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Galiotte explica rompimento com Nobre e admite que quase desistiu de Borja

Borja lamenta chance desperdiçada do Palmeiras contra o Atletico Tucuman, na Argentina - Gustavo Garello/Jam Media via AP - Gustavo Garello/Jam Media via AP
Imagem: Gustavo Garello/Jam Media via AP

Danilo Lavieri e José Edgar de Matos

Do UOL, em São Paulo

15/03/2017 04h00

Maurício Galiotte não teve um início tranquilo à frente do Palmeiras. Um mês depois de assumir o comando, precisou tomar a decisão de apoiar a candidatura de Leila Pereira ao Conselho Deliberativo e rompeu relações políticas com Paulo Nobre, seu antecessor. 

Em entrevista concedida ao UOL Esporte, o cartola explicou o motivo que separou os dois e defendeu a presença da dona da Crefisa/FAM na vida política do clube. Ela coloca mais de R$ 80 milhões por ano em forma de patrocínio e na compra de direitos de jogadores. Na mesma entrevista, inclusive, o cartola admitiu que recebe mais do que o preço de mercado pelo seu uniforme

No papo de mais de uma hora, Galiotte ainda contou que quase desistiu da contratação de Miguel Borja, falou sobre a relação com o ex-presidente Mustafá Contursi e revelou o plano de quitar 100% das dívidas do clube até o fim de 2018, quando acaba a sua gestão. 

Na úlltima parte da entrevista, Galiotte falou sobre o cerco feito nas ruas do Allianz Parque em dias de jogo e sobre sua opinião de torcida única em clássicos

Confira a entrevista completa de Maurício Galiotte ao UOL Esporte

UOL Esporte: O Palmeiras tem jogadores muito visados. Como manter os atletas até o fim do ano?
Maurício Galiotte
: Quando desenhamos o ano de 2017, tínhamos essa preocupação de ter os jogadores à disposição para todo o período. O primeiro foi manter boa parte do elenco de 2016. Dos titulares só saiu o Jesus. E depois renovamos e aumentamos a multa de outros. O Palmeiras está muito bem protegido em relação à saída de jogadores. Pode ocorrer? Pode. Mas a chance de a gente perder um jogador é muito pequena. Estou muito seguro que o plantel será mantido.

UOL Esporte: O que vocês usaram para convencer o Barcelona para o Mina ficar?
Galiotte:
O Mina tinha uma cláusula de preferência para julho de 2017 e foi para julho de 2018. Junto com isso, desenhamos uma parceria que envolve o Palmeiras e o Barcelona para trocas de experiência de base, de metodologia e formas de trabalho. A parceria ainda pode aumentar com trocas de jogadores e mostrar que eles podem ter um canal direto conosco.

Mina, do Palmeiras, em lance de jogo contra o Internacional - Friedemann Vogel/Getty Images - Friedemann Vogel/Getty Images
Palmeiras acertou permanência de Mina até 2018
Imagem: Friedemann Vogel/Getty Images

UOL Esporte: Eduardo Baptista está garantido até o fim do ano?
Galiotte:
Em todos os setores, o profissional precisa de tempo. No esporte também. Eduardo reúne as qualificações necessárias. Ele é um profissional em início de carreira? Sim. Mas é estudioso, detalhista e comprometido. Enxergamos que ele tem totais condições de implementar o seu trabalho e ter sucesso. Temos metas, queremos chegar o mais próximo do título em todas as competições, e para isso precisa de tempo. Não vai ser um jogo isolado que muda isso.

UOL Esporte: Por que o senhor voltou a falar com as organizadas?
Galiotte
: Não fico falando com torcedor de maneira individual. O que faço é passar as orientações da PM de SP e de outros Estados para a torcida, sobre como chegar, onde se encontrar e etc. Mas isso já existe desde o ano passado. Agora, entendo que o torcedor é nosso consumidor e vou valorizar em alguns pontos. Não vou colocar organizada no tobogã e vou voltar a vender ingressos para jogos fora nas bilheterias se o mandante permitir.

