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Briga com sindicato reaproxima atletas líderes e "refunda" o Bom Senso FC

Jogadores de Santos e Bahia seguram faixa de apoio ao Bom Senso FC (14.nov.2013) - Junior Lago/UOL
Jogadores de Santos e Bahia seguram faixa de apoio ao Bom Senso FC (14.nov.2013) Imagem: Junior Lago/UOL

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

20/05/2017 04h00

Fundado em 2013, o coletivo Bom Senso FC surgiu quando um grupo de jogadores de futebol decidiu centralizar demandas da categoria e evoluiu para articulação política em torno de toda a modalidade. Foi encerrado após três anos, por falta de recurso e mão de obra, mas a inatividade durou pouco. Em meio a uma cisão com o Sapesp (Sindicato de Atletas de São Paulo), o núcleo duro do grupo se reaproximou e voltou a debater caminhos para obter mudanças no cenário vigente.

A diferença é que a articulação agora acontece em torno da Fenapaf (Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol), entidade que era presidida até novembro de 2016 por Rinaldo Martorelli, mandatário também do Sapesp. Ele foi substituído pelo potiguar Felipe Augusto Leite, ex-goleiro com passagens por América-RN e Vasco, e ele liderou um esforço para se reaproximar de jogadores que compunham o Bom Senso.

“A Fenapaf foi fundada a partir de algumas bases, e uma delas era a representação dos atletas. Isso não foi bem feito. Houve um distanciamento muito grande, e a entidade não vinha cumprindo seu papel”, disse Leite, também presidente do Safern (Sindicato de Atletas de Futebol Profissional do Estado do Rio Grande do Norte).

“Eu fui atleta e sei: até por negociar o bicho o capitão se queima. Modéstia à parte, minha gestão fez com que os atletas tivessem uma entidade para representá-los. Nós temos de poupá-los. Hoje, quem dá a cara é a Fenapaf”, completou o dirigente.

Num esforço para se reaproximar dos jogadores mais relevantes do país, Leite criou no aplicativo de troca de mensagens WhatsApp um grupo chamado “Clube dos Capitães”. Nele inseriu as principais lideranças de times nacionais, o que incluiu a maioria dos representantes do Bom Senso que ainda estão em atividade.

O Bom Senso, por sua vez, havia sido asfixiado por questões como falta de recursos e pressão política. Por isso, ainda que os jogadores tenham mantido debates em trocas de mensagens (no WhatsApp, inclusive), a mobilização havia sido enfraquecida pelo fim do coletivo como bandeira.

“Fiz uma convocação para trazer atletas para acompanhar a presidência em todos os atos. Criei o Clube dos Capitães e reuni 97 líderes do futebol brasileiro em todas as divisões. Falo com eles todos via WhatsApp, e hoje eles participam ativamente de tudo que acontece”, relatou Leite.

O fórum entre os atletas foi o caminho usado para debater uma assembleia realizada pelo Sapesp em maio de 2016. No evento realizado na Associação dos Advogados Trabalhistas de São Paulo, a entidade liderada por Martorelli aprovou por maioria a incorporação de pouco mais de R$ 15 milhões relacionados ao pagamento de luvas aos clubes – o montante corresponde a direitos de arena.

Na assembleia, o Sapesp aprovou que o valor seria aplicado e direcionado à manutenção do próprio sindicato. Além disso, decidiu incorporar o pagamento de um percentual relativo às luvas dos novos contratos de direitos de transmissão – a maioria dos clubes da elite nacional assinou no ano passado a cessão de mídia válida a partir de 2019.

O encontro também avalizou a compra de um Land Rover Discovery, carro avaliado em mais de R$ 200 mil, para uso de Martorelli. O dirigente, no cargo há 23 anos, ainda teria um desconto de 23% no valor se quisesse adquirir o veículo hoje, como mostrou o Globoesporte.com.

Todas as medidas são defendidas pelo Sapesp. Em contato com o UOL Esporte, a assessoria de Martorelli disse que houve aprovação por maioria e que o carro foi escolhido por uma determinação de se buscar um veículo movido a diesel.

O estafe do dirigente também disse que o sindicato convoca capitães de todos os clubes do Estado, mas é historicamente ignorado pela maioria. Para ter quórum nas assembleias, Martorelli costuma fretar ônibus e reunir grandes grupos de jogadores de times com menor orçamento.

O comportamento é exatamente uma das críticas dos jogadores dos times mais populares. Existe entre eles a ideia de que o sindicato não pode ser orientado por maioria simples – afinal, há contribuições de níveis diferentes, por exemplo.

O distanciamento em relação a Martorelli já havia na época em que ele comandava o Sapesp e a Fenapaf. O dirigente era um dos principais antagonistas do Bom Senso.

No início do ano, Martorelli se afastou da Fenapaf. O Sapesp foi suspenso, assim como outros três sindicatos (Bahia, Goiás e Santa Catarina), por condutas que a entidade considerou não condizentes com a representação dos atletas. Os quatro entraram com ação em Brasília tentando retornar, mas não obtiveram sucesso na tentativa de obter uma liminar em primeira instância.

Leite tem reunião agendada com Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol), na próxima segunda-feira (22). No encontro, cujo propósito é apresentá-lo a dirigentes de clubes do Estado, o dirigente disse que pretende levar alguns dos representantes do “Clube de Capitães”. Da região, o grupo de mensagens tem nomes como Rodriguinho e Walter (Corinthians), Dudu e Fernando Prass (Palmeiras), Lugano e Rodrigo Caio (São Paulo), Renato e Ricardo Oliveira (Santos), Fumagalli (Guarani) e Fernando Bob (Ponte Preta).