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"Cultura e formação acadêmica produzem jogadores melhores", diz Mauro Silva

Mauro Silva é vice-presidente de integração de atletas da Federação Paulista - Divulgação/FPF
Mauro Silva é vice-presidente de integração de atletas da Federação Paulista Imagem: Divulgação/FPF

Dassler Marques

Do UOL, em São Paulo

20/03/2017 12h00

Contratado pela Federação Paulista para se preocupar exclusivamente com os atletas, o tetracampeão mundial Mauro Silva admite que o futebol de hoje já é muito diferente do que era antes, inclusive em seu tempo de meio-campista. O atleta dos dias atuais precisa ter o aspecto cognitivo cada vez mais elevado e ter nível acadêmico, social e cultural melhores para uma leitura correta do jogo dentro e fora das quatro linhas, onde os desafios também são outros. 

É para estimular esse entendimento que Mauro Silva lidera, pelo segundo ano seguido, um seminário de formação de atletas na Federação Paulista, agendado para terça-feira. Nesta entrevista, o vice-presidente de integração de atletas explica qual a ideia que pretende levar aos clubes sobre quais são, na avaliação dele, as principais demandas do futebol do século 21. 

Veja as declarações de Mauro Silva:

Objetivo do seminário

Já tivemos no ano passado esse seminário de base, voltado ao desenvolvimento humano. Muitos clubes têm apenas a preocupação de só formar tecnicamente e deixam a questão humana e acadêmica em segundo plano. Quanto mais se investe no cognitivo, você melhora o profissional, ele consegue se relacionar melhor, tem maior controle emocional e sabe administrar a carreira. Se você for olhar na base de um clube, só 2% se tornam atletas e 98% são cidadãos normais. Quanto mais você investe no homem, mais acerta no atleta. 

Como as federações interferem no processo

Hoje já tem o selo de clube formador que é um certificado importante para a base, que dá garantia ao processo de formação para o clube não perder jogadores. O segundo programa que temos é de avaliação da excelência de gestão em São Paulo em que o segundo critério é a base. Assim, quanto melhor for, mais incentivos têm nesse programa de excelência. É uma forma de fazer com que os clubes entendam que base não é despesa, é investimento. Eu sou um caso, de quem veio do interior, do Bragantino, até a seleção.

Atletas de melhor nível

O futebol de hoje é muito diferente do passado. Daqui uns anos, vai ser diferente também. Quanto mais você investir na formação do atleta, dar estímulo ao cognitivo dele, a uma tomada de decisão mais rápida por meio de estímulos em idades iniciais, melhor. Todo conhecimento, toda cultura e formação acadêmica, tudo é estímulo. Até música, artes, outros esportes, são coisas que ajuda o jogador a ser um profissional melhor. Pensando na formação do atleta é bom, mas na sociedade também. Os atletas de fato são poucos, mas o papel do futebol é melhorar a sociedade, ser uma ferramenta de transformação. Eles podem ser técnicos, preparadores físicos, jornalistas, então você prepara bem os profissionais, todo investimento vai ser importante. 

Entidades precisam estimular a formação

Acho que sim, totalmente, isso cabe às entidades que administram o futebol, a elas cabe o fomento. O que aconteceu é que antigamente era uma formação natural, dos jogadores na rua. Hoje, com as cidades grandes, perdemos isso. A metodologia de formação é importante, temos as escolas de futebol aqui, procuramos formar os treinadores, qualificar a área. Vamos melhorar o nível de formação dos treinadores, hoje temos curso de treinador da CBF homologado pela Conmebol. 

Na Alemanha, jogador trocou jogo da Champions League por uma prova escolar

É um processo de desenvolvimento humano, vamos falar disso no seminário. Termos cada vez mais um nível melhor de educação para se valorizar. O garoto até  no Brasil poderia gerar comentários, do tipo 'nossa, vai estudar'. Mas, pela importância dos europeus nisso, por lá não acontece. Vamos avançar nessa direção, temos essa consciência de que precisamos de um futebol melhor, com profissionais com essa formação. Essa é a nossa preocupação.