Leila Pereira terá um mandato de quatro anos dentro do Conselho do Palmeiras - Cesar Greco/Fotoarena - Cesar Greco/Fotoarena
Leila virou conselheira do Palmeiras
Imagem: Cesar Greco/Fotoarena

UOL Esporte: Falando de política. A Leila [dona da Crefisa/FAM] tinha condição de ser eleita conselheira?
Galiotte:
Este foi assunto tratado internamente, de forma administrativa. Tive uma leitura diferente do presidente Paulo Nobre e preferi que isso fosse levado para o Conselho Deliberativo e tivesse um debate para ser votado. O presidente Mustafá entregou uma documentação que mostra que ela está no clube desde 1996 e o Conselho aprovou. O Mustafá é uma pessoa que tem história rica no clube e merece respeito.

UOL Esporte: Mas você viu o documento? Há quem diga que ele é falso.
Galiotte
: O Mustafá me entregou o documento, que foi protocolado normalmente na secretaria.

UOL Esporte: Três de seus vices votaram contra a entrada dela no Conselho. Se sentiu traído? Na formação da diretoria eles podem ficar um pouco afastados por isso?
Galiotte:
Não me senti traído. É um processo democrático e eles votam na maneira que entendem que é o melhor para o Palmeiras. O vice não tem uma atribuição específica. No estatuto, o vice atende na ausência do presidente. Eu respeito a decisão das pessoas que não tiveram a mesma leitura do que eu e a maioria das pessoas do conselho, vamos trabalhar naturalmente na formação da diretoria, cada um tendo entendimento do assunto. Não tenho nada condicionado e vamos buscar os melhores para o clube.

UOL Esporte: E o que você espera da Leila no Conselho?
Galiotte:
Ela vai participar da vida política do clube. Ela e o marido querem ajudar e são muito bem vindos. Mas os papeis são distintos: há o papel de patrocinadora e o de conselheira. Temos uma parceria de um lado e no Conselho ela faz tudo o que o estatuto permitir.

UOL Esporte: Há a chance de a Crefisa ajudar em outros esportes além do futebol?
Galiotte
: É uma possibilidade, porque temos a situação financeira equacionada, temos as certidões e estamos dentro dos requisitos para a lei de patrocínio. É uma possibilidade real e estamos trabalhando nisso.

21.jan.2013 - Paulo Nobre é eleito no Palmeiras com o apoio do ex-presidente Mustafá Contursi - Rogério Cassimiro/UOL  - Rogério Cassimiro/UOL
Paulo Nobre foi eleito em 2013 com Maurício como seu vice
Imagem: Rogério Cassimiro/UOL

UOL Esporte: Já falou com o Nobre após o rompimento político?
Galiotte
: Eu troquei mensagem com ele na semana passada, desejando feliz aniversário. Não existe rompimento. É que nós tivemos uma leitura diferente sobre uma situação. E cada um pensa da sua maneira, cada um tem as suas convicções, e eu como presidente tenho que preservar a Sociedade Esportiva Palmeiras.

UOL Esporte: Muito se fala da sua aliança com Mustafá Contursi. É impossível governar o Palmeiras sem o apoio dele?
Galiotte
: Acho que é difícil. Não sei se impossível, mas muito difícil. Ele é um grande líder. Tem passado no clube, ganhador na década de 1990 e ter o apoio do Mustafá fortalece o governo. O Paulo Nobre teve o apoio do Mustafá nos quatro anos e teve mais segurança com isso. É um suporte político importante. E eu acho que perseguição a certos grupos ou nomes não levam a lugar nenhum. 

UOL Esporte: Mustafá sempre pregou pela austeridade. Isso pode atrapalhar o projeto de profissionalização do clube. Isso aumenta os gastos.
Galiotte
: Mustafá é um grande palmeirense e ele só quer o bem do clube. Tem as suas convicções e pontos de vistas e tem uma preocupação realmente financeira, mas que eu também compartilho. Tanto que minha meta é o Palmeiras estar 100% sem dívidas ao término de 2018. E para isso teremos mais receitas do que despesas, além de ter um time forte, claro.

Mustafá Contursi George Hilton Ministério do Esporte - Ivo Lima/Ministério do Esporte - Ivo Lima/Ministério do Esporte
Mustafá Contursi, ex-presidente palmeirense
Imagem: Ivo Lima/Ministério do Esporte

UOL Esporte: Como foi feito o pagamento dos mais de R$ 40 mi a Nobre?
Galiotte
: Estamos pagando o presidente, que é o grande credor do clube. Pagamos há alguns dias um montante significativo usando várias fontes de recurso. São recursos do clube, recursos ordinários. E, além disso, o clube paga 10% de toda a sua receita ao Nobre em cada mês. Isso foi um plano apresentado no Conselho. E repito: até o final do ano que vem, quando termina minha gestão, quero estar com as dívidas 100% e não contemplo venda de jogadores para atingir isso.

UOL Esporte: Além do Nobre, o Palmeiras deve para mais quem?
Galiotte:
Boa parte da dívida é com o Nobre e tem um valor que não é significativo que está parcelado em dívidas como a Timemania. Mas isso está bem dividido ao longo dos anos e absolutamente controlado. O importante é que não devemos nada para nenhum banco.

UOL Esporte: Como está a reforma estatutária, uma das bandeiras de Nobre que não saiu do papel.
Galiotte:
A gente precisa estar constantemente modernizando nosso estatuto. Um trabalho foi iniciado na gestão do Paulo e quem lidera isso é o presidente do Conselho. Até agosto vamos dar andamento a alguns itens e sempre revisando ao longo do tempo, porque as coisas mudam, são modernizadas.

UOL Esporte: A WTorre diz que melhorou a relação com o clube com a sua chegada. Como estão as conversas?
Galiotte:
Vamos separar em duas partes: uma é defender o clube, com assuntos tratados na arbitragem e que são de conhecimento público. A outra parte a gente pode resolver em diálogo, como condição de gramado, situações de dia a dia que a gente possa colaborar.

UOL Esporte: Você implantou o setor família e deixa algumas crianças entrarem de graça no estádio. Esse plano pode expandir para todos setores do estádio? Há chance de o ingresso diminuir de preço?
Galiotte
: Se diminuir muito, não fecha a conta, porque o custo da arena é absurdamente diferente do antigo Palestra ou até no Pacaembu. O valor é embasado em uma composição de custo e temos quatro tabelas diferentes pela importância do jogo. Sobre as crianças, inicialmente, o plano é ficar apenas no setor família por questão de organização e segurança. 

UOL Esporte: Qual foi a decisão mais difícil desde que você assumiu o comando?
Galiotte:
Foi a contratação do Borja. Estávamos com uma concorrência forte, com a chance dele ir para a China. A pedida inicial foi absurda, mas ao mesmo tempo tínhamos a carência para a posição, porque o Gabriel Jesus foi embora. Chegamos a desistir da contratação, mas quando a janela fechou nós vimos a luz no fim do túnel e começamos a negociar muito os valores. No fim, o Alexandre Mattos foi para a Colômbia, convenceu o Borja de não ir para a China e a chegada dele foi fundamental.

UOL Esporte: Falando do Maurício antes de ser presidente do Palmeiras. O que gosta de fazer nas horas vagas? Que música ouve? Vê outro esporte além de futebol?
Galiotte:
No tempo livre, gosto de ir para o interior com a minha família e escapamos de tudo lá no sítio. Passamos alguns dias fazendo churrasco, esquecendo tudo. Eu gosto de MPB, gosto de músicas que já não estão mais na moda. De esporte, eu acompanho mesmo é futebol. Mas assisto Olimpíadas e algumas outras coisas.

UOL Esporte: Na internet, muitos torcedores dizem que você é sósia do Gru, personagem do filme Meu Malvado Favorito...
Galiotte:
(risos) Muita gente fala isso. É uma brincadeira que o pessoal faz e já ouvi várias outras comparações. Acho engraçado, levo numa boa.

UOL Esporte: Você já é reconhecido nas ruas?
Galiotte
: Sim, eu sou e acho isso super tranquilo. Converso com as pessoas e acho que está tudo bem.