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Carille já supera Oswaldo e Cristóvão. Agora é colocado à prova em decisões

Carille - Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians - Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians
Imagem: Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians

Dassler Marques

Do UOL, em São Paulo

10/04/2017 04h00

Por mais natural que pudesse ser, pela diferença de porte dos dois clubes, a classificação do Corinthians contra o Botafogo-SP para a semifinal do Campeonato Paulista era fundamental para Fábio Carille. Com a vaga para a semifinal em mãos, o treinador que trabalha sem grandes riscos de demissão desde que foi efetivado conquistou algo importante com a vitória por 1 a 0 no domingo: estabilidade para o próximo momento. 

Com os 19 jogos oficiais alcançados pelo Corinthians na tarde passada em Itaquera, Carille superou um crivo simbólico importante: alcançar mais partidas que Cristóvão Borges (18 jogos), Oswaldo de Oliveira (9 jogos) e também Adílson Batista (17 jogos), que fracassaram na tentativa de suceder a Tite e Mano Menezes nos últimos dez anos corintianos.

Passar pelo Botafogo era fundamental porque encerrava um ciclo em que, para o Corinthians, não vencer era quase inadmissível para a realidade de cobranças que costumam marcar os grandes clubes brasileiros. As metas de alcançar a semifinal do Paulista e a quarta fase da Copa do Brasil foram cumpridas.

Com três meses de trabalho completados, Fábio Carille e o Corinthians se voltam para o Internacional, que está na Série B mas tem representatividade de tantos títulos conquistados, e para a semifinal do Paulista contra um time de Série A – Ponte Preta ou São Paulo, rival com maior probabilidade. Se alcançar êxito nos dois confrontos, já se obriga a duelos ainda maiores para as fases seguintes dos dois torneios. 

Os erros que não cometeu

Cristóvão (18 jogos), Adílson (17 jogos) e Oswaldo (9 jogos): ultrapassados por Carille - Montagem sobre fotos de Daniel Augusto Jr e Rodrigo Gazzanel/Agência Corinthians - Montagem sobre fotos de Daniel Augusto Jr e Rodrigo Gazzanel/Agência Corinthians
Cristóvão (18 jogos), Adílson (17 jogos) e Oswaldo (9 jogos): ultrapassados por Carille
Imagem: Montagem sobre fotos de Daniel Augusto Jr e Rodrigo Gazzanel/Agência Corinthians

Em seus insucessos no Corinthians, Cristóvão, Oswaldo e Adílson cometeram um erro idêntico: quebrar a fórmula de trabalho e principalmente a ideia de jogo que deu resultados com Tite e Mano Menezes. Foi assim que o primeiro, escolhido em 2010 quando Mano foi à seleção, entrou em desgraça após assumir a liderança do Campeonato Brasileiro. O roteiro se repetiu com Cristóvão. Já Oswaldo, teve ainda menos tempo, mas não quis se adaptar. 

Carille, outro lado, não apenas adotou um modelo de jogo mais baseado na força defensiva e em triangulações, como também repetiu uma série de procedimentos de Tite e tem uma ideia de trabalho mais horizontal com a comissão técnica. Como auxiliar durante oito anos, teve participação na construção de um sistema que, se prova novamente em 2017, é espécie de DNA do Corinthians contemporâneo. 

Os maiores desafios superados

Fabio Carille - Marcello Zambrana/AGIF - Marcello Zambrana/AGIF
Imagem: Marcello Zambrana/AGIF
Na busca por estabilidade, de desempenho e resultados que assegurassem seu trabalho e o crescimento do Corinthians, Carille precisou fazer escolhas importantes. A começar pela defesa e principalmente pelo gol, justamente a decisão que o deixou em dificuldades quando foi interino em 2016, antes da contratação de Oswaldo de Oliveira.

Naquela época, com Walter em alta e Cássio sob questionamentos, Carille publicamente cravou a titularidade para o goleiro campeão do mundo. De imediato. E sentiu que a mensagem que chegou ao vestiário não foi a mais positiva, de que ele escolheria pela hierarquia e não pelo desempenho, como fazia Tite. Dessa vez, abriu disputa, e viu o velho titular recuperar a melhor forma.

Com Pablo e Gabriel, reforços que ajudaram a recuperar a força defensiva característica dos últimos dez anos, Carille manteve a meritocracia. Medalhões como Cristian, Guilherme, Giovanni Augusto e Marquinhos Gabriel foram preteridos em nome de jovens como Léo Jabá e Pedrinho, ou do modesto Paulo Roberto.

As ideias de premiar quem vive melhor momento e revelar mais jogadores foram praticadas com firmeza e compradas pelos torcedores. Nesses três meses, Carille armou equipe que, se não cativa do ponto de vista técnico, fez os corintianos se reaproximarem do time. Principalmente com vitórias sobre Palmeiras e Santos, além de empate diante do São Paulo. 

Os maiores desafios que estão por vir

Nesse segundo momento, o treinador já se acostumou a ouvir as cobranças por um jogo melhor. Por um time capaz de ser mais temido pelos rivais no que diz respeito a seu ataque. O tempo de treinamento para aperfeiçoar tudo será pequeno em abril, e encontrar o equilíbrio entre resultados e maior ofensividade é, sem dúvida, seu maior desafio para a produção da equipe.

Em elenco tão numeroso, que beira 40 jogadores, Carille dificilmente conseguirá dar chances a todos. Mas sabe que, no banco de reservas, precisa ter gente com maior poder de decisão e capacidade de mudar panorama de partidas difíceis. Recuperar Giovanni Augusto, Marquinhos Gabriel e Guilherme, este um pouco mais atrás em prestígio, pode ser fundamental para uma ascensão.

O sucesso em tudo isso, claro, poderá dar a Carille algo que só Tite e Mano Menezes conseguiram: os treinadores, absolutos nessa década de ascensão do Corinthians, foram os únicos campeões. Com o clube sem a força financeira de outros tempos, o ex-auxiliar tentará provar que também pode alcançar o patamar dos antecessores que tiveram status de ídolos no clube. Mesmo sem, no caso dele, um elenco de grande porte.