Ex-goleiro até separou da mulher após ser pego no doping: "estava no ápice"
Com a camisa do Bahia, o goleiro Renê vivia em 2010, segundo suas próprias palavras, a melhor fase de sua carreira. O resultado de um exame antidoping, porém, cessou o bom momento do jogador, que foi suspenso e precisou ficar um ano sem jogar futebol. Não bastasse isso, ao longo deste período viveu um drama familiar com uma grave doença do filho (na época com quatro anos) e ainda acabou separando da esposa. A volta aos gramados aconteceu em 2011, já no Grêmio Barueri, clube o qual já havia defendido entre 2008 e 2009, período em que foi até eleito o melhor goleiro da Série B.
Extremamente bem-humorado, o ex-goleiro – que hoje tem 38 anos e trabalha como técnico no Rio Branco-AC – conta essas e diversas outras histórias em entrevista exclusiva concedida ao UOL Esporte. Entre elas, a paixão pelo Corinthians, as trapaças que fez para entrar no futebol, o período em que ‘amaciou’ as chuteiras do ídolo Neto no Araçatuba, a quase ida para o Atlético-MG no fim de 2009 – e a confusão com a Portuguesa – e a hilária história em que ‘assustou’ o namorado gago de sua única irmã. Confira:
Melhor fase da carreira foi no Bahia
No Barueri eu conquistei bastante coisa, fiz mais de 100 jogos, mas eu considero que no Bahia, tecnicamente falando, eu fui melhor. Lá eu vinha bem demais, mas aí eu peguei a suspensão de doping.
O doping e suas consequências
Eu tomo remédio de pressão, o Lasix, e um dia eu cheguei em casa e passei mal, e minha esposa na época veio e me deu o remédio, foi no jogo contra a Portuguesa. Eu não comentei nada do remédio por causa do período, eram mais de 48 horas, falavam que não tinha problema nenhum, e aí eu fui pego no antidoping e peguei um ano de suspensão.
Foi horrível na família, ali ‘foi pro pau’ todo mundo, houve separação com a mulher, briga, confusão por causa disso... Eu estava no meu ápice, no meu melhor momento, mas hoje está tudo bem, a gente se dá bem. Depois eu voltei com a mulher, mas também depois não deu certo [risos], aí já não tinha o remédio, já era [risos]. Agora está todo mundo feliz.
A reação ao saber sobre o doping
Eu era um dos líderes do Bahia, e teve uma reunião, a gente estava em Campinas, íamos jogar contra a Ponte Preta. Aí tocou o telefone no quarto, eu atendi, e o Paulo Angioni [gerente de futebol] e o André [supervisor] queriam falar comigo. Aí eu desci, cheguei lá e estavam sentados o Ricardo Palmeira, treinador de goleiros, Márcio Araújo, o treinador, o André e o Paulo Angioni. E aí falaram: ‘Amigão, nós tivemos um caso de doping no time’, e na hora eu falei: ‘Está brincando, quem foi’? Eu nunca imaginei que fosse eu. Quando fala em doping todo mundo já pensa em drogas, né... Aí ele falou assim: ‘Foi você’, e eu falei: ‘Eu’? Na hora foi aquele baque. E ele falou: ‘É, cara, você usou alguma coisa’? E eu falei: ‘Não, você está doido’? Aí ele falou: ‘É de remédio’, e eu falei: ‘Eu tomei remédio e avisei, né’, e ele falou: ‘Você pode jogar amanhã contra a Ponte Preta, mas vai ficar suspenso por determinação por 30 dias’. Eu fiquei em choque, eu não bebia.

As trapaças antes do início da carreira profissional...
Tinha um teste no Bragantino, e meus dois primos e o Felipinho [amigo] iam fazer o mesmo teste. Aí uma mulher atendeu e o cara já tinha marcado: Renê de Freitas Marques, 30 de agosto de 77, zagueiro, eu jogava de zagueiro. Aí nós fomos para a Rodoviária do Tietê, vários moleques, e o pessoal começou a comentar: ‘Rapaziada, quem for zagueiro está f...’, porque a zaga da seleção sub-20 naquela época era do Bragantino, aí eu fiquei pensando: ‘O que eu estou fazendo indo lá’, mas eu fui. Quando eu cheguei lá tinham uns 200 moleques mais ou menos, e uns 14 goleiros, e aí o cara falou: ‘Quem é Renê de Freitas Marques’? Aí eu esperei um pouquinho e sabia que ninguém ia levantar a mão, não iam ter dois ali, aí eu falei: ‘Eu’. Aí o cara falou: ‘Ô moleque, você é goleiro ou zagueiro’? Na hora veio na minha mente o que os caras falaram lá no Terminal, e aí eu falei: ‘Eu sou goleiro’, aí o cara falou: ‘Goleiro é para lá’, e eu sem material, sem luvas, sem nada, mas eu era o mais alto. Aí passaram somente seis goleiros, e eu estava entre os seis. Aí quando eu voltei eu pensei: ‘Agora lá no São Cristóvão [time onde jogava] eu tenho que jogar de goleiro, né? E aí o Brigadeiro, que era goleiro de futsal, foi campeão pelo Atlético-MG, é profissional de futsal, era o goleiro do São Cristóvão, e a gente ia junto, e quando ele ia eu tinha que jogar na linha, né, mas eu tinha que jogar no gol. E aí eu comecei a enganar o Brigadeiro, eu falava: 'Amanhã não vai ter jogo’, e a gente saía para beber, eu bebia água e para ele eu dava vodca. Eu passava em frente à casa dele e nem buzinava, só batia de leve na buzina e ia embora. Aí o Paulo, que era o pai do Felipinho e treinador, chegou e perguntou: ‘Cadê o Brigadeiro’? Eu falei: ‘Ah, o cara não veio, está mamado, não quis vir’, eu inventava essas coisas, aí o Paulão falou: ‘Ah, então vai você para o gol’, e foi assim.

... e o período em que amaciava as chuteira do ídolo Neto
Eu era da Gaviões, viajava para cima e para baixo, fazia parte de tudo. Eu fui o número 20.070 da Gaviões. Na minha época o presidente era o Dentinho, Metaleiro, Pancho, todos esses caras. Aí e quando eu fui para o Araçatuba o clube contratou o Neto e o Márcio Bittencourt. Ah, eu vivia na arquibancada, e lá dei de cara com os caras no Araçatuba, e quando vi esses dois eu falei: ‘não acredito’, aí um dia o Neto passou no vestiário e falou: ‘ô camarada, quem vai amaciar a minha chuteira aí’? Pô, eu calço 44, o Neto calçava 38, 39, sei lá, aí eu falei: ‘Eu amacio [risos]’, e o meu pé nem entrava na chuteira, e os zagueiros falaram: mas nem cabe no seu pé’, e eu falei: ‘cala a sua boca rapaz, não cabe no seu [risos], e eu tentava fazer o meu pé entrar, eu só amaciava dentro do vestiário, não dava para sair com a chuteira daquele jeito, né? O pé nem entrava, mas era do Neto, né {risos]... Depois encontrei com o Neto na Band, já fui umas três vezes no programa dele, ele é uma figura.
De jogador a diretor em apenas dois segundos

Ídolos como treinador: “meio Tite, meio Cuca”
Eu sou meio Tite e meio Cuca. Não trabalhei com os dois, mas nos dois o que me chama atenção é a maneira de lidar com os atletas, a postura. Quem é ex-atleta sabe que a profissão não é fácil, não, o cara tem que ter paciência, tem que entender o outro lado, e esses dois aí já saíram de muita pedreira, conseguiram sempre fazer o time correr para eles e, taticamente, sem palavras, sempre conseguiram trazer bons resultados.
Como era enfrentar o clube de coração?
Eu fui um trouxa. Quando eu jogava contra o Corinthians eu não bebia nada na semana, não comia carne, eu parava tudo para enfrentar o Corinthians. Eu nunca joguei mal contra o Corinthians... Eu não ganhei, mas eu sempre fiz grandes partidas: empatei no Pacaembu, empatei na Arena Barueri, empatei com o Mirassol com o Ronaldo fenômeno em campo, mas eu nunca joguei mal contra o Corinthians. Eu saía do jogo e todo mundo falava: ‘Esse goleiro vagabundo, corintiano, sempre faz isso’. Hoje eu falo para os meus atletas: ‘Cara, se você se preparar para ir em todos os jogos, vocês vão fazer o que eu fazia contra o Corinthians’, porque no Brasileiro eu me preparei para todos os jogos da Série B e fui eleito o melhor goleiro da competição pelo Barueri, e em 2009 eu fiquei entre os quatro melhores, só que em 2009 [Série A] os goleiros eram: Fabio Costa, Rogério Ceni, Marcão, Fábio, Dida, e você estar entre os quatro é uma p... vitória, e eu falo para os caras: se preparem.
A quase ida para o Galo e o ‘rolo’ com a Portuguesa

Ex-namorado da irmã sofreu nas mãos de Renê
Sofreu bastante [risos]. O primeiro namorado dela era um gago. Quando ele entrou em casa eu falei: ‘o que você quer com a minha irmã’? Ele ficou mais de um minuto em silêncio, e eu falei: ‘você é gago ou mudo’? Falei na cara dele [risos], mas depois ele foi de boa com a família.
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