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Filho de presidente morto em tragédia busca reconstrução na base da Chape

Aos 17 anos, Matheus Pallaoro integra elenco sub-20 da Chapecoense - Julia Galvão/Divulgação
Aos 17 anos, Matheus Pallaoro integra elenco sub-20 da Chapecoense Imagem: Julia Galvão/Divulgação

Emanuel Colombari

Do UOL, em São Paulo

02/04/2017 04h00

Não é exagero dizer que o mundo parou no dia 29 de novembro de 2016 para acompanhar a tragédia da delegação da Chapecoense. Na madrugada daquela terça-feira, o voo que levava a equipe para a disputa das finais da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional caiu nos arredores de Medellín (Colômbia), matando 71 pessoas. Em diversos países, o clube catarinense recebeu e recebe homenagens de equipes, dirigentes e torcedores.

O desastre na Colômbia, porém, afetou de forma direta um jogador das categorias de base da Chape: Matheus Pallaoro, filho do então presidente da equipe, Sandro Pallaoro.

Meia-atacante do time sub-20 da Chape em 2017, Matheus ainda se recupera de uma perda pessoal em meio ao maior desastre aéreo da história envolvendo uma equipe esportiva. Hoje, ao mesmo tempo em que dá sequência à carreira esportiva, cursa o primeiro ano da faculdade de administração de empresas, e admite um início “bem difícil” nos primeiros meses sem a companhia de Sandro.

Matheus Pallaoro e Sandro Pallaoro - @mathpallaoro/Twitter - @mathpallaoro/Twitter
Matheus Pallaoro posa ao lado do pai, Sandro Pallaoro, ex-presidente da Chape
Imagem: @mathpallaoro/Twitter
“Ele faz muita falta em tudo, em todos os momentos. Geralmente, quase todo dia você fica um pouco triste”, conta Matheus, de 17 anos, em entrevista por telefone ao UOL Esporte. “É bem estranho, mas infelizmente a gente tem que passar por isso”, completou.

Matheus tinha uma relação próxima com Sandro. Era o pai que dava carona ao filho para os treinos, ou depois deles para leva-lo às aulas. Fora dos gramados, até mesmo o curso de administração teve influência da família – os pais do jogador tinham uma distribuidora de alimentos em Chapecó, que hoje é administrada pela viúva de Sandro, Vanusa.

No entanto, a meta de Matheus ainda é a carreira no esporte, que fora perseguida também pelo pai na juventude – antes de ser dirigente, Sandro Pallaoro chegou a jogar futsal profissionalmente no Grêmio Industrial, da cidade de Pato Branco (PR). “Ele me passava tudo que ele sabia, me passava o exemplo na maioria das coisas. Era bom, bem bom”, conta Matheus.

O futuro da Chape e a nova vida em campo

Em 2017, a vida de jogador mudou bastante para Matheus. Acostumado a acompanhar o dia a dia do vestiário do time profissional com o pai, passou a acompanhar o time “mais por fora, como atleta da base”. Ainda assim, costuma conversar com dirigentes que não embarcaram para Medellín em novembro.

“A maioria (dos dirigentes que ficaram) era de amigos pessoais do meu pai, me conheciam bem, então a gente conversa. Em dia de jogo, ainda vou ao vestiário” explica, relatando o cenário que acompanha diante da reconstrução do clube.

“É bem estranho, porque a maioria que estava ali a gente não vê mais. A gente estava acostumado de muitos anos já. Mas a gente vê que muitos querem o bem da Chape, todo mundo está lutando – jogadores, dirigentes. Todo mundo está tentando continuar o que estava sendo feito”, completa.

Matheus Pallaoro, lado - Julia Galvão/Divulgação - Julia Galvão/Divulgação
Meia-atacante, Matheus Pallaoro espera Chape reconstruída em 2018 ou 2019: 'O time está bom, mas demora um pouco até entrosar todo mundo'
Imagem: Julia Galvão/Divulgação
Hoje, passados quatro meses da tragédia aérea com o clube, Matheus ainda procura explicar e entender como a comoção da equipe afetou o mundo. E espera que o processe de reconstrução seja capaz de recolocar a Chape logo no caminho que vinha traçando.

“Não sei o que é, mas acho que todo mundo sentiu que teve algo diferente, por ser a Chapecoense. Era um time querido, que não tinha uma rivalidade com ninguém, que chegou do nada e foi conquistando tudo. Era um time querido por todo mundo. Tinha um trabalho sério. A maioria dos jogadores era pouco conhecida, mas muito guerreiros, que davam a vida pelo clube”, comenta, indo além.

“Eu acho que, neste ano, a gente vai fazer uma campanha boa, de passar na primeira fase da Libertadores, e é muito bom. Mas a gente vai meio voltar a ser o que era - talvez ainda não no próximo ano, talvez no outro. Um time mais forte, entrosado. O time está bom, mas demora um pouco até entrosar todo mundo. Acho que, em dois anos, ou até ano que vem já, pelo jeito que está indo, acho que a gente volta ao normal”, prevê.