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Arsene Wenger: após 21 anos, o que o técnico ainda pode fazer no Arsenal?

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

10/06/2017 04h00

Quando Arsene Wenger assumiu o comando do Arsenal, Gabriel Jesus não tinha nascido, Neymar era uma criança de cinco anos e França e Espanha nunca tinham ganhado uma Copa do Mundo. Já são 21 anos no comando do time londrino. Com mais duas temporadas pela frente, após a polêmica renovação de contrato, muita gente ainda se pergunta o que o francês ainda pode fazer.

A resposta não é simples. Para Thierry Henry, campeão mundial com a França e maior estrela do melhor time que Wenger já montou (o Arsenal de 2003/2004 que não perdeu nenhum jogo na temporada), ele precisa conquistar o título da Premier League. "É o que o clube quer, a torcida, os jogadores e o próprio Arsene Wenger", disse o jogador em entrevista a um canal britânico.

Para Tony Adams, hoje técnico e um dos melhores zagueiros com quem Wenger já trabalhou, a permanência é negativa. “Quando eu me aposentei, ainda estava jogando em alto nível e todos no Arsenal ainda lembram de mim jogando bem. Eu odiaria ver Arsene Wenger deixando o Arsenal odiado pela torcida nos próximos dois anos depois de tudo o que ele fez pelo clube”, disse o ex-jogador ao The Times.

Em campo, o trabalho de Wenger nunca foi tão contestado. É verdade que em 21 anos ele conquistou 16 títulos, algo que nenhum outro treinador já tinha feito pelo Arsenal – e feito que o coloca entre os maiores treinadores da história do futebol inglês, seja ele nativo ou estrangeiro. A questão é que a maior parte dessas conquistas aconteceu nos primeiros dez anos da Era Arsene.

Entre 1996 e 2006, foram 11 títulos conquistados – três nacionais, quatro Copas da Inglaterra e quatro Supercopas. São quase 70% dos títulos na primeira metade de seu trabalho. Mais do que isso, o Arsenal enfrentou um período de nove anos sem nenhum título (2005 a 2014) e, apesar de cinco títulos nas últimas três temporadas, a conquista da Premier League e da Liga dos Campeões passou longe.

Para completar, quando o último Campeonato Inglês terminou, há algumas semanas, o Arsenal tinha ficado fora das quatro primeiras posições pela primeira vez desde que Wenger assumiu a equipe. A torcida fez campanha para sua saída, mas ele ficou. Ninguém sabe, porém, como o elenco vai reagir a isso.

Em 2004, o Arsenal era uma máquina com um meio-campo forte (liderado por Vieira) e um ataque mortal (com Henry). Hoje, a equipe tem talento (Ozil e Sanchez são alvo dos maiores clubes do planeta), mas está muito longe da consistência necessária para ser campeão de um torneio tão difícil quanto a Premier League.

Para mudar isso, ele diz estar trabalhando “24 horas por dia” (em declaração ao The Sun) para reforçar o elenco. Ele já foi visto no litoral francês para conversar com Kylian Mbappé, o jovem de 18 anos que encantou na Liga dos Campeões pelo Monaco, e abriu negociações (secretas, ainda segundo o The Sun) com o Lyon para a contratação de Alexandre Lacazette, único jogador a marcar mais gols do que Ibrahimovic no Campeonato Francês nos quatro anos do sueco no PSG.

Mbappé, porém, dificilmente chegará. Lacazette é uma possibilidade. Até agora, porém, a única contratação foi a de Kolasinac, um lateral esquerdo bósnio de 23 anos que ficou sem contrato com o Schalke, da Alemanha. Ele, aliás, é o retrato da era Wenger no mercado da bola: no lugar de grandes contratações, ele vai atrás de jovens promissores, que podem virar lucro futuro para o clube. O problema é que essa filosofia raramente chega acompanhada de conquistas esportivas – o Monaco é exceção, com a conquista do Campeonato Francês.

Essa filosofia agrada à direção do clube, que não precisa de tanto investimento e pode colher lucros com a venda de atletas. Mas desagrada aos próprios atletas: Ozil e Sanchez, por exemplo, adiaram suas renovações contratuais para saber quais as aspirações do time para as próximas temporadas. E, para manter os dois, Wenger e o Arsenal terão de aumentar os limites salariais estabelecidos.