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Grupo aponta maquiagem em balanço e vai pedir reprovação das contas do Flu

Peter Siemsen conseguiu eleger Pedro Abad como seu sucessor - Mailson Santana/Fluminense F.C
Peter Siemsen conseguiu eleger Pedro Abad como seu sucessor Imagem: Mailson Santana/Fluminense F.C

Leo Burlá

Do UOL, no Rio de Janeiro

08/06/2017 04h00

As contas do exercício de 2016, último ano de mandato de Peter Siemsen no Fluminense, serão votadas nesta quinta-feira, nas Laranjeiras. Apesar da ampla maioria no Conselho Deliberativo, o ex-mandatário tricolor vai ter pela frente um grupo que promete fazer barulho e votar pela reprovação. Intitulado "Associação Nacional Tricolor de Coração", esta ala oposicionista alega que apenas uma maquiagem nas contas permitiu que o Flu fechasse o ano passado com um superávit de R$ 8 milhões.

Pelos cálculos defendidos por estes conselheiros, o número que representa o desempenho real financeiro do tricolor indica um déficit de R$ 72 milhões, que só foi turbinado graças aos recebimentos futuros referentes ao contrato com a Rede Globo. 

Estes conselheiros entendem que a inclusão das receitas de televisão (cujo contrato vigora a partir de 2019) fere as regras do Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro (Profut). Para os opositores, esta antecipação caracterizaria gestão temerária e poderia fazer com que o clube perdesse os benefícios da medida. A lei veda "antecipar ou comprometer receitas referentes a períodos posteriores ao término da gestão ou do mandato", mas abre uma brecha para um "percentual de até 30% das receitas referentes ao primeiro ano do mandato subsequente e "em substituição a passivos onerosos, desde que implique redução do nível de endividamento"

Este grupo defende ainda que a contabilidade "real" do Fluminense apontaria para um déficit anual acima de 20% da receita bruta apurada, o que também representaria gestão temerária aos olhos do Profut.

"Se você é uma empresa e tem recebíveis, você coloca como um ativo seu. O objetivo da lei era evitar que as administrações comprometessem receitas futuras. Se houver ofensa a este princípio, há ilegalidade. Se a gestão temerária for configurada, isso pode trazer problemas penais e cíveis para o administrador", disse o deputado federal Otavio Leite, relator do Profut.

"É legal, mas não é correto. Esse presidente não é o que será daqui a cinco anos. É um uso político, não gerencial, e todo mundo só quer fazer política aqui. Flamengo, Corinthians e Grêmio também lançaram esse dinheiro da televisão nos seus balanços, mas só o Flamengo não dependia dele para ser superavitário", opinou o especialista Amir Somoggi.

O UOL Esporte apurou que a atual diretoria tricolor está segura que o clube não ultrapassou o teto estipulado e que não há risco algum em relação à manutenção no Profut. À época da assinatura, Pedro Abad, atual presidente, presidia o Conselho Fiscal tricolor. Ele foi o escolhido por Peter Siemsen e seu grupo político para ser o candidato na eleição de novembro passado.

As vendas de Marlon (Barcelona) e Gerson (Roma) também causam controvérsia para parte dos conselheiros, em especial a negociação do meia com o clube italiano. As inclusões da venda nas demonstrações de 2015 e 2016 causaram estranheza, mas a cúpula da atual gestão defende a seguinte tese: em 2015 houve uma entrada de valores de uma operação bancária que antecipou a venda de Gerson, mas a receita foi colocada no balanço seguinte por ter sido o ano da ruptura do contato entre as partes.

São 300 conselheiros com direito a voto. Para que Siemsen tenha suas contas aprovadas, basta que a maioria simples vote a favor. O Conselho Fiscal já se mostrou favorável ao sinal verde. No entanto, o trio responsável pelo parecer enviado aos conselheiros deixou um alerta: "não se pretende, de nenhuma forma, mascarar a delicada situação administrativa, econômica e financeira deixada ao final de 2016".

Procurado, Pedro Abad informou que não se manifestaria antes da reunião desta noite. A reportagem procurou Peter Siemsen, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.