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Promessas 'fantasmas': reprovados, assinaram e sequer jogam no Corinthians

Ficha com avaliação ruim de Tony Matheus, um dos jogadores reprovados e contratados - Reprodução
Ficha com avaliação ruim de Tony Matheus, um dos jogadores reprovados e contratados Imagem: Reprodução

Dassler Marques

Do UOL, em São Paulo

11/04/2017 04h00

As divisões de base do Corinthians têm ao menos três jogadores que foram reprovados em avaliação, mas assinaram contrato e são praticamente 'fantasmas' no clube. Felipe França Lopes Rodrigues, 18 anos, Tony Mateus Silveira, 18 anos, e João Lucas de Brito Rodrigues Sales, 17 anos, se enquadram nessa categoria.

Relatórios técnicos obtidos pelo UOL Esporte mostram que Felipe e João Lucas (erroneamente identificado como João Pedro na ficha) foram indicados por Mané da Carne, padrinho do ex-presidente Andrés Sanchez no Corinthians. Tony, por sua vez, foi levado por José Onofre Almeida, primeiro diretor do departamento amador na gestão Roberto de Andrade e já demitido. Foi ele quem assinou os três contratos.

Nesses mesmos relatórios, é possível identificar a pontuação atribuída aos jogadores em avaliação inicial. De 13 quesitos, Tony e João Pedro obtiveram nota ruim em 10 e nota regular em três. Sem histórico por outros clubes, assinaram contrato de formação com o Corinthians ainda assim. Tony fechou por 11 meses. João, por sua vez, firmou vínculo mais longo, de 34 meses. Eles nunca vestiram a camisa do clube em competições de base.

Do trio, Felipe França foi o único a defender o Corinthians. Jogou só 29 minutos na goleada por 6 a 0 do time sub-17 sobre o São José e nunca mais foi aproveitado. Ele também não tinha histórico por outros clubes, conforme pesquisa na Federação Paulista e no site especializado Rede do Futebol, e havia sido reprovado na avaliação: de 13 quesitos, teve grau ruim em 10 e grau regular em três. O contrato dele é de um ano.

Onofre e Mané, que indicaram os jogadores, são conselheiros

Mané da Carne (à direita) realizou indicações - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Mané da Carne (à direita) realizou indicações
Imagem: Arquivo Pessoal

Os responsáveis pelas indicações, conforme mostram os documentos obtidos pela reportagem, são José Onofre Almeida (no caso de João Lucas) e Manoel Evangelista, mais conhecido como Mané da Carne (nos casos de Felipe e Tony). Os três contratos foram assinados enquanto Onofre era diretor do departamento amador - ele deixou o cargo em agosto do ano passado.

Procurado pela reportagem, Onofre disse que não se recordava dos jogadores, tampouco João Lucas. "Os jogadores eram aprovados pelo treinador e supervisor, só vinha o contrato para eu assinar e mais nada. Como já passou na mão de todo esse pessoal, você aprova", disse.

Mané, por sua vez, deu suas versões para as indicações. "O pai do Felipe me pediu no Rio de Janeiro para ele fazer um teste no Corinthians. O moleque está tentando a vida dele. Me ligam pedindo, 'tenho um menino de 15 anos para testes', e pelo meu coração, por bondade, uma porção de coisas, eu apresento. Apresentei moleques que nem sei quem são. Não vejo o Felipe há um ano e o Tony há oito meses", disse.

Corinthians quer reavaliar os jogadores em 2017

Em contato com a reportagem, o Corinthians informou que, apesar da primeira temporada sem oportunidades no sub-17, os jogadores seriam reavaliados no início de 2017 pela categoria sub-20, à qual foram promovidos neste ano por ultrapassarem os 17 anos. "Estão em permanente estado de observação", disse, dias antes de se demitir, o diretor Fausto Bittar Filho.

"São jogadores que recebem apenas uma ajuda de custo, na base de um salário mínimo. Seus vencimentos não ultrapassam mil reais", argumentou Fausto. "São contratos de formação, e não de profissional. O clube faz para se garantir diante do assédio de outros clubes", concluiu.

Durante a gestão no departamento, Fausto alterou o processo de avaliação. "A reprovação era feita só pelo técnico da categoria. Hoje, a reprovação e a aprovação precisam obrigatoriamente de seis assinaturas. Participam o técnico da categoria, o supervisor da categoria, o coordenador de captação, o gerente administrativo, o coordenador técnico e, por último, o diretor do departamento. A ideia é diminuir e minimizar o máximo a possibilidade de erro", disse.

Conselheiro nega influência em contratos

Por meio de sua advogada, o conselheiro Manoel Ramos Evangelista salientou: "é bom esclarecer que Mané da Carne apenas indicou os atletas mencionados na matéria. A partir daí, coube à comissão técnica da base, integrada por vários profissionais, avaliar o desempenho técnico de cada atleta, aprovando ou não, a seu exclusivo critério. Por fim, a contratação de atletas é uma prerrogativa da diretoria do clube. Portanto, Mané da Carne apenas indicou os atletas mencionados, como já o fizera em tantas outras vezes com jovens promissores, sem qualquer ingerência na avaliação e nem na contratação dos mesmos".