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Ex-Roma, Mancini vê técnicos estrangeiros à frente: "Brasil parou no tempo"

Mancini atuou pelo Atlético-MG e atualmente está desempregado - Gustavo Magnusson/Fotoarena/AE - Gustavo Magnusson/Fotoarena/AE
Imagem: Gustavo Magnusson/Fotoarena/AE

Marcello De Vico e Vanderlei Lima

Do UOL, em Santos e São Paulo

21/05/2017 04h00

Aposentado dos gramados há um ano, Mancini, hoje com 36 anos, começa a desenhar uma nova carreira no mundo do futebol: a de treinador. Com passagens por São Caetano, Roma, Milan e Internazionale, o ex-jogador revelado pelo Atlético-MG tem ?uma viagem programada para a Itália ainda este ano, país onde viveu em boa parte da carreira. A ideia é fazer uma série de cursos da Uefa para, se tudo correr bem, iniciar a carreira de técnico daqui a alguns anos.

Mancini, do Inter de Milão - GIUSEPPE CACACE-20.ago.2008/AFP - GIUSEPPE CACACE-20.ago.2008/AFP
Imagem: GIUSEPPE CACACE-20.ago.2008/AFP
Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Mancini, que atualmente tem o futevôlei como hobby preferido, conta sobre suas inspirações para ser técnico (entre elas Vanderlei Luxemburgo), admite que o Brasil ainda está atrasado quando o assunto é treinador, fala sobre a missão que teve de substituir o ídolo Cafu na Roma, ‘agradece’ a chegada de Tite à seleção brasileira e relembra a importância do São Caetano na sua carreira. Confira:


São Caetano mudou a sua carreira

O São Caetano me ajudou, porque eu subi do Atlético-MG muito novo. Fui contratado como uma promessa. Fiz no São Caetano o primeiro ano excelente, vice brasileiro, o segundo ano excelente... Já no terceiro ano as coisas foram ruins, aí eu voltei para o Atlético-MG, me recuperei e fiz 17 gols pelo Galo no Campeonato Brasileiro, eu fui o lateral artilheiro. Então a minha passagem pelo São Caetano ajudou muito a minha carreira, deslanchou de vez.

A chegada à Roma, onde ficou por 7 anos

A direção da Roma e o Fabio Capello me procuraram, me contrataram e eu fui emprestado quatro meses para o Venezia. Era o tempo de o Cafu ir embora. Eu fiz quatro meses no Venezia e foi muito bom, me ajudou muito para a adaptação. Cheguei lá [na Roma] em 2003, depois o Capello me chamou: ‘eu vi você jogar no Brasil e agora eu vou colocar você para jogar na segunda linha de ponta direita’, lá eles chamam de externo, no Brasil é ponta direita, aí eu cheguei lá desconhecido e fiz dois gols no Campeonato Italiano, fui para substituir o Cafu.

A missão de substituir o ídolo Cafu e o golaço na Champions

Mancini comemora gol marcado pela Roma em 2008 - AP Photo/Riccardo De Luca - AP Photo/Riccardo De Luca
Imagem: AP Photo/Riccardo De Luca
A responsabilidade foi grande. Ele tinha sido campeão italiano, ídolo lá, e eu falei: ‘vamos embora, futebol é assim mesmo’, e encarei, fui trabalhando com persistência. A adaptação no começo foi difícil porque Veneza é uma cidade mais fria, já em Roma é mais quente, tinham mais brasileiros, eu me senti mais à vontade. Na Roma tinha o Emerson, o Lima, depois chegaram Cicinho, Taddei. Eu fiquei sete anos na Roma, conquistei uma Supercopa da Itália e duas Copas da Itália. Faltou uma Liga (dos Campeões), é a competição mais top. Eu disputei oito ou nove Champions... o gol que eu fiz contra o Olympique da França está entre os 10 mais bonitos da Champions. Foi jogando em Lyon. Eu peguei a bola, fui pedalando, pedalando, entrei na área, o cara veio, eu driblei, fui para o lado esquerdo e chutei de esquerda e fiz o gol.

Em quem se espelha para ser treinador?

Luciano Spalletti. Com ele eu aprendi muito, o posicionamento, ser estático, me pegava pelo braço, me dava dicas, e o meu ápice na Itália foi com ele. E o Capello também, pela moral. É um cara muito sério, que consegue lidar com um grupo de estrelas. E de brasileiros, o Vanderlei Luxemburgo... No auge foi muito bom, no ápice dele.

Técnicos brasileiros ainda distantes dos europeus

Hoje em dia melhorou. Hoje a gente se aproxima muito deles [estrangeiros] até pela consciência. A gente está muito longe em relação a eles. Nós precisamos melhorar algumas metodologias, mas melhorou bastante nos últimos anos. Mas estamos longe ainda.

Seleção brasileira: “Graças a Deus apareceu o Tite”

Graças a Deus apareceu o Tite. A gente estava na lama. Os outros [países] melhoraram muito porque procuraram estudar, procuraram se infiltrar, procuraram se informar, equipararam-se na força física e na técnica. O Brasil parou no tempo.

Criminalidade impede surgimento de novos talentos

Meu interesse pelo futebol surgiu com oito anos de idade, na brincadeira de rua, aquela coisa de infância. Eu jogava bola até mais tarde. A gente juntava amigos em Ipatinga e jogava bola até 11 horas da noite. Antigamente você podia fazer isso, hoje em dia, não. Como está perigoso, a sociedade infelizmente... Eu até penso que isso é um fator que tem causado a carência de talentos no Brasil, por conta dessa violência, a parte social... Então isso impede muito, porque com atividade você desenvolve a coordenação natural. Hoje não dá mais para brincar na rua, tem muita violência. Hoje tem escolinha de futebol, grama sintética, cobram o garoto com 17 anos como se ele fosse adulto, então tudo isso é complicado.