Lotado em decisões, Pacaembu "ignora" deficit e brilha na 'era das Arenas'
O Pacaembu voltou a reviver os tempos áureos nos últimos dias ao receber mais de 60 mil torcedores em duas decisões. Se as partidas que colocaram Palmeiras e Ponte Preta na semifinal do Campeonato Paulista representam pouco para o desafio de manter as contas no azul, pouco importa. Com arquibancadas lotadas e muita festa, o estádio brilhou em tempos de disputa quase desleal com estádios privados e mais novos, como Arena Corinthians e o Allianz Parque.
Na última sexta-feira, o estádio municipal recebeu 29.145 torcedores, que assistiram à vitória do Palmeiras por 3 a 0 sobre o Novorizontino. Nesta segunda-feira, pouco mais de 37 mil acompanharam a classificação da Ponte Preta contra o Santos nos pênaltis. São situações raras para o estádio, que perdeu espaço na agenda dos clubes paulistas especialmente depois que Corinthians e Palmeiras finalizaram as obras de suas novas casas.
Nos primeiros cem dias de 2017, o Pacaembu recebeu só três partidas de futebol profissional - além dos duelos das quartas de final do Estadual, o estádio abrigou o confronto Red Bull x Santos, válido pela primeira fase. O local ainda pode ser palco da final do Campeonato Paulista, caso o Palmeiras dispute o título com a melhor campanha da competição, já que o Allianz Parque receberá um show em data próxima e não poderá ser utilizado..
"Conservar patrimônio histórico é deficit?"
No ano passado, a essa altura do calendário, o Pacaembu já havia recebido 14 jogos. Apesar do número elevado na comparação com a atual temporada, o estádio ainda assim fechou em deficit de quase R$ 4 milhões.
As receitas incluem o aluguel do estádio em 23 jogos disputados ao longo de 2016 e a locação com outros espaços do complexo. Os valores chegaram a R$ 1,2 milhão e R$ 3 milhões, respectivamente. Em contrapartida, a manutenção anual do Pacaembu bateu R$ 8 milhões.
Em contato com a reportagem do UOL Esporte, a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer minimizou o problema vivido pelo Pacaembu depois da construção da Arena Corinthians e do Allianz Parque, inaugurados em 2014.
"O Estádio do Pacaembu é um equipamento esportivo público, sem fins lucrativos. Não entendemos a lógica de deficit como aplicável. Ou ao menos nos parece injusto fazer uma conta simples para avaliar a efetividade, a importância histórica e os benefícios diretos e indiretos que o Pacaembu gera ao seu público de 12 mil paulistanos associados", disse.
"O Pacaembu é um estádio, mas também é um clube poliesportivo público, um patrimônio histórico, um ponto turístico. Conservar patrimônio histórico é deficit? Oferecer programas de atividade física e esporte é deficit? Manter vivo, limpo e apresentável um ponto turístico da capital é deficit? Ou tudo isso é investimento e precisa de métodos de avaliação menos simplistas?", continuou.
Nem todo mundo do poder público, diga-se, pensa assim. No fim do ano passado, dias antes de assumir a Prefeitura de São Paulo, João Doria comentou o assunto e levantou a hipótese de o Pacaembu ser concedido à iniciativa privada. Nesse caso, segundo o tucano, um clube faria a gestão esportiva.
"(O clube) deve ser um sócio de um consórcio de uma ou mais empresas que assumirão a responsabilidade de gestão de investimento do Pacaembu", disse Doria em entrevista à Rádio Jovem Pan, referindo-se ao Santos. A hipótese já foi tentada em outras gestões da Prefeitura, inclusive a de Fernando Haddad, mas nenhum dos quatro grandes jamais topou o desafio.
Em 2012, estádio recebeu 62 jogos
Sem as arenas multiusos e durante a reforma do Palestra Itália entre 2010 e 2014, o Pacaembu chegou a ser a palco de duas finais da Libertadores, com Santos (2011) e Corinthians (2012), além das decisões de Recopa e Paulistão. Na temporada 2012, o estádio recebeu 62 jogos - o Corinthians, por exemplo, atuou 40 vezes como mandante no local.
Com a abertura da Arena Corinthians em maio de 2014, o time alvinegro voltou ao estádio municipal apenas uma vez, diante do Cruzeiro, durante os Jogos Olímpicos do Rio - na ocasião, Itaquera recebeu partidas dos torneios de futebol feminino e masculino.
O aluguel do Pacaembu muda de acordo com os horários das partidas. Nos jogos diurnos com cobrança de ingresso, a prefeitura cobra R$ 76.827,00 ou 12% sobre a renda bruta (o que for menor). O valor mínimo é R$ 33.740,00. Nos duelos noturnos, o valor pula para R$ 96.030,00 ou 15% sobre a renda bruta (o que for menor). A garantia mínima nesse caso é de R$ 35.036,00.
Jogadores e dirigentes apoiam jogos no Pacaembu
Ainda que receba menos jogos, o Pacaembu segue sendo um patrimônio da cidade de São Paulo e do futebol brasileiro. Nos últimos, durante os jogos pontuais disputados no local, jogadores e dirigentes repetiram elogios ao estádio, sobretudo pela localização e o estado do gramado.
"Pacaembu é uma das opções. Não dá para descartar. Jogar aqui em São Paulo, pelo número de torcedores, é algo a ser levado em consideração. O gramado é espetacular, as acomodações do Pacaembu e a própria localização facilitam muito", ressaltou no ano passado Rodrigo Caetano, diretor de futebol do Flamengo, clube que disputou três jogos no estádio em 2016.
"O ideal é jogar no Allianz, mas eu sempre olho pelo lado positivo. Vamos ter de jogar no Pacaembu, um estádio que estamos acostumados. É um campo pouquíssimo usado, em grandes condições, vamos ter um tapete pra jogar. Prefiro olhar os pontos positivos a ficar lamentando", frisou o goleiro palmeirense Fernando Prass há um ano.
Na semana passada, Modesto Roma, presidente do Santos, prometeu jogar mais vezes no local - em 2016, a equipe escolheu o campo em cinco oportunidades. "Nós estamos querendo há algum tempo jogar no Pacaembu, é uma promessa que nós fizemos de jogar mais lá, promessa para a nossa torcida", disse o mandatário.
Confira os números da temporada 2016
Receitas
R$ 1,2 milhão (23 jogos)
R$ 3 milhões (outros eventos)
Custo (manutenção)
R$ 8 milhões
Déficit
R$ 3,8 milhões/ano
R$ 317 mil/mês
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