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Montillo se sente carioca, mas uma coisa ainda o tira do sério no Botafogo

Vitor Silva/SSPress/Botafogo
Imagem: Vitor Silva/SSPress/Botafogo

Bernardo Gentile

18/03/2017 04h00

São pouco mais de três meses de moradia no Rio de Janeiro. Para o argentino Montillo, tempo suficiente para se sentir em casa na cidade, que, segundo ele, o "abraçou". Até mesmo bloquinho de Carnaval e Sapucaí marcaram o início de vida do camisa 7 do Alvinegro na Cidade Maravilhosa.

O semblante de felicidade do meio-campista, porém, se fecha com um assunto. O jogador perde o bom humor ao escutar críticas sem fundamento ao time. Ele sente que há um tratamento diferenciado do Alvinegro com outros clubes do Brasil e até do Rio de Janeiro.

“A gente respeita os outros times. Nunca vi um jogador nosso falando alguma coisa de outros clubes, que vamos passar por cima ou coisas parecidas. Todos devem fazer isso, respeitar o trabalho do outro. Somos os primeiros a querer ganhar, mas sempre respeitando o adversário. Às vezes escuta algumas pessoas [jornalistas] sentadas no escritório, usando calculadora, dizendo que o Botafogo tem menos chances. Por que? Acordamos todos os dias 6h, aguentamos um sol do c..., fica longe da família e vem um cara dizer que vamos ficar de fora? Todos têm chances de passar, ainda mais o Botafogo que é grande. O Bruno [Silva] disse algo nessa linha e acho que era nisso que ele queria chegar. Merecemos respeito e estamos mostrando porque merecemos. Batemos grandes equipes até aqui. Colo-Colo, Olímpia e, agora, Estudiantes. Tem o Atlético Nacional pela frente agora. Sabemos que com trabalho podemos conseguir tudo”, disse o argentino.

Confira outros trechos da entrevista com o meia argentino do Botafogo:

Chegada ao Botafogo

Lindo. Quando eu cheguei respeitaram muito a mim e minha família. Tinha possibilidade de ir para outros times, mas o clube fez uma força muito grande para contar comigo. Tenho muita consideração por isso. Estou muito feliz, um grupo bom de trabalho. O começo do ano tem sido bom para gente. Conseguimos o primeiro grande objetivo e classificamos para a fase de grupos da Libertadores.

Já chegou como ídolo

monti nos braços - Divulgação/Botafogo  - Divulgação/Botafogo
Imagem: Divulgação/Botafogo

Fiquei feliz demais com a recepção. Não esperava que fosse tanto. Isso é fruto do bom trabalho que fiz ao longo dos anos. Sou um cara trabalhador e o mais trabalhador possível. Sou simples fora do campo e dentro de campo o mais profissional possível. Fico sempre agradecido com os torcedores pelos clubes por onde passei. Sou muito agradecido aos botafoguenses porque eu estava três anos na China e poderiam ter esquecido do que fiz. E com a recepção ficou provado que eles lembram quem sou e do que sou capaz. Vou dar meu melhor pra eles.

Conhecia o Botafogo?

Não conhecia muito o Botafogo. Nunca tinha jogado aqui no Rio, só em outro estado. E falam mais dos times de lá. Não sei se surpreso é a palavra certa, mas aqui tem muita gente boa com vontade de trabalhar forte. Comissão técnica, fisiologista, nutricionista... Todos com muita vontade e isso faz a diferença. Tem tudo aqui para os jogadores. Ambiente é muito bom, todos ligados que se trata de um time muito grande e queremos fazer história. Tomara que no fim do ano possamos estar falando do nosso time campeão.

Torcida e Libertadores: um caso de amor

Liberta é FOGO - Facebook Botafogo - Facebook Botafogo
Imagem: Facebook Botafogo

É muito lindo ver a torcida acompanhando o time e fazendo essas festas. Mosaico, faixas. Todo jogo tem uma linda festa. Quando tem bom time, mas as torcidas não acompanham, as vezes não dá certo. Aqui temos as duas coisas. Entramos em campos fortes e damos nosso melhor por eles.

Montillo líder?

Eu era o capitão da equipe naquele jogo e senti que precisava dar uma palavra. Foi justamente o que saiu nos bastidores do clube. E deu certo, graças a Deus. Falei que o nosso time era melhor que o deles e que o Pimpão faria o gol. E ele fez. Mas o time tem outros líderes também. Temos muitos meninos vindo da base e uma palavra de um jogador experiente pode ajudar naquele momento. Dessa vez fui eu quem falei, mas também fala o Carli, qualquer um fala. Eu conheço bem o futebol chileno e achei que poderia ajudar ali. A torcida fazia pressão, pintaram o vestiário. Fico feliz que deu certo.

Rio de Janeiro

Monti - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Linda a cidade. Pessoal te abraça. Minha família está muito feliz aqui e isso ajuda muito na hora de trabalhar. Meu filho faz terapia no Downtown toda semana e foi convidado para passar numa festinha. Então fomos e foi muito legal. Bom que os resultados em campo ajudaram e deixou tudo mais leve. Depois fui com minha mulher na Sapucaí também.

Família

Às vezes é preciso deixar um pouco o futebol de lado para curtir a família. A profissão é dura e muitas vezes temos que viajar e ficamos longe. Perco muitas coisas dos meus filhos, o que me dói muito. Essa semana [Carnaval] tínhamos vencido, estava tudo certo e aproveitei minha família. Foi um momento lindo.

Montillo caseiro?

Monti 2 - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Sempre tem tempo para tudo na vida. Não é proibido sair para uma balada, essas coisas. Mas precisa pensar. Você vai à festa e vão tirar foto sua. Dependendo do momento não vale se expor. Eu nem tenho tempo para festas. Nas férias eu aproveito. Deixo meu filho com a sogra e curto. Aqui não estamos acostumados a deixar filho com babá. Na Argentina não temos isso. Cada um é de uma forma. Mas vejo assim. Se o cara gosta de curtir, mas chega sempre na hora do treino, se entrega e joga bem, por que não?

Sassá estava com problemas disciplinares. Você conversou com ele também?

Conversamos com todo mundo, porque precisamos de todo mundo. Às vezes tem essa situação de um jogador ser afastado e é ruim. Ruim para ele e para nós, que precisamos dele. Na terça ele entrou e mudou a partida. Fez boas jogadas e conseguimos a virada. Somos 35 jogadores e precisamos de todos. Temporada longa, com lesões. Se quem está fora não está preparado para entrar, é ruim. Mas o Sassá está bem, treinando bem. Com a cabeça boa e vai ajudar como já vem fazendo.

Até onde Botafogo pode chegar na Libertadores?

comemora - VANDERLEI ALMEIDA/AFP - VANDERLEI ALMEIDA/AFP
Imagem: VANDERLEI ALMEIDA/AFP

Tomara que o mais longe possível. Grupo está ficando mais fortes, pegamos times difíceis e demos conta. Começando ganhando e vamos pegar outro time forte agora. Não sei dizer até onde podemos chegar, mas o próximo objetivo é classificar para as oitavas de final. Tomara que tenhamos um resultado positivo na Colômbia para seguir nossa caminhada.

Canales

Não queremos perder ninguém, mas o futebol é assim e essa é a parte chata. Ele está querendo jogar e não estava tendo as oportunidades que busca. Vai procurar por outro lugar. É ruim essa situação, pois nos apegamos às pessoas. Treinamos juntos todos os dias e queremos o melhor de cada um. Futebol é assim, não é como rúgbi que jogam os 30. Ele é experiente, tem cabeça boa e continua trabalhando. Vai procurar nova equipe no Chile, onde tem muita moral. Não deu certo como queria por aqui, mas é um grande jogador e vai seguir a carreira em outro time. Torço muito por ele, que é gente boa.

Bom Senso

Peguei o início do Bom Senso, mas logo em seguida saí do Brasil. Acompanhei de longe por um tempo, mas não sei o que aconteceu, sinceramente.

Já na Argentina...

O sindicato dos atletas é muito forte na Argentina. Isso é bom. Jogador de time grande dificilmente tem problema, mas os jogadores de times de Série B e C já é mais complicado. Tem uma família por trás com salário muito baixo. Deixa de trabalhar pelo sonho de jogar futebol, que também é profissão. E ainda ficam oito meses sem receber. Fica difícil. Os jogadores mais famosos têm dinheiro guardado e sabem que vão receber na frente. Mas quem está começando ou joga em times pequenos, fica difícil. É legal alguém do time grande tomar a frente nesses casos e interceder pelos menores. "Só vamos voltar a jogar se pagar todo mundo". Foi isso que aconteceu. Pagaram e voltou o campeonato. Não pensamos em nada diferente de não ajudar um companheiro que está sofrendo.