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Para comprender tragédia, sobreviventes da Chape voltam a local de queda

Delegação da Chapecoense chegou nesta segunda-feira a Medellín - Sirli Freitas/Chapecoense
Delegação da Chapecoense chegou nesta segunda-feira a Medellín Imagem: Sirli Freitas/Chapecoense

Daniel Fasolin

Colaboração para o UOL, em Medellín (Colômbia)

08/05/2017 23h56

Os quatro sobreviventes da tragédia em Medellín (Colômbia) com o avião que levava a delegação da Chapecoense no dia 29 de novembro de 2016 voltaram pela primeira vez à cidade. E, no final da tarde desta segunda-feira, concederam uma entrevista coletiva no hotel em que estão hospedados.

Jackson Follmann, que teve de amputar parte da perna direita, foi o primeiro a falar. Com muita emoção, agradeceu a médicos, enfermeiros e todos os que de uma maneira os ajudaram na Colômbia.

“Estou feliz por retornar à Colômbia. Até brinquei com o Alan (Ruschel) de que finalmente pousamos na Colômbia. Estamos bastante emocionados, passa um filme na cabeça por poder voltar, agradecer o carinho de todos. É o mínimo que podemos fazer depois do que fizeram para a gente”, disse Follmann.

Acompanhado de Neto, Alan Ruschel e do jornalista Rafael Henzel, o agora ex-goleiro falou sobre os momentos difíceis e também sobre a superação após ter a parte perna amputada. Na terça-feira, os sobreviventes visitarão os médicos pelos quais foram socorridos em novembro.

“Vamos ao hospital ver os médicos, enfermeiros, poder abraçá-los, conversar, e queremos passar no local do acidente. Conheci há pouco tempo a pessoa que me resgatou, estava ansioso. Queremos ver essas pessoas, poder abraçar. Sempre fui essa pessoa brincalhona. Não caberia a mim ficar jogado no canto e depressivo, achando que o mundo acabou”, acrescentou. “Perdi a minha perna, mas minha vida não acabou. Com uma perna, vou conseguir ir além. Entrei para a família de ferro.”

Jackson Follmann comentou sobre o desejo de não ir até o local do acidente, nos arredores de Medellín. Porém, mudou de opinião e irá com os companheiros até lá.

“Eu era a única pessoa que não queria ir (ao morro), mas quando cheguei na Colômbia decidi ir. Estamos juntos nessa. Como não lembramos muita coisa, pode ser uma resposta. Na verdade, é mais uma curiosidade para apagar de vez. Só agradecemos aos colombianos. Ninguém está vegetando em uma cama, ninguém sofreu nenhum trauma mais severo”, finalizou.

Neto procura entender tragédia

Neto, um dos sobreviventes devem voltar a jogar em breve, também relatou a emoção de voltar até a cidade de Medellín e sentir o que a cidade significa.

“Já me emocionei chegando na Colômbia, sobrevoando as montanhas, passamos perto do local. Vou me emocionar - mas necessito, preciso sentir esse emoção, preciso ir neste local. Talvez aquele local fosse do término da minha vida e preciso ver tudo. As pessoas falam que eu fiquei oito horas sem socorro, que caí do avião, mas para mim é surreal, preciso ver com meus olhos”, afirmou o zagueiro.

Neto teve dificuldade em acreditar no acidente e também ficou alguns dias confuso com toda a situação - em entrevistas, a exemplo do que fez nesta segunda-feira, já havia mencionado que gostaria de voltar ao lugar para “tentar entender o que aconteceu”.

“Vai ser um dia emotivo, mas vai ser um dia legal. Eu precisava ver de perto tudo isso e foi para isso que vim. Quando cheguei, vieram muitas lembranças daquele dia. Porque era isso que era para ter acontecido. Chegar, descansar e jogar”, avaliou o zagueiro, que teve várias escoriações pelo corpo e se recuperou de uma pneumonia severa nos dias seguintes ao acidente.

Neto já havia mencionado que o acidente ocorreu por escolhas erradas e também pela ganância do ser humano. Hoje, voltou a tocar no assunto.

“Isso tudo aconteceu por escolhas erradas. O ser humano coloca tudo a perder por pouquíssimas coisas. É assim na vida. As pessoas colocam tudo a perder por dinheiro, por algo que dizem que é religião. E prejudicam muitas pessoas”, desabafou.

Ruschel agradece e projeta retorno

O discurso do defensor foi semelhante aos de Alan Ruschel e Rafael Henzel. Felizes pela chegada a Medellín, ambos agradeceram pelo atendimento na época e pela recepção.

“Amanhã será um dia muito especial para todos nós. É uma página que jamais será virada, pois não vamos esquecer nunca isso. Viemos para agradecer todos que nos ajudaram aqui. Sabemos do carinho que todos têm pela gente; então, o mínimo é agradecer”, disse Ruschel, que foi além.

“Começamos a viagem naquele dia 28 de novembro, mas ela não se encerra por aqui. O sentimento que sentimos é diferente hoje - minha esposa estava muito emocionada, chorou muito, e ela aguentou firme e foi muito forte. Agradeço por ter ela do meu lado. Imagino o que aconteceu com ela, para vir pra cá sozinha”, completou, relatando a viagem da esposa na época.

Assim como Neto, Ruschel está em recuperação e deve reforçar a Chape no Campeonato Brasileiro. “Estou feliz aqui e por poder agradecer a todos que nos ajudaram. Eu estou quase voltando aos gramados, mas preciso respeitar os meus limites e também o meu corpo. Acredito que muito em breve eu voltarei”, projetou.

Henzel lembra companheiros

Henzel, por sua vez, citou os profissionais de imprensa que morreram na tragédia. Nesta quarta-feira, o locutor narra o jogo entre Atlético Nacional e Chapecoense, pela Recopa Sul-Americana 2017, pela rádio Oeste Capital.

"Lembro de todos (os jornalistas mortos) em todas as entrevistas, pois muitos tinham esse sonho de estar transmitindo um jogo da Chapecoense nesse momento. Sinto que, toda vez que narro um jogo, estou falando por todos eles também", disse o narrador. “Na quarta-feira, eu vou transmitir o jogo. A carga é muito emocional, não consigo dividir em ser somente um jornalista ou um sobrevivente. O estádio estará lotado, e também vou agradecer a todos os torcedores do Atlético. No jogo de quarta, o resultado não importa: quem ganhar, estarei feliz."