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Entenda briga entre Federação e clubes que "levou" Atletiba para o Youtube

Cleber Yamaguchi/AGIF
Imagem: Cleber Yamaguchi/AGIF

Napoleão de Almeida*

Colaboração para o UOL, em Curitiba

19/02/2017 19h34

Um Atletiba histórico pelo que não aconteceu em campo: assim ficará para a memória o clássico 370, cancelado por ordem da Federação Paranaense de Futebol por conta da transmissão da partida pelo YouTube. As consequências do cancelamento ainda serão vistas nos tribunais – tais como risco de WO a ser aplicado e quem irá ressarcir os torcedores que pagaram ingressos para o jogo – mas o conflito aberto entre FPF e a dupla Atletiba já vem de tempos e chegou ao ápice no domingo (19).

Atlético e Coritiba não aceitaram a proposta da TV Globo/RPCTV para a cessão dos direitos de imagem/arena para o Paranaense 2017. O valor oferecido a ambos seria de R$ 1,5 milhão, menor que o de 2016 e considerado pelas diretorias muito abaixo do que recebem os grandes de Minas Gerais e Rio Grande do Sul. A dupla queria R$ 6 milhões, três para cada clube. Quem negociava pelos clubes era o presidente da FPF, Hélio Cury. Sem Atlético e Coritiba, a FPF vendeu os direitos do campeonato por R$ 4 milhões, com fatias maiores para Paraná Clube e Londrina. Nada de Atletiba na telinha.

No final de janeiro, o Coritiba recebeu um projeto de transmissão do clássico com o Atlético de maneira particular, com execução caseira, sinal aberto gratuito e base legal na Lei Pelé, artigo 42, que diz “Pertence às entidades de prática desportiva o direito de arena, consistente na prerrogativa exclusiva de negociar, autorizar ou proibir a captação, a fixação, a emissão, a transmissão, a retransmissão ou a reprodução de imagens, por qualquer meio ou processo, de espetáculo desportivo de que participem.” O Coxa gostou da ideia e se encarregou de negociar com o Atlético, que aprovou com restrições. Ambos então buscaram o suporte do YouTube para a transmissão.

Com pequenas mudanças, a equipe de transmissão estava definida com dois ídolos dos clubes – o meia Ademir Alcântara, do Coxa e o zagueiro Gustavo, do Furacão -, as duas repórteres das TVs dos clubes e um narrador local freelancer, contratado para o serviço. Então entrou outro agente: o canal Esporte Interativo, com o qual os dois clubes têm contrato de direitos a partir de 2019.

Segundo apurou o UOL Esporte, o EI ofereceu suporte de material humano e a equipe foi novamente refeita. Oficialmente, porém, a posição do canal é que os profissionais pediram licença e foram liberados. "A transmissão não era nossa. A transmissão é de quem exibe, ou seja, dos clubes. Alguns dos nossos profissionais que estavam lá, pediram autorização para fazer um frila e foram liberados", afirmou a assessoria do Esporte Interativo. 

Até então, a FPF não havia se manifestado sobre nenhum aspecto, nem mesmo as determinações de imprensa divulgadas pelo Atlético, que restringiam o acesso de outras emissoras para a captação de imagens.

Apenas às 17h de domingo, com times em campo e estádio com presença de quase 20 mil pessoas, é que a FPF se manifestou. Através do árbitro central, Paulo Roberto Alves Junior, a ordem foi de que não se iniciasse a partida. Em contato com o UOL Esporte, o presidente da FPF, Hélio Cury, alegou que "Deveria ser feito um credenciamento 48 horas antes da partida. O nosso posicionamento está bem claro: está proibido".

Cury bate na tecla do credenciamento, mas os clubes acreditam que o problema foi maior: os direitos de transmissão do Campeonato, negociados – mesmo sem a dupla Atletiba – com a RPC TV. O Capítulo V, das Disposições Financeiras, em seu Artigo 17, diz que “Os CLUBES devem respeitar o contrato de cessão dos direitos de transmissão do CAMPEONATO, em caráter de exclusividade, facilitando por todos os meios disponíveis o trabalho de instalação e utilização dos necessários equipamentos de captação e transmissão audiovisual de todas as partidas.

“Não há nenhuma certeza do que houve de fato. A posição da justiça desportiva é de analisar o que aconteceu, o mais rápido possível, amanhã (segunda, 20) quem sabe. Através da súmula, que é o documento oficial, mas que pode ser constituída por outros meios de prova. Tivemos vários meios de ver o que aconteceu”, disse em entrevista à Rádio Transamérica o Presidente do TJD-PR, Leandro Souza Rosa, que garantiu que tem liberdade total para punir os clubes, o árbitro ou mesmo a Federação.

É mais um capítulo na briga dos clubes do Paraná por uma independência da FPF e do atual sistema de cotas vigente no Brasil. Atlético e Coritiba já haviam confrontado Hélio Cury com um suporte a Ricardo Gomyde nas eleições de 2015. Cury venceu, mas a relação nunca mais foi a mesma. A dupla fomentou a criação da Primeira Liga e teve problemas de calendário no Estadual 2016, vencido pelo Atlético, com vários conflitos pelo caminho. Ambos, porém, também romperam com a Primeira Liga após a definição do modelo de distribuição de cotas para essa temporada.

* Colaboraram Eduardo Ohata e Rogério Jovaneli