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Primeiro contato de Bruno com futebol tenta esquecer Eliza e passado

Para empresário de Bruno: "ninguém precisa ser vagabundo o resto da vida"

UOL Esporte

Gustavo Franceschini

Do UOL, em Varginha (MG)

14/03/2017 09h58

Depois de quase sete anos preso pela participação na morte da ex-amante, Bruno teve, nesta terça-feira, seu primeiro contato com o futebol profissional. Assinou contrato, deu entrevista coletiva, correu em volta do gramado e foi recebido por uma pequena torcida. Exceção feita à imprensa, ninguém parecia querer lembrar por que a ocasião era atípica. Eliza Samudio e o assassinato que condenaram o goleiro a mais de 22 anos de prisão em primeira instância foram ignorados por quase todos os envolvidos.

O primeiro ato do retorno foi por volta das 9h, quando Bruno chegou ao hotel onde o Boa Esporte fica hospedado em Varginha. Depois de assinar um contrato de dois anos, o goleiro ficou diante de repórteres que insistiram em falar sobre o processo que ainda está em andamento – Bruno aguarda o julgamento de seu recurso pelo TJ-MG e a demora na apreciação motivou o STF (Supremo Tribunal Federal) a liberá-lo da condição de prisão preventiva em que ele esteva desde 2010. 

Tanto o goleiro quanto os dirigentes se recusaram a falar sobre qualquer coisa relacionada ao caso. Uma das questões, por exemplo, era se Bruno seria bom exemplo para um pai que quisesse levar seu filho ao estádio. “Eu também não te respondo a essa pergunta”, disse o ex-flamenguista, durante a entrevista que ficou sob ameaça de cancelamento a cada vez que o processo era citado.

Bruno vestia uma camisa do Boa Esporte com todos os patrocinadores que anunciaram rescisão de contrato com o clube. Goi&Silva, Nutrends e Kanxa, que manifestaram o rompimento em redes sociais, foram associados ao goleiro logo na chegada, ao contrário do que se poderia esperar. O clube minimizou a debandada e ainda se gabou de estar próximo de um novo acordo.

“Nós sabíamos que às vezes poderia passar por uma situação dessa e é o que está acontecendo. A gente tem a consciência tranquila. Tivemos uma reunião com outro patrocinador e espera até segunda anunciar o outro patrocinador. É a prova de que tem pessoas que tem sua filosofia de vida e outros que são igual a mim”, disse Rone Moraes, presidente do Boa.

O tom foi o mesmo adotado por Lucio Mauro, empresário de Bruno. Ele defendeu que o goleiro seja tratado apenas como jogador de futebol e repetiu o discurso sobre a importância da ressocialização do seu cliente. “Cada um tem direito à sua opinião. Eu acho que ele merece uma oportunidade. Eu já fui acusado de estar ajudando vagabundo. Então tem de ser vagabundo para sempre? Será que não é isso que falta em nosso país?”, disse Lucio, que também se recusou a falar sobre temas relacionados ao processo.

Exames, voltas no gramado e previsão de estreia em 40 dias

Depois da apresentação, Bruno foi juntar-se à comissão técnica no CT do Boa Esporte. Realizou exames termográficos com o fisiologista do clube. Ele ainda passou pela fisioterapia e deu voltas no gramado. “De acordo com a comissão técnica, em 30 ou 40 dias estará apto a fazer sua estreia”, disse o presidente Rone Moraes.

Foi o primeiro contato de Bruno com os futuros companheiros. O Boa joga já nesta quarta, pela segunda divisão do Mineiro, e por isso o restante do elenco também fez trabalhos físicos pela manhã. Um dos mais experientes do grupo, Radamés, ex-Fluminense, prometeu que todos receberão bem o ex-goleiro do Flamengo.

“A partir do momento que ele põe a roupa do Boa Esporte ele vai ser bem recebido. Eu, que estou aqui há mais tempo, tenho essa obrigação também. Eu conheço ele de jogar contra, mas nunca tinha tido amizade fora de campo”, disse Radamés. Questionado pela reportagem se as mulheres que conhece protestaram contra a contratação, ele negou. “Ninguém da minha família comentou nada, nem contra a nem a favor”, disse o volante, que é marido da atriz Viviane Araújo.

Pequena torcida ignora crime: "Pode acontecer"

A primeira passagem de Bruno pelo gramado teve a presença de uma pequena torcida, com cerca de 15 pessoas, que gritaram o nome do goleiro e palavras de apoio quando ele se aproximou da área onde estava a imprensa. Sorridente, ele acenou e retribuiu o carinho que os fãs, em sua maioria senhores de idade, manifestavam.

“Ele é bem-vindo. Todos precisam dessa segunda oportunidade. Quem tem de responder [se ele já cumpriu a pena que lhe cabia] é a Justiça. Se ela deu a oportunidade... Acredito, pela índole dele, que ele não vai voltar para a cadeia. Infelizmente, [o que aconteceu com o Bruno] pode acontecer com qualquer um. Comigo ou com você, por exemplo”, disse Lupércio, um advogado de 66 anos que não quis revelar seu sobrenome e nem tirar fotos.

“Não perco um jogo do Boa. Ele precisa da oportunidade de voltar à mídia. Todo mundo erra na vida. Foi um momento de bobeira dele”, completou Sebastião Azarias, motorista da região que também foi a CT manifestar apoio.

Bruno pede apoio: "Se imprensa ajudar, acabou"

Em todo o período em que esteve no CT, mesmo próximo dos jornalistas, Bruno foi filmado e fotografado normalmente, mas não quis falar. Sua única declaração foi depois da atividade, quando, de banho tomado, foi até o carro em que deixaria o local e teve um breve contato com o público.

“Obrigado. Vou precisar muito do apoio de vocês”, disse ele aos cerca de 15 torcedores. “Estou muito feliz de estar aqui em Varginha. O que eu preciso é de apoio. Se eu tiver apoio da imprensa e do público, acabou”, completou o goleiro, repetindo o discurso de seu empresário.

Antes do treino, ele participou de entrevista coletiva, quando declarou ser uma oportunidade única a volta aos gramados. "Estou muito feliz pela oportunidade dada. As pessoas cobram das outras o passado, mas o Boa está abrindo as portas para mim. É uma oportunidade única e estou motivado", explicou.