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Amadorismo e saldo de -73. A dura missão do time que só aposta em "refugos"

Europa Point FC/Facebook
Imagem: Europa Point FC/Facebook

Éder Fantoni

Colaboração para o UOL

09/04/2017 04h00

Refugo! Refugo! Refugo! É muito comum ir a um estádio de futebol no Brasil e ouvir torcedores gritando esta palavra a plenos pulmões em direção a jogadores que não deram certo em determinados times, foram colocados de lado e conseguiram uma vaguinha em uma outra equipe.

No Brasil, para muitos, isso é uma ofensa. Em Gibraltar, em pelo menos um estádio, isso é só uma constatação. Ou um elogio. Que o diga John Gontier, dono do Europa Point FC, clube armador que foi fundado em 2014 e neste ano joga pela primeira vez na primeira divisão da liga local.

O primeiro propósito da equipe é o de contratar apenas jogadores que foram dispensados por outros times. Ao entrar no site do clube, ele mostra com orgulho a sua intenção. "Europa Point FC é um time com uma filosofia única no futebol. A nossa missão é ousar e dar uma segunda chance a jogadores jovens e talentosos", diz a mensagem no site.

Gontier parece ter um trauma na sua vida. Ele fez parte das categorias de base do Watford, da Inglaterra, na década de 1970. Tinha o sonho de se tornar jogador profissional. Porém, em 1978, aos 19 anos, foi dispensado. Ainda atormentado por isso, criou o Europa Point FC.

"Infelizmente, jogadores dão tudo ao futebol e perdem até os seus estudos. Quando são dispensados, eles não têm mais futebol e encontram dificuldades até para encontrar trabalho porque colocaram tudo numa cesta, que é a do futebol", disse Gontier ao UOL Esporte.

O elenco do Europa Point FC é composto majoritariamente por jovens, que vêm principalmente da Inglaterra e da Espanha. Não há contratos milionários. Muito pelo contrário. Eles ganham uma ajuda de custo. Há até um espaço no site do clube para doação.

"E tenho recebido ajuda de outras duas organizações [a Liga Educacional de Futebol da Inglaterra e a Associação Profissional de Futebol] para os custos de alojamento deles. Nós apenas damos uma segunda chance a eles de voltarem ao futebol", enfatiza Gontier.

Desde 2014, alguns jogadores do Europa Point FC conseguiram projeção ao futebol semiprofissional, como Dexter Atkinson, que foi contratado em 2016 pelo Ilkeston FC, time que joga nas categorias inferiores da Inglaterra, e Sebastian Osei-Obengo, que foi parar no Dumbarton, equipe que atualmente está na segunda divisão da Escócia.

Para ir além do seu propósito e lutar por vitórias em um patamar além da segunda divisão de Gibraltar, porém, Gontier terá que mudar um pouco a sua filosofia.

Desempenho tem sido pífio na primeira divisão

Pela primeira vez entre os grandes do país, o time está na última colocação da liga. Em 21 jogos, ganhou apenas dois, empatou um e perdeu 18. Até aqui, foram 11 gols feitos e 84 tomados. Tem saldo de gols de -73.

Gontier já teve que engolir uma derrota por 15 a 0 para o vice-líder da competição, o Lincoln Red, e outra por 13 a 1, para o líder do torneio, o Europa FC. "Por ter jovens jogadores dispensados, cinco nascidos em 2000 no time titular, na primeira divisão de Gibraltar, significa estar na última colocação", disse o dirigente.

"O que eu vi é que essa missão é ótima na segunda divisão, mas não na primeira. Eu teria que mudar e ter pelo menos quatro ou cinco jogadores entre 25 e 35 anos, mas, para isso, precisaria de investidores ou patrocinadores", afirmou Gontier.

A ambição por títulos e por novos desafios (a liga de Gibraltar tem uma vaga para a pré-eliminatória da Liga dos Campeões e uma na Liga Europa) podem fazer o clube mudar um pouco de direção na próxima temporada.

"Precisamos mudar nossa missão se nós quisermos fazer algo melhor na primeira divisão. A partir da experiência que tivemos neste campeonato, podemos criar [um time] para chegar à Liga dos Campeões ou à Liga Europa", afirmou.