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Poder e influência fazem de Ceni um técnico fora da curva no São Paulo

Rogério Ceni é recebido por fãs durante desembarque do São Paulo; técnico é exceção - Rubens Chiri / saopaulofc.net
Rogério Ceni é recebido por fãs durante desembarque do São Paulo; técnico é exceção Imagem: Rubens Chiri / saopaulofc.net

José Eduardo Martins

Do UOL, em São Paulo

07/05/2017 04h00

O início da carreira de Rogério Ceni como técnico não seguiu os padrões estabelecidos pelo São Paulo nos últimos anos. Considerado por muitos o maior jogador da história tricolor, o ex-goleiro recebeu um tratamento diferenciado da diretoria e da torcida mesmo com as eliminações no Campeonato Paulista e na Copa do Brasil. Além da idolatria, o poder e influência do treinador nos bastidores fugiram da curva do clube.

Ao contrário dos últimos comandantes da equipe, Rogério Ceni tem um contrato com multa rescisória. Nos últimos anos, os treinadores que eram demitidos tinham direito apenas a receber um mês de salário como aviso prévio. Já o ex-goleiro tem direito a um valor que está atrelado à produtividade em seu primeiro ano como técnico. Na segunda temporada, caso ele não alcance parte das metas (aproveitamento de pontos, disputa de decisões e classificação para a Libertadores, entre outros pontos), a multa será cancelada. Por outro lado, caso cumpra os seus objetivos, ele receberá um aumento salarial.

Em contrato, Rogério Ceni também não tem a sua imagem licenciada pelo clube. Exceção na relação do São Paulo com os técnicos, a ausência da cláusula chegou a criar um mal-estar com a empresa Corr Plastik, que tinha acordo assinado em 2016 prevendo a exposição de sua marca no uniforme da comissão técnica. No caso, Rogério não foi obrigado a utilizar o uniforme durante as partidas e o clube deu, como bonificação, o espaço de patrocinador máster do time na reta final do Paulista. Segundo apurou a reportagem o UOL Esporte, o ex-goleiro até chegou a negociar com a empresa para expor a logomarca, mas as duas partes não entraram em acordo.

Comissão técnica aprovada

As diferenças de Rogério Ceni para seus antecessores vão além de questões contratuais. A cultura do clube nos últimos anos não era de que o técnico escolhido trouxesse muitos profissionais para formar a sua comissão. Aliás, esse ponto historicamente afastou do Morumbi nomes como Vanderlei Luxemburgo, que notabilizou-se por sua comissão fixa.

Para montar a sua equipe, Rogério Ceni pediu a contratação do auxiliar inglês Michael Beale, ex-Liverpool, e do coordenador técnico francês, Charles Hembert - que substituiu Rene Weber.

Ceni também promoveu o retorno do preparador de goleiro Haroldo Lamounier, que trabalhava nas categorias de base do clube. Na última temporada, o cargo era ocupado pelo goleiro da seleção brasileira na Copa do Mundo 1982, Carlos Gallo.

Indicações e veredictos no mercado da bola

Rogério Ceni é responsável por dar a palavra final na hora de analisar o elenco e possíveis reforços. O meia Thomaz, por exemplo, foi contratado depois que o ex-goleiro e o departamento de análise e desempenho observaram o jogador em ação pelo Jorge Wilstermann, da Bolívia.

O treinador também teve influência na hora de trazer outros jogadores, como o volante Cícero, que estava no Fluminense. Em diversas ocasiões, os dirigentes também deixaram claro que só começariam a conversar com Lugano sobre a renovação de contrato após receberem o aval do comandante. Embora só tenha indicado e jamais tenha sentado para negociar com ninguém, a simples atuação além da área técnica é uma exceção no histórico são-paulino, que sempre refutou a ideia de um "manager" com acesso a todo o departamento de futebol

Política e relação com os candidatos

A figura de Rogério Ceni é tão forte no São Paulo que os candidatos para a presidência do clube tentaram utilizá-lo como garoto-propaganda durante a campanha eleitoral, até abril deste ano. Candidato de oposição, José Eduardo Mesquita Pimenta, fazia questão de dizer que era o mandatário do São Paulo na época em que o goleiro foi revelado, em 1993, e prometera mantê-lo no cargo.

Já Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, enfatizava aos conselheiros a relação estreita que mantém com Rogério Ceni e dava destaque para o fato de ter apostado na efetivação do ídolo como técnico. Até mesmo para comprovar tal laço com o ex-jogador, durante o discurso de posse como presidente, Leco mostrou que o treinador havia telefonado para dar os parabéns pela vitória no pleito.

Pressão 

Apesar de o São Paulo ter sido eliminado do Paulista e da Copa do Brasil, é pequeno o número de conselheiros contrários ao treinador. A maioria dos sócios e dirigentes faz questão de destacar as qualidades do treinador e espera que, com o tempo, ele se adapte à função.

Nas arquibancadas, os torcedores também costumam apoiar o treinador, que é sempre o mais aplaudido quando tem o seu nome anunciado no Morumbi. Até agora, nenhuma vez se ouviu o grito de "burro" quando o treinador fez alguma alteração ou em caso de derrota. Pelo contrário. Em momentos críticos, o time chegou a ser atacado pelas arquibancadas, que jamais mencionaram Ceni.