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Clube nega tentativa de suborno e diz que só queria contratar goleiro

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

08/04/2017 13h00

Acusado de tentar subornar um goleiro do futebol catarinense para que ele entregasse dois gols, o Andraus, clube da segunda divisão do Campeonato Paranaense, se defendeu dizendo que seu presidente foi mal interpretado na conversa que teve com o goleiro.

Neto Volpi, do Inter de Lages, conversou por Whatsapp com Fred Nelson, o presidente do Andraus, um ex-jogador que também atua como empresário de atletas. Fotos da conversa no aplicativo foram anexadas a um boletim de ocorrência feito na quinta-feira pelo goleiro e por seu clube, que acusam Fred de ter tentado suborná-lo para que ele sofresse dois gols de propósito no jogo contra o Joinville, neste sábado.

A denúncia chegou à imprensa na noite de sexta. Marluz Dalledone, o advogado do Andraus e de seu presidente, foi quem resolveu se pronunciar sobre o caso.

Ele admitiu a veracidade da conversa de Whatsapp entre seu cliente e o goleiro, mas afirmou que os trechos foram retirados de contexto. Na conversa Fred, fala em “15 mil na sua mão” e “tomar dois gols”, além de admitir que o assunto é uma “situação complicada” e depois pedir para Neto “apagar a conversa”.

Dalledone disse que o goleiro interpretou errado as palavras de Fred, que estaria apenas comentando um valor para contratar o goleiro para defender o clube.  

neto volpi - Fom Conradi/Inter de lages - Fom Conradi/Inter de lages
Imagem: Fom Conradi/Inter de lages

“O Fred e o clube Andraus refutam essas acusações”, disse o advogado, que trabalha para o clube há cinco anos. “Nega de forma veemente que tenha tentado manipular o resultado do jogo, já que o único contato que ele teve com o goleiro Neto era relacionado à negociação do jogador, na condição de empresário e dirigente e de futebol. Ao clube Andraus nada alteraria o resultado do jogo [entre Inter e Joinville], da primeira divisão de Santa Catarina, já que compete na segunda divisão do Paranaense, sendo ilógico qualquer raciocínio ou tentativa de manipulação nesse sentido.”

“A conversa que foi apresentada é um recorte de uma conversa maior e foi descontextualizado”, disse ele. Em relação à frase “tomar dois gols” escrita por Fred logo após a menção aos R$ 15 mil, o advogado afirmou que era uma referência a um jogo anterior do goleiro.

“A menção que foi feito a quantidade de gol é que na partida anterior Neto havia levado seis gols, e isso seria uma referência a dois deles. Fred Nelson foi jogador de Lages, ele tem todo um palavreado próprio de se usar entre jogadores, uma forma de se tratar própria deles. A interpretação que foi feita daquele trecho é deturpada.”

No dia 29 de março, o Inter perdeu para o Tubarão por 6 a 0 com Neto no gol.

Por meio de nota, o Inter de Lages manifestou repúdio diante da situação denunciada e disse que ela "macula o esporte".

"O clube manifesta seu veemente repúdio a esse tipo de prática, de quem quer ganhar no esporte por meios escusos. Essa torpeza moral macula nosso esporte. Mas, dessa vez, os torpes não prosperaram: bateram de frente com um clube que tem uma história de quase 68 anos de vida pela qual zelar e com um atleta que honra a camisa que veste e a profissão que exerce." 

Clube nega envolvimento com apostas

O advogado do presidente do Andraus negou que seu cliente ou alguém do clube tenha qualquer envolvimento com apostas, possibilidade aventada como motivação para a tentativa de suborno. Ele disse que seu cliente acredita que o Inter de Lages tenha feito uma denúncia “leviana” com o objetivo de ganhar visibilidade na imprensa.

O Inter de Lages afirma não acreditar que o Joinville, que seria beneficiado se o goleiro tivesse aceitado o suborno, tenha alguma coisa a ver com a situação. O Joinville publicou nota em seu site negando conhecer as pessoas citadas no boletim de ocorrência.

"O Joinville Esporte Clube nega qualquer envolvimento com a suposta tentativa de negociação para o goleiro Neto Volpi, do Internacional de Lages, sofrer propositalmente dois gols no jogo deste sábado, contra o JEC. O clube também nega conhecer os senhores Fred e Diogo Braga, citados no Boletim de Ocorrência registrado pelo presidente do Inter, Cristopher Nunes, nesta semana. De qualquer forma, lamentamos que no futebol ainda existam pessoas que ignoram o espírito esportivo para se beneficiar com atitudes ilícitas, como apostadores que tentam comprar o resultado de um jogo, por exemplo." 

De acordo com o boletim de ocorrência registrado pelo goleiro e pelo clube, Neto foi abordado por Diogo Braga, que teria se apresentado como funcionário do presidente do Andraus. Diogo teria então convidado o goleiro para uma reunião em um hotel. “O Andraus desconhece qualquer pessoa chamada Diogo Braga”, disse o advogado.

O clube afirma ainda não ter sido intimado sobre o caso, que ainda está em fase de apuração pela Polícia Civil. O suborno, conhecido como “mala preta” no meio do futebol (quando um dirigente oferece dinheiro para um atleta perder ou prejudicar de proposito seu time), pode ser enquadrado no artigo 41-D do Estatuto do Torcedor:

Dar ou prometer vantagem patrimonial ou não patrimonial com o fim de alterar ou falsear o resultado de uma competição desportiva ou evento a ela associado.

Pena: reclusão de dois a seis anos e multa.