimismo para a Copa Africana de Nações. E o time não decepcionou. Na primeira fase, o Egito derrotou a forte seleção de Gana. Nas quartas, venceu o clássico regional contra o Marrocos. Na semi, tirou Burkina Faso para alcançar a decisão contra Camarões.

Após quase uma década, Cúper estava de novo em uma final. A chance de enterrar a fama de incorrigível "pé-frio" se manteve viva até os 43 minutos do segundo tempo, quando Aboubakar recebeu lançamento longo, matou a bola no peito, aplicou desconcertante chapéu em Ali Gabr e arrematou para marcar 2 a 1 para os Leões Indomáveis.

Outra vez, Cúper iludiu como nunca e perdeu como sempre. Cruel, o diário argentino Olé afirmou que o técnico dos Faraós foi vítima da “maldição de Tutankamón”. Certo mesmo é que para o técnico dos Faraós o sonho de levantar a taça permanece aprisionado na tumba há 21 anos. Que parecem eternos.