Topo

Xodó no Japão, Nilton esquece camisa 19 e espera jogar ao lado de Podolski

Nilton, volante do Vissel Kobe, é abraçado pelo capitão Kazuma Watanabe - Vissel Kobe/Divulgação
Nilton, volante do Vissel Kobe, é abraçado pelo capitão Kazuma Watanabe Imagem: Vissel Kobe/Divulgação

Thiago Fernandes

Do UOL, em Belo Horizonte

16/03/2017 04h00

Nilton deixou o Internacional, em julho de 2016, rumo ao Japão. No Vissel Kobe, ele se tornou um nome querido no clube. Com gols, danças inusitadas e muito carisma, o volante é um dos principais atletas do time asiático.

Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, ele falou sobre a nova experiência na carreira – a primeira fora do país –, avaliou a chegada de Podolski ao clube (prevista para a próxima janela europeia de verão), contou quais as suas dificuldades nos primeiros meses no Oriente e revelou por que deixou de lado o número 19, o qual usou desde o início da carreira:

“Essa foi uma novela a numeração. Foi até uma das minhas exigências usar a 19 quando chegasse. Mas o nosso capitão aqui é muito respeitado. Isso é normal, todos os capitães são muito respeitados no Japão. Então, acho que não poderia passar por cima desta bandeira, até porque estava chegando na metade da temporada. Acabei vendo que a 10 estava disponível e peguei. Foi uma experiência nova para mim, uma responsabilidade que gosto de assumir. Os torcedores gostaram também, diziam que vim para resolver. Aos poucos, fui me destacando e acho que a 19 ficou um pouco de lado, usando a 10. Peguei um carinho pela 10”, afirmou.

“Quando fiquei sabendo que o Podolski estava vindo para cá, o dono do time me perguntou se eu poderia ceder. Eu disse que queria a 19, mas acabaram fazendo um sortei, tive que pegar a camisa 7, a 19 permaneceu com o capitão. Os torcedores acharam um pouco ruim, porque eles sabem que gosto da 19, mesmo tendo o capitão. Mas está dando certo, são dois jogos, duas vitórias. Espero que a torcida esteja gostando deste novo camisa 7, que fará muito sucesso na temporada”, acrescentou.

Nilton, volante do Vissel Kobe, utiliza a camisa 7 - Vissel Kobe/Divulgação - Vissel Kobe/Divulgação
Nilton, volante do Vissel Kobe, utiliza a camisa 7 atualmente
Imagem: Vissel Kobe/Divulgação

Veja outros pontos da entrevista de Nilton à equipe de reportagem:

Como foi a adaptação de sua esposa e seus filhos ao Japão? Todos conseguiram se acomodar tranquilamente?
A minha família não teve tanto problema na base de adaptação, até porque vim um pouco antes e deixei tudo engatilhado, moradia, automóvel, escola. Como tenho uma filha de cinco e um menino de dois anos, é uma experiência nova para eles. Minha filha já aprendeu algumas coisas em japonês e eu quebrando aqui. A minha esposa conseguiu se adaptar, porque tem alguns brasileiros também. A ilha que a gente mora tem bastante imigrante. A gente conseguiu se adaptar o mais rápido possível, até porque tem o Leandro aqui e o Wescley acabou de chegar. Isso nos ajuda a não ficar tão excluídos. A minha esposa não tem nenhuma dificuldade na base de entender e se locomover. As coisas estão fluindo da melhor maneira possível, até melhor que esperávamos. Tem tudo para dar certo essa primeira saída do país.

Pensa em retornar ao Brasil em breve? Gostaria de defender novamente um dos clubes onde atuou aqui?
Tenho 29 anos, faço 30 no mês que vem. Claro que penso em voltar a jogar no Brasil, pude passar por clubes grandes, com grande respeito até no futebol mundial. Quem não quer voltar e encerrar em um clube que ajudou no Brasil? Pude sair por todos os clubes pela porta da frente. Então, espero, primeiro, exercer minha função. Pretendo renovar para poder ficar alguns anos no Japão, porque acabei amando esse país e o povo japonês. Tenho tudo para marcar história no clube. Quero deixar títulos, boas impressões e o meu nome cravado na história. Por se tratar da minha primeira saída, seria ótimo dar um título para um clube que ainda não ganhou um grande campeonato. A gente não fala nunca que vai voltar, mas quem sabe amanhã posso voltar para o Brasil e encerrar minha carreira em um clube grande pelo qual já passei.

Esta é a sua primeira experiência fora do país. Tem algum caso engraçado sobre a língua ou cultura local?
Tratando-se da minha primeira saída do país, sempre tem coisas novas que acontecem. Até na base de tirar minha habilitação aqui, porque o pessoal dirige pelo lado direito do veículo e, na rua, você tem que andar pelo lado esquerdo. Acho que a cultura que o povo japonês tem é uma coisa extraordinária. Eles estão sempre cumprimentando e agradecendo, são muito educados. Eu me apaixonei pelo povo japonês, porque eles querem ajudar os estrangeiros. É claro que, nos treinamentos, a comunicação, às vezes, é engraçada. Às vezes, finjo que estou entendendo e não estou entendendo nada. Mas temos um tradutor aqui que pode nos ajudar muito nas situações do futebol. Uma coisa inusitada é em relação às comidas. Às vezes até pelo cheiro você não quer comer. Os garotos me deram uma comida aqui que nem eles gostam de comer. Tive que tomar um litro de água para tirar o gosto ruim da boca. Até o tradutor entrou na brincadeira. É sadio, acontece.

Como avalia a possibilidade de jogar ao lado de um campeão mundial e um jogador tão querido no futebol mundial como o Podolski?
Dizer o que do Podolski? Pelo que ele já conquistou, até uma Copa do Mundo no Brasil... Muitos gostariam de ter o Podolski jogando em seu clube. Há um tempo, saíram matérias falando que ele poderia ir para o Flamengo. Isso só tem a agregar o nome dele. O lance do marketing será muito importante para o clube. A liderança e a experiência serão importantes. A parte técnica também nos ajudará. É um cara que vai cadenciar no momento certo na hora de dar um passe diferenciado. Acho que só tenho a ganhar e não tenho dúvida que a gente vai buscar coisas grandes e buscar esse título inédito, que o Vissel Kobe quer ganhar há muito tempo.

Em seu primeiro ano na Ásia, você marcou três gols em 19 jogos. Você fica atento às suas estatísticas?
Eu sou um cara que me cobro muito. Acho que as estatísticas são feitas para você sempre se avaliar. Quando acaba o jogo, gosto de ver o VT para saber onde errei e acertei. São 19 gols e três gols. Isso é muito importante, se tratando de um volante, porque aqui tem muita marcação. Tive que mudar minhas características um pouco, porque aqui os volantes marcam e chegam à frente. Consegui colocar em prática o que o professor Nelsinho (Baptista) me pediu. Eu me cobro, posso dar mais ainda dentro de campo. Espero que possa me destacar o mais rápido possível e, no individual, me destacar cada vez mais.

Você chegou a Vissel Kobe em julho do ano passado e já é muito respeitado no clube. O que espera desta temporada?
A expectativa é a melhor possível, poder começar uma temporada fazendo uma pré-temporada, melhora o trabalho. É minha primeira saída do país. Aqui no Japão, o futebol é muito corrido e eles têm conseguido igualar na base da técnica também. Estou muito feliz por poder completar minha primeira temporada no meio do ano. Em seis meses, consegui me adaptar o mais rápido possível, até porque cheguei no meio da temporada. Esse carinho e respeito que os torcedores e o clube têm por mim são muito gratificantes. Eles aprovaram o que vinha mostrando no Brasil e fico muito feliz por isso.