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Jucilei minimiza rusga com Tite e explica contratação: "ia bem contra o SP"

José Eduardo Martins

Do UOL, em São Paulo

09/06/2017 04h00

Em apenas quatro meses, Jucilei virou um dos jogadores mais importantes do São Paulo nesta temporada. Titular absoluto no time de Rogério Ceni, o volante é considerado um dos responsáveis por melhorar o desempenho do sistema defensivo tricolor - alvo de críticas no início de 2017 após uma sequência de 13 partidas sempre com gols sofridos.

Porém, para contratar o jogador, de 29 anos, a diretoria teve trabalho. Emprestado pelo Shandong Luneng, da China, até o fim do ano, o meio-campista já esteve na mira do São Paulo em outras oportunidades, mas só desta vez o negócio foi concretizado. A explicação para a obsessão dos dirigentes em repatriá-lo pode ser encontrada pelo seu retrospecto quando defendia o arquirrival Corinthians.

"Acho que porque na época do Corinthians sempre quando tinha os clássicos contra o São Paulo eu ia bem. Conseguia fazer gol, dar assistência, desarmava bastante... Então, acho que o São Paulo sempre teve um carinho especial por mim e tentou me contratar. E, desta vez, no começo do ano, deu certo", disse Jucilei, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Com o bom desempenho no São Paulo, Jucilei já pode sonhar com voos mais altos e a convocação para a seleção brasileira. O volante chegou a trabalhar com Tite no Corinthians. Antes de deixar o clube em 2011, porém, o jogador esbravejou ao ser substituído por Morais e até atirou o seu colete no chão durante o segundo tempo da partida contra o Mogi Mirim. Tal situação, segundo o atleta, não atrapalhou o relacionamento com o treinador.

"Quem gosta de ser substituído? Ninguém. Acredito que não [atrapalhe para ser convocado]. O Tite é muito coerente, um dos melhores treinadores do nosso Brasil. Acredito que não tenha nada a ver. Acredito que se o cara estiver bem aqui, ele vai levar. Então, eu vou procurar sempre fazer o meu melhor para ter a minha oportunidade", afirmou o volante.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista com Jucilei: 

Por que não foi convocado 

Fui convocado em 2010 com o Mano [Menezes] por duas vezes. Acredito que faltou mais oportunidade. Sempre questionei que todos os que foram convocados tiveram essa oportunidade de entrar pelo menos 45 minutos. E eu não. As duas vezes em que fui convocado só joguei cinco minutos. Em cinco minutos não tem como você mostrar nada. Acredito que faltou oportunidade para mim. Acredito no meu potencial. Sei onde eu posso chegar. E acredito na minha oportunidade na seleção brasileira. Acredito que vá chegar, ainda.

Sem arrependimento por ter jogado em países sem tradição no futebol

Passei por países que não têm muita visibilidade, mas eu não me arrependo. Sempre tive um objetivo que era fazer o meu pezinho de meia e poder ajudar os meus familiares, ter uma vida confortável. Então, eu não me arrependo de ter feito essas escolhas. Se fosse para fazer outra vezes, eu faria da mesma forma. E você tem visto aí, o Gil, o Renato Augusto e o Paulinho sendo convocados e jogando na China. Acredito que agora está acabando isso e as portas vão se abrir para Ucrânia, Rússia... Não vejo problema nisso. Quem joga, joga aqui ou em qualquer lugar e vai jogar na seleção.

(Nota da redação: Depois de sair do Corinthians, em 2011, Jucilei defendeu o Anzhi, da Rússia (2011 a 2013); o Al-Jazira, dos Emirados Árabes (2014 a 2015); e o Shandong Luneng, da China (2015 a 2016)).

Desmanche no Anzhi 

No primeiro ano em que cheguei, tiveram poucas contratações. Era mais o Roberto Carlos, mesmo. Depois, no segundo, o Suleyman Kerimov [magnata russo dono do time] veio forte e  foi contratando todo mundo, como o Willian e o Eto'o. E as melhores colocações que o time chegou foram a terceira colocação no Campeonato Russo, uma final na Copa da Rússia e as oitavas de final da Liga Europa. Suleyman é um cara que investiu alto em busca de um título e não foi possível. O desmanche aconteceu quando estavam faltando uns seis meses para eu sair. Não foi logo no começo. Ele resolveu vender todo mundo e eu fui o penúltimo a sair, eu acho. Ficou o Ewerton lá. Não sei por que teve esse desmanche, essa desistência, mas o time era muito bom.

Exterior ou ficar no São Paulo

Antes, a gente falava e faltava bastante tempo [para acabar o contrato com o São Paulo]. Agora, já posso dizer que faltam seis meses. Então, é um caso a se pensar. Eu tenho o desejo de ficar, porque estou muito feliz no São Paulo. Fui muito bem recebido por todos os jogadores, pela diretoria, pela comissão... Estou muito feliz, mesmo, minha família também. Meus filhos estão contentes aqui. Então, o desejo é de ficar, sim. Acredito que há possibilidade. 

Saída de jogadores para a Europa

Sim, [o São Paulo] perde muito. Mas se chegou proposta é o significado de que eles estão bem. Mas é claro que o elenco perde entrosamento. Até chegar outro entrosar e tudo mais... Perde um pouco, o time sente falta. Mas se for para o bem de todos, que faça e seja feliz.

Para sonhar com título São Paulo precisa de reforço

Precisa, claro que precisa. E o São Paulo sabe disso. E tem se movimentado. A chegada do Maicosuel vai ajudar. É um cara experiente, rodado. E acredito que o São Paulo vai contratar, sim, e essas peças que chegarão vão nos ajudar a alcançar o nosso objetivo.

Sem conversa sobre renovação

Não chegou nada até mim ainda. Vamos sentar e negociar. Para mim, não chegou nada.

Por que escolheu o São Paulo 

Eu escolhi o São Paulo pelo fato de eles terem me procurado e por sempre terem a vontade de me contratar. Desde 2014 que o São Paulo está tentando me contratar e nunca dava certo. Desta vez, deu certo. Então, eu tenho um carinho pelo São Paulo. E retribui esse carinho fazendo boas partidas também e ajudando o São Paulo. E também pela estrutura do São Paulo, pela grandeza que o São Paulo tem, um time que sempre briga por título. 

Ligação com a melhora da defesa do São Paulo

Eu procuro sempre fazer o meu melhor, dando contenção à defesa e procurando não tomar gol. Então, isso é importante. Acredito que sempre vou lutar, brigar para ajudar o São Paulo, em qualquer instância. Então, eu acredito muito que a equipe cresceu junto comigo, também, né. E eu cresci junto com a equipe. Acho que esse foi um ponto para a gente levar menos gols.

Relação com Rogério Ceni

A gente conversa muito. A relação é mais profissional, mas é um cara muito bom, que só soma. Muito inteligente, é um cara por quem eu tenho uma admiração grande por tudo que conquistou no futebol. 

Clássico com o Corinthians 

Não [é diferente jogar contra o Corinthians por ter jogado lá]. É um clássico, agora sou São Paulo. Defendo as cores do São Paulo e vou dar sempre o meu melhor aqui no São Paulo

Corinthians campeão da Libertadores e do Mundial

Torci pelos meus amigos. Faz parte. Futebol é assim. Naquele ano de 2010 a gente tinha um time que tinha tudo para ser campeão brasileiro e não deu, mas são escolhas. Como vou saber que eu vou sair e o time vai ser campeão de tudo? Faz parte da vida. Mas fiz uma escolha e não me arrependo. Era o meu pé de meia e fico feliz pelas minhas escolhas.

Características 

Eu me considero um bom marcador e tenho um ótimo passe. Então, facilita muito. Eu roubo e toco. De vez em quando, se tem um espaço, dou uma arrancada, faço um drible e dou um lançamento, mas procuro fazer o simples. E errar pouco. E, às vezes, o simples é mais difícil para alguns. E também tento sempre ir buscar o meu objetivo, que é ajudar a equipe.

Raridade no mercado 

São poucos [jogadores que sabem marcar e sair com a bola no pé], né. Geralmente, o cara que marca muito não sabe sair muito bem para o jogo. Então, também acho raro aqui no Brasil e até mesmo na Europa. Você vê jogador que é muito técnico jogando no meio e não sabe marcar. Às vezes, vê jogador no meio que marca muito, mas não sabe nem dar um passe daqui até ali. Então, acredito que são poucos, mesmo.

Redes sociais

Tenho mais cuidado. Senão já viu.

Nota da redação: em 2011, quando já estava no futebol russo, o jogador alegou que a sua conta no Twitter fora invadida por um hacker e publicada uma frase questionando a Gaviões da Fiel.