Garoto de 17 anos teve de marcar Ronaldinho. Hoje, duela com Messi
No dia 13 de fevereiro de 2011, o Flamengo venceu o Resende por 1 a 0 pelo Campeonato Estadual. Pouca gente lembra daquela partida no Moacyrzão, em Macaé, pela Taça Guanabara. Mas, para um menino de 17 anos que estava em campo naquela tarde, foi o dia mais importante da carreira.
O personagem em questão é Gabriel Pires. Seis anos depois daquela partida, ele é uma das estrelas do Legañes, da Espanha, e ganha a vida marcando jogadores como Messi e Griezmann. “Eu sei que isso que estou vivendo hoje é resultado daquele jogo. Aquela era a primeira temporada do Ronaldinho na volta ao Brasil e todo mundo estava olhando para o Campeonato Carioca”, lembra o jogador, em entrevista ao UOL Esporte.
Marcar Ronaldinho tirou sono
Zagueiro nas categorias de base, Gabriel subiu para a o profissional como volante. Quando o então técnico Paulo Campos o chamou de canto, pouco antes daquele jogo, e o avisou que ele seria o responsável por parar Ronaldinho, assustou o menino, que pouco dormiu antes do jogo.
“Ele tinha acabado de voltar do Milan e era começo de temporada. E eu estava com aquela vontade de menino. Era um sonho aquilo ali. Eu consegui marcar bem, o Ronaldinho não fez nada naquela partida. E isso gerou um interesse muito grande. Times do Brasil e da Europa começaram a me procurar”, fala o jogador.
Treinando com Pirlo e Del Piero
Um desses clubes foi a Juventus, da Itália. Seduzido pela grife, ele foi para a Itália antes de completar 18 anos. “Cheguei e treinava com Pirlo, Del Piero, Marchisio. Era inacreditável. Um dia, você só via os caras pela televisão e no outro estava em campo ao lado deles. Foi aí que vi o que era necessário para ser um jogador de verdade. Esses caras não são importantes só pelo talento. O que eles fazem fora do jogo, a postura nos treinamentos, é o que mais me marcou”.
Gabriel ficou um ano assim, treinando com o time principal da Juventus e jogando pelo time sub-19. Em 2012, porém, começou a rodar por times da segunda divisão da Itália. Foram quatro empréstimos entre 2012 e 2015. Foi nesse ano que o Legañes entrou em sua vida. O brasileiro jogou bem no Livorno e o time espanhol buscava reforços para a disputa da Segundona na Espanha. O volante aceitou - chegou por empréstimo, mas a mudança se tornou definitiva nesta temporada.
Fase artilheira na Espanha
As coisas funcionaram bem. Com 1,86m e forte fisicamente, o jogador logo se destacou pela capacidade de manter a posse de bola e pela visão de jogo acima da média. “Eu jogava mais recuado, mais defensivamente. Mas acho que o treinador viu que eu poderia ser útil mais avançado. Me colocou como meia e deu certo”.
Na temporada 2015/2016, foram oito gols e quatro assistências. Mais do que isso: nos últimos dez jogos da Série B espanhola, quando o Legañes definia o acesso, foram quatro gols e duas assistências. “Fui importante para o time conseguir esse acesso e, quando conseguimos, foi uma festa incrível na cidade. Ninguém apostava muito no time e o Legañes nunca tinha disputado a primeira divisão antes”, comemora.
Gabriel, também, iria estrear na primeira divisão do futebol europeu. Até agora, não tem sido fácil. Em 21 jogos no Campeonato Espanhol, foram apenas dois gols e uma assistência até agora. E críticas da torcida. “Acho isso normal. É um processo de adaptação. O que pouca gente entende é que ninguém joga contra rivais da segunda divisão como joga contra times de segunda. O Legañes nunca tinha disputado a primeira divisão e eu, pelo menos, estava preparado para lutar pela manutenção na primeira divisão. Sabia que não faria exatamente a mesma coisa que fiz na temporada passada”.
Marcando Messi: "foi surreal"
Quem assiste aos seus jogos, porém, vê que existe talento no meio-campista. Não pense naquele meia-atacante clássico brasileiro. Por ter terminado sua formação como atleta na Itália, ele é muito mais tático do que o brasileiro médio. Ele executa ações defensivas com a mesma naturalidade com que chega ao ataque – imagine a função exercida por Moisés no Palmeiras de 2016.
Na semana passada, ele esteve em campo contra o Barcelona. Chamou atenção marcando mais um gênio do futebol. Depois de Ronaldinho, agora ele duelava com Messi. “Você olha para o lado e vê o cara que só via no videogame ou pela teve, sentado no sofá. Do nada, você está lá, no gramado, obrigado a marcar o cara. Ele foi o jogador mais diferente que já enfrentei. Você nunca sabe o que ele vai fazer”, conta.
E Cristiano Ronaldo? “Contra o Cristiano Ronaldo, no Santiago Barnabéu, eu joguei mais avançado e não tive de marcar muito. Tive só uma dividida com ele, no meio-campo, em que levou a melhor. Com o Messi foi mais próximo, tive de dar uma aproximada, dar uns botes e tal. E ele, sim, ele foi uma coisa surreal”, lembra.
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