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"Querem transformar o jogador em um servo", diz sindicato de atletas

Henrique Dourado, do Fluusa faixa preta para protestar contra reforma trabalhista do futebol - LUCAS MERÇON/FLUMINENSE F.C
Henrique Dourado, do Fluusa faixa preta para protestar contra reforma trabalhista do futebol Imagem: LUCAS MERÇON/FLUMINENSE F.C

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

14/05/2017 12h07

A Fenapaf (Federação Nacional de Atletas de Futebol) organizou um protesto na primeira rodada do Brasileiro contra projetos de lei que tramitam no Congresso que pretendem alterar a Lei Pelé. Jogadores de vários times do país pretendem entrar em campo com faixas pretas no braço para mostrar sua discordância em relação às mudanças.

Flamengo, Atlético-MG, Corinthians, Fluminense e Santos foram alguns clubes cujos atletas aderiram ao protesto na Série A.

Os principais pontos de discordância são a possibilidade dos clubes dividirem as férias dos atletas em até três períodos ao longo do ano, assim como dividirem o tempo de repouso semanal (hoje, de um dia inteiro, com as mudanças poderiam ser dois períodos de 12 horas). Outra proposta de alteração criticada é a de que, em caso de rompimento de contrato, o jogador teria direita a apenas 10% de seu salário previsto até o fim do vínculo – hoje, o trabalhador tem direito a 100%.

De acordo com a entidade, a adesão ao protesto foi unânime entre os jogadores dos principais clubes do país. Felipe Augusto Leite, o presidente do sindicato, citou como atletas mais ativos nessa discussão Juan (capitão do Flamengo), D’Alessandro (Internacional), Renato (Santos), Diego Lugano (São Paulo), Fernando Prass (Palmeiras), Carlos Alberto e Paulo André (Atlético-PR).

Felipe Augusto - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

“Alguns clubes, como América-MG e Paraná, não permitiram o uso da faixa, mas queremos conversar com eles para evitar esse tipo de censura”, disse Felipe Augusto Leite. “Não estamos contra os clubes, queremos o melhor para o futebol como um todo.”

O presidente do sindicato diz que os projetos têm relação com as reformas que o governo federal tem tentado aplicar na legislação trabalhista geral do país.  

“O momento é o mesmo, pontos da reforma trabalhista coincidem com pontos da mudança na Lei Pelé, principalmente levar o atleta a se tornar um servo de seu empregador”, disse Felipe Augusto, que foi jogador do América-RN nos anos 80 e depois se tornou advogado. “Isso é fragilizar a relação de trabalho. Os temas coincidem em vários aspectos, o principal é questão de fragilidade do contrato de trabalho.”

Filiada a UGT (União Geral dos Trabalhadores), a Fenapaf diz ser um sindicato sem filiação partidária. Seu presidente cogita engrossar os protestos contra as reformas trabalhista e da Previdência caso seja procurado por outras entidades sindicais.

“Você não tenha dúvida que graças a visibilidade dessa categoria, nós vamos ser procurados pelas grandes centrais sindicais, e queremos sentar para conversar. Todas essas reformas são uma maneira que eles encontraram para passar a conta pro trabalhador pagar. Nós não estamos querendo ser uma classe superbeneficiada. E esses protestos não são para beneficiar jogadores que ganham muito. São para defender o cara que joga lá no Central de Caruaru e fica sem proteção nenhuma.”

As mudanças na Lei Pelé tramitam em dois projetos de lei, um na Câmara dos Deputados e outro no Senado. O sindicato dos atletas espera uma reunião com o ministro dos esportes para discutir a questão.