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Elas ainda não podem jogar. SP proíbe times mistos em nome da tradição

Felipe Pereira

Do UOL, em São Paulo

06/03/2017 04h00

O clube do Bolinha não pode se misturar com o clube da Luluzinha. Pelo menos nos campeonatos de categorias de base da Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude do Estado de São Paulo. A justificativa é que menino não gosta de jogar com menina diz o diretor de esporte, Marco Antonio Cardoso.

“Menino é menino e menina é menina. Time misto não vai ter porque dentro da nossa concepção menino joga com menino e menina joga com menina. Esta relação de time misto não vai existir aqui na secretaria.”

A manutenção do regulamento descumpre uma promessa feito ano passado. Integrante do time vencedor da etapa municipal, Laura Pigatin, 13 anos, foi proibida de jogar a fase regional do campeonato paulista quando se preparava para entrar em campo. A delegada da competição argumentou que nas regras estava escrita a palavra masculino.

O episódio repercutiu e a história da garota de São Carlos foi contada em vários sites e programas de televisão, incluindo o Encontro do Fátima. O então coordenador de Futebol Feminino da CBF, Marco Aurélio Cunha, apoiou uma campanha lançada na internet a favor dos times mistos.

Depois da exposição, Lauro Pigatin, pai da atleta, conta que recebeu a garantia da Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude do Estado de São Paulo de que haveria alteração no regulamento. Mas as normas foram publicadas neste mês e não permitem que meninas joguem com meninos.

"Aqui no campeonato menina não mistura com meninos. Nenhum momento se ventilou. Se ventilou, está saindo da tradição de 60 anos", afirma o diretor de esportes.

Se dependesse da Secretaria Esportes da Secretaria, Laurinha não teria jogado sequer a etapa municipal. Marco Antonio classificou como “um erro” a inclusão da garota na equipe.

“O menino (delegado da fase municipal) de São Carlos ficou acuado por pressão no momento porque os outros técnicos aceitaram. Na fase regional cumpriram o regulamento como deveriam ter feito no primeiro momento.”

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Nenhum lugar do mundo...

O diretor de esporte acrescentou que em nenhum país do mundo existe futebol misto e isto mostraria que mudar o regulamento é inviável. Na verdade, vários países permitem. A lista contém Holanda, Suíca, Japão, Austrália, Estados Unidos e Inglaterra.

Neste último país, meninos fizeram greve em 2009 para força a federação nacional a mudar a regra. Em São Paulo, a única alteração feita é mais sutil. Ela apenas amplia a idade em que existe competições de base, como explica Marco Antonio.

“Depois de análise de um grupo de estudos das categoria feminina de 14 a 17 decidimos quebrar em duas porque era um intervalo muito grande. Criamos duas categorias. Uma é sub-17, o dentão. (A) Sub-15, dente de leite. Diminuiu idade mínima agora pode 13 anos.”

Questionado sobre como as meninas com idade inferior a 13 anos poderiam competir, o diretor de Esportes afirmou que por enquanto não haverá campeonatos femininos para estas faixas etária. A abertura está condicionada a aparecer demanda.

O pai de Laurinha classifica a decisão de indefensável. Ele conta que no projeto em que a filha começou a jogar há outras meninas e nenhum garoto reclama de jogar com elas.

"Só porque é uma tradição de 60 anos não se consegue mudar isso? Fiquei decepcionado”.