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Gremista chama torcedores do Inter de macaco e gera revolta em cidade do RS

Adriano Wilkson e Marinho Saldanha

Do UOL, no Rio de Janeiro e em Porto Alegre

06/03/2017 14h50Atualizada em 07/03/2017 13h20

Ao final do clássico entre Grêmio e Internacional no último sábado (4), o torcedor gremista Sandro Zanin, ainda na arena tricolor, se dirigiu à torcida colorada, apontou e repetiu a palavra “macaco” diversas vezes. Uma pessoa na arquibancada filmou o ato, e o vídeo circulou pelas redes sociais, gerando revolta no Rio Grande do Sul.

Sandro tem 31 anos, e é advogado em Lagoa Vermelha, cidade de 30 mil habitantes localizada a 250 Km de Porto Alegre. É gremista atuante e conhecido na cidade pelo tom provocador ao se referir aos rivais na internet e entre amigos. No Facebook, costumava chamar torcedores do Inter de “macacos” e “macacada”. 

Os termos, de conotação racista para muita gente, são comuns na rivalidade gaúcha. Em um tradicional cântico de arquibancada, a torcida gremista chama os colorados de 'macaco imundo'. A própria torcida do Internacional, de tanto ouvir isso ao longo dos anos, acabou adotando o macaco como mascote, a exemplo das torcidas do Palmeiras (porco), do Flamengo (urubu) e do Náutico (timbu, uma espécie de gambá), que também transformaram xingamentos em símbolos de orgulho.

No Sul, a torcida colorada já levou ao estádio faixa que dizia "Bem-vindo ao planeta dos macacos" e já gritou "ah, eu sou macaco". Ao fim do vídeo de Sandro, uma pessoa não identificada diz: "Magrão, não faz isso", como a apontar uma atitude reprovável. Na imagem não é possível ver se o gremista está apontando alguma pessoa negra ao falar a palavra “macaco”.

Mesmo assim sua atitude gerou revolta.

Indignado, um gerente do banco em que Sandro trabalhou, foi cobrar explicações. “A pessoa tem que responder por seus atos”, disse Ivan Marasca, que torce pelo Internacional. “Eu não posso com esse negócio de racismo. Isso que ele fez é muito ofensivo. Não pode ser considerado normal. É a mesma coisa que a torcida do Inter chamar gremista de ‘gazela’. Não podemos tolerar.”

Procurado pela reportagem do UOL Esporte, o advogado disse que não se manifestaria. No início da noite de domingo, ele apagou seu perfil no Facebook e saiu do grupo de Whatsapp da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) da cidade.

O Observatório da Discriminação Racial no Futebol, uma rede que monitora casos de racismo envolvendo jogadores, torcedores e dirigentes, disse que os clubes precisam tomar uma atitude para coibir o preconceito. “Apenas no Rio Grande do Sul tratamos o fato de insultar alguém de macaco como folclore”, disse Marcelo Carvalho, diretor-executivo do Observatório. “Precisamos de atitudes das autoridades, mas principalmente dos clubes na luta contra o racismo. Não cabe mais esse tipo de atitude em pleno 2017.”

Em condição de anonimato, uma pessoa conhecida de Sandro afirmou que ele reconheceu ter utilizado o termo “macaco” contra os colorados. Ele pediu desculpas através de mensagens de celular, mas negou se tratar de racismo, e sim de uma conduta normal entre os torcedores.

Caso gerou revolta em pequena cidade

Lagoa Vermelha é a típica cidade pequena no interior gaúcho, onde as famílias mantêm ligações por várias gerações. O vídeo de Sandro gerou revolta geral. Alguns lagoenses fizeram questão de formalizar um manifesto - também divulgado em redes sociais - condenando a atitude. Outros foram mais longe.

Grupos de torcedores do Internacional estão procurando o endereço do gremista. Ameaças são constantes e o assunto tomou as ruas da cidade. "Eu chego a temer pelo que pode acontecer quando ele sair na rua amanhã", disse um amigo de Sandro ao UOL Esporte.

Procurados pela reportagem, as diretorias de Inter e Grêmio disseram que não irão se pronunciar sobre o assunto. 

Errata: uma versão anterior dessa matéria dizia que Sandro Zanin trabalha no Banrisul. A informação estava em seu perfil no Facebook e foi confirmada por um funcionário do banco. Depois da publicação da reportagem, o Banrisul disse que Sandro não trabalha mais na empresa desde 2015. No mesmo ano, o banco entrou com um processo contra seu funcionário. Procurado, Sandro confirmou que está desligado da firmeza